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Big rider Alex Botelho processa WSL depois de quase morrer afogado em Nazaré

Por Andrew Lewis, da Outside USA

No dia 11 de fevereiro de 2020, o big rider português Alex Botelho quase morreu afogado após passar um grande sufoco durante o Nazaré Tow Surfing Challenge, competição de ondas grandes organizada pela WSL (World Surf League).

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Dois anos depois, Botelho resolveu entrar com uma ação contra a WSL, acusando a organização de ter tomado uma série de decisões que, segundo ele, resultaram em danos físicos, psicológicos e financeiros ao longo de sua vida.

O processo de 29 páginas foi apresentado no último dia 9 de fevereiro no Tribunal Superior do Condado de Los Angeles, na Califórnia (EUA), e alega que a WSL ignorou as preocupações de alguns competidores sobre o plano de segurança do evento, além de ter mentido para os surfistas sobre elementos críticos do plano. “Como resultado dessas deturpações e falhas de cuidado”, diz a denúncia, “[Botelho] foi deixado inconsciente na água por quase seis minutos antes de ser retirado do mar sem respirar”. 

O acidente aconteceu no final da competição, durante uma bateria que não estava prevista inicialmente. O cronograma original contava com quatro horas de duração, mas como as condições eram excepcionalmente favoráveis ​​– ondas gigantes e pouco vento – o gerente geral do Big Wave World Tour, Bill Sharp, outros funcionários da WSL e os 19 competidores concordaram em realizar mais duas disputas.

“Não estamos culpando a cidade de Nazaré, e não estamos culpando o pessoal de resgate, que estava lá e fez o melhor trabalho possível”, disse Neil Fraser, um dos advogados de Alex Botelho. “Foi apenas a WSL que deixou a bola cair.” Na última bateria, faltando apenas 30 minutos para o término do evento, o gerente de segurança da competição Scott Eggers foi à transmissão ao vivo destacar a importância da prova. “Esta é a prova de conceito para a WSL”, disse Eggers. “Até agora tudo bem.” Mas, alguns minutos depois, Botelho caiu numa onda e acabou engolido pela avalanche d’água.

A onda não era particularmente grande, pelo menos para Botelho, que havia se destacado algumas vezes no famoso pico da Praia do Norte, em Nazaré, que na última década produziu várias das maiores ondas já surfadas em todos os tempos. Botelho emergiu e foi colocado com segurança em um jet-ski por seu companheiro de equipe, Hugo Vau. Foi quando os problemas começaram.

Ao contrário da maioria dos locais de ondas grandes do mundo, Nazaré não possui um canal de águas profundas para o piloto de jet-ski poder acessar e voltar com segurança para o outside. Além disso, o pico também possui uma zona onde convergem violentamente duas seções de ondas separadas. Este foi precisamente o fenômeno que Vau enfrentou enquanto tentava tirar Botelho, que estava segurando o sled (prancha de resgate), para fora da zona de impacto. Depois que Vau foi pego entre duas ondas em colisão, ele, Botelho e seu jet foram lançados a cerca de 7 metros de altura. De acordo com a denúncia, Botelho caiu no sled, batendo a cabeça e perfurando um pulmão.

Inconsciente, ele imediatamente foi para debaixo d’água e acabou atingido por várias ondas durante cerca de seis minutos. Vau e outro piloto de jet-ski, o brasileiro Alemão de Maresias – que havia sido contratado pela WSL para patrulhar a zona de impacto durante todo o evento – tentaram freneticamente, mas não conseguiram resgatar Botelho. As ondas e a corrente acabaram empurrando Botelho perto o suficiente da costa para que os salva-vidas o agarrassem e o arrastassem para a praia. Ele não estava respirando e não tinha pulsação. Botelho disse ao site da Stab que quatro minutos se passaram antes que os salva-vidas conseguissem reanimá-lo. Naquela noite, em um hospital local, ele parou de respirar novamente e precisou ser entubado.

De acordo com a denúncia, Botelho passou a semana seguinte sob cuidados intensivos, com os pulmões infectados por terem sido inundados por tanta água do mar. Botelho encarou meses de fisioterapia para se recuperar de lesões que “o deixaram debilitado e incapaz de levar uma vida normal”, segundo a denúncia. O documento afirma que Botelho também “sofreu danos psicológicos em consequência do incidente da Nazaré, tem pesadelos de afogamento desde fevereiro de 2020, distúrbios do sono e do humor e um medo gradualmente dissipado de entrar novamente na água do oceano” – trauma que Botelho recebeu tratamento depois de receber alta do hospital.

O centro das acusações diz que Sharp, Eggers e outros réus não identificados ignoraram as preocupações de Botelho e outros surfistas sobre a adequação do plano de segurança do evento. O plano de segurança da WSL foi comunicado aos competidores nos meses que antecederam o evento e exigia que cada surfista tivesse um jet e piloto dedicados, um jet e piloto secundários para acompanhar a tripulação principal, além de salva-vidas de emergência na praia. 

Nazaré em um dia de ondas grandes. Foto: Hugo Silva/Red Bull Content Pool.

De acordo com Botelho, isso foi insatisfatório para ele e outros competidores. Antes do evento, Sharp enviou um e-mail aos surfistas informando que um nadador de resgate também estaria disponível como parte da equipe de emergência em terra. Botelho e os surfistas responderam que queriam o nadador de resgate posicionado em um jet adicional na água. Sharp e Eggers teriam então informado aos surfistas que a WSL contrataria o brasileiro Kalani Lattanzi, nadador experiente que pratica bodysurf em Nazaré. Lattanzi, diz o processo, “é amplamente aceito como provavelmente a única pessoa no mundo capaz de operar na zona de impacto da Nazaré como nadador de resgate, e certamente o melhor”.

Os advogados de Botelho disseram ter uma cópia do kit de informações do evento de outubro de 2019 que lista Lattanzi como o nadador oficial de segurança. Mas no dia do evento Lattanzi não estava lá. “Tendo falado com Kalani, ele disse que nunca foi contatado para ser o nadador de resgate naquela competição”, disse Fraser. “Foi um choque para ele quando Alex falou com ele e perguntou: ‘O que aconteceu? Por que você não estava lá?’ E Kalani disse: ‘Eu nunca fui contatado pela WSL.’”

Vários surfistas não assinaram inicialmente a renúncia de responsabilidade da WSL porque estavam preocupados que o plano de segurança fosse inadequado. Mas às vésperas do evento, Botelho assinou apesar de suas dúvidas. De acordo com Fraser, Botelho sentiu-se intimidado por causa de suas obrigações com os patrocinadores. Ele assinou o plano, em parte, “no entendimento de que Kalani estaria lá como nadador de resgate e as medidas de segurança estariam em vigor”, disse Fraser.

Não só Lattanzi não estava lá, mas também faltavam jets de apoio para cada equipe, disse Fraser. “Havia esquis de resgate na água”, esclareceu. “Mas eles não foram designados para nenhuma equipe em particular.” A denúncia também afirma que a WSL não deu a cada equipe três rádios com canais dedicados, como foi prometido. Em vez disso, “cada equipe recebeu dois rádios sem canais dedicados”, disse Fraser. “Então, houve conversas cruzadas o tempo todo.”

Em reposta à revista Outside USA, um porta-voz da WSL forneceu a seguinte declaração: “A saúde e a segurança dos atletas e de todos os associados aos nossos eventos em todo o mundo são nossa principal prioridade. Não podemos comentar sobre litígios em andamento, mas, em geral, estamos incrivelmente orgulhosos de nosso histórico de segurança no que é um esporte inerentemente perigoso e defenderemos vigorosamente a liga e os atletas que servimos”.

Documentos judiciais mostram que a WSL recebeu a denúncia no dia 17 de fevereiro, o que significa que a entidade agora tem 30 dias para responder, podendo admitir ou negar as alegações de Botelho ou iniciar várias contestações processuais. “Muitas vezes os tribunais tentarão forçar as partes a algum tipo de mediação para discutir se o assunto pode ou não ser resolvido sem julgamento”, disse James C. Carr, outro advogado do surfista. “Se isso não acontecer, as acusações caminham em direção a um julgamento.”

Por Andrew Lewis, da Outside USA

Matéria originalmente publicada na Outside USA.

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