Imagine uma gigantesca cúpula retrátil recobrindo uma praia artificial na qual quebravam ondas perfeitas geradas por uma máquina. Uma maravilha tecnológica, daquelas que podem ser cenário de um filme futurístico ainda hoje. Mas que na verdade já fazem parte do passado. Esse foi o sonho que se tornou realidade em Miyazaki, no sul do Japão, onde a Ocean Dome Seagaia foi majestosamente concebida e erguida pelo grupo Mitsubishi Heavy Industries (MHI).
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Revelada ao mundo em 1993, esta meca da diversão veio com um espantoso custo de construção de US$ 1,8 bilhão. Era um projeto ambicioso, uma tentativa ousada de oferecer a experiência de praia dentro de um ambiente controlado. Do ponto de vista do surf, ela se tornou uma das ondas mais icônicas já construídas pelo homem.
No entanto, a Dome foi ofuscada por sua triste queda financeira. Apesar de seu espetáculo inicial, esta maravilha da engenharia acabou falindo.
A inauguração foi um evento espetacular, com um concerto comemorando o Halloween de 1994 estrelado por ninguém menos que o vocalista de pop-rock, Sting. Além disso, Sting também emprestou seu rosto para os comerciais do resort, o que lhe rendeu uma generosa bolada.
Mas o que realmente destacava a Dome eram suas características únicas. Ela ostentava a maior piscina coberta do mundo, cuja abertura e fechamento podiam ser ajustados conforme o clima. Além disso, a cúpula possuía o maior teto retrátil do planeta, cobrindo todo o complexo, e equipamentos de ondas artificiais de última geração (até então).
Com tema polinésio, a Dome apresentava 12.000 metros quadrados de praia de areia fina, importada da China. Seu “oceano” artificial, seis vezes maior do que uma piscina olímpica, era uma obra de arte da engenharia, com 13.500 toneladas de água salgada clorada mantida a uma agradável temperatura de 28°C.
Mas o destaque absoluto era a máquina de ondas capaz de produzir 200 variações de ondas distintas, um feito que a colocou no Guinness World Records como a “maior piscina simulada”.
No entanto, o reconhecimento não foi suficiente para garantir o sucesso. A Dome enfrentou desafios financeiros desde o início. Para se manter, precisava atrair quase 15.000 visitantes por dia, enquanto os ingressos custavam tanto quanto um dia na Disney japonesa.
Localizada em uma das regiões mais pobres do Japão, ela carecia de apoio local. Mesmo em seu auge, no ano de 1995, recebeu apenas 1,25 milhão de visitantes, cerca de 3.500 por dia. Isso resultou em perdas financeiras anuais de cerca de US$ 250 milhões.
Em fevereiro de 2001, a Dome acumulava uma dívida massiva de quase US$ 4 bilhões. A crise financeira que se seguiu envolveu figuras proeminentes, como o empresário Muneyoshi Sato e o governador Suketaka Matsukata, cada um evitando a responsabilidade, e ninguém resolvendo nada.
Por outro lado, a Ocean Dome Seagaia também escreveu sua página na história do surf. Durante a década de 90, muitos surfistas profissionais buscaram suas ondas artificiais. Em 1994, o brasileiro Fabio Gouveia chegou a vencer uma etapa do mundial da ASP (antigo nome da WSL) nas ondas da Ocean Dome. Embora a Dome fosse considerada a melhor onda artificial da época, ela tinha suas limitações e não chega aos pés das tecnologias disponíveis hoje. Mas, para Gouveia e outros surfistas profissionais, foi um palco onde o surf se encontrou com a inovação, mesmo que por um breve momento.
Em uma reviravolta irônica, a Ripplewood Holdings, um fundo de private equity americano, comprou a Dome por uma fração do custo original, US$ 148 milhões. Investiram outros US$ 32 milhões em reformas, mas o resort continuou enfrentando dificuldades financeiras. O hotel finalmente fechou as portas em setembro de 2007.
Em 2017, a Dome foi demolida sem cerimônia, dando lugar ao luxuoso Phoenix Seagaia Resort. E hoje são poucos os que se lembram que essa visão do futuro um dia aconteceu.