Quando alguém como o surfista santista Rodrigo Sino decide contar histórias, você sabe que será intenso e empolgante, no mínimo. Recentemente ele foi entrevistado em um podcast que rendeu uma hora e vinte minutos de conversa, e foram muitas as histórias que ele contou acerca de suas vivências no surf.
Entre elas, teve a sessão em Nias durante o épico swell do Muzza [sobre o qual publicamos na HARDCORE #309]: “Quando eu estava no avião e vi quais eram os caras entrando; Brett Dorrington, Alex Gray, Antony Walsh, pensei, tô lascado, o bagulho vai estar grosso… Dei sorte, peguei umas quatro, cinco ondas; fiz capa do Surfline, capa da Fluir, página dupla da Surfar; fiz até filme inglês,” ele conta.
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E teve também uma folclórica, segundo ele mesmo, que foi a história do início da carreira do Gabriel Medina. Abaixo você assiste ao vídeo e a seguir lê o relato da entrada de Medina ao mundo do surf profissional:
“A história do Medina, é o seguinte: o padrasto dele tinha tentado fazer o Oscar de Souza, o Caixa D’Água, e o Gilmar Pulga. Nisso ele casou e o moleque cresceu, né. Ele sempre foi bom surfista, ele ia dar certo de qualquer jeito. Um tiozinho nosso aí pegou o moleque, botou um Banana Wax na borda dele por 300 dólares… Uma criança de 12, 13 anos, usando uma Beto Santos. Ele arrepiava. Não sei qual foi, nego cresceu o olho no moleque, para chegar nele era só pelo tiozinho; tiozinho fechou um bagulho que nunca teve no Brasil [eu nunca tinha ouvido], 1.500 dólares de salário para entrar em uma marca dirigida por Sávio Carneiro (na equipe); antes de entrar na Volcom ele já era Banana; ele ia para a Rusty e aí, no meio do caminho, rolou uma maletinha e aí coisou… O moleque já era descoberto; ele sempre foi bom, tanto é que quando ele entrou na marca e foi mandado embora da nossa marca, eu pedi pra ser mandado embora; pedi pra mandar eu embora, tal embora e tal embora, pegar nossos três salários e dar pro moleque, irmão. Daí o cara falou ‘Eu não vou pagar tantos pra um moleque de 16 anos; o que aconteceu? Entrou na Rip Curl, ganhou dois seis estrelas, entrou pro CT, melhor do mundo três vezes, só isso…”
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Assista abaixo ao corte do podcast que relata o início da história de Medina no surf profissional:
Em suas 22 temporadas de Havaí, Sino pegou muita onda e também vivenciou muito do mainstream do surf.
Ele contou da pior vaca de sua vida, em Waimea, 20 pés, quando tinha 21 anos: “Foi sinistro. Depois dessa, fiquei 7 ou 8 anos sem surfar onda grande. Eu estava surfando Pinballs; entrou uma bomba, remei nela e tomei a vaca: pingava de costas, de peito; não afundava, depois dei um over the falls, tomei a paulada, tô lá embaixo puxando a cordinha, chego na superfície d’água e ainda tem uma altura gigante de espuma para ultrapassar, bem maior que a altura da minha cabeça. Saí da água e fiquei uma hora chorando lá no raso, daí só fui surfar onda grande de novo com os meninos, o Haroldo Ambrósio e o Resende, parceiros, quando eles me levaram pra Jaws e peguei 30 pés de onda – que hoje em dia é pequeno, né.”
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Enfim, Sino prossegue e fala dos bastidores do dia em que Andy Irons virou sobre Slater em Pipeline nos instantes finais; que prefere Jaws mil vezes à Nazaré e que, inclusive, quer ver o Haroldo [Ambrósio] surfando Nazaré. Ele diz que não tem nenhuma vontade de surfar lá, no entanto, pode mudar de opinião caso ele veja o Haroldo surfando lá de um jeito diferente de todo mundo.
Em algum momento, surf na piscina de ondas surge na conversa: “Ele possibilitou ao surfista fazer / pensar sua linha. Fica boring, mas é interessante,” ele comenta.
Sino também fala de Filipe Toledo, a quem apadrinhou, e para ele, o dono do surf mais rápido. O santista lembrou do alley oop de Filipinho em J-Bay como um marco e, segundo ele, o título de Filipinho é questão de detalhe. “Uma hora vai vir,” anuncia.
No final, Robinson Patrício, um dos entrevistadores, lança a pergunta se ele acha o surf hipócrita e ele responde que o surf “é igual televisão e moda”.
“Surf é legal pra caralho, me deu tudo o que tenho, mas a ego trip, esse negócio de ter estilinho; sempre viajei no skate porque a galera se aplaude; tem muita picuinha no surf. Ao mesmo tempo em que é foda, é topetinho (eu chamo de topetinho); é egotrip, o povo não é unido. Na pista de skate, por exemplo, se um parafuso está fora do lugar, ninguém anda. Agora, o mar tá grande; entra um big rider, vai ter campeonato; o mar tá marola, entra um maroleiro; vai ter campeonato; por mais que tenha um consenso da galera, sempre tem um que pensa: ‘Eu me garanto ali, eu vou; não tá errado ele, não, mas prefiro pensar no coletivo; e nunca vi pouco ganhar de muito.”
Ele finaliza falando que algumas coisas mudaram quando ao comportamento egóico no surf, mas que, mesmo assim, as coisas no surf não são tão verdadeiras quanto no skate.
“Tem muito QI no surf. Nem sempre o melhor surfista tem o melhor patrocínio; muitos pretos não tem patrocínio e sempre surfaram melhor que nós. Nunca ganhei do meu parceiro Gilmar Silva, eu sempre tive os patrocínios e ele nunca teve os patrocínios foda.
Assista abaixo ao episódio abaixo na íntegra:
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