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Entenda a hipótese que pode explicar o maior avistamento de tubarões no Brasil recentemente

Recentemente, as notícias de encontros envolvendo humanos e tubarões nas praias do Brasil podem até estar mais frequentes. No entanto, pesquisadores e especialistas não relacionam esse fato a um maior número de animais na região, mas ao maior número de banhistas frequentando as praias por conta do relaxamento das restrições impostas na pandemia.

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Com o aumento das flexibilizações e número de pessoas adeptas ao ‘home office’ (trabalho de casa) o litoral brasileiro está mais cheio do que o normal. Da mesma forma que nunca se viu tanta baleia como em 2021, também aumentou o registro de afogamentos, cortes em pedras, acidentes com água-viva e outras questões.

Sabe-se que os tubarões estão por toda a costa brasileira. Por suas características predadoras, eles exploram todo o ambiente em que vivem e são fundamentais para o equilíbrio do ecossistema marinho.

Filhote de tubarão na praia do Atalaia em Fernando de Noronha – Foto: Shutterstock

A maioria das pessoas acredita que os tubarões não nadam perto da faixa de areia e não se aproximam dos banhistas no raso. No entanto, se os predadores estiverem no horário da caça e cardumes de outros peixes aparecerem na área, é possível que o encontro entre humanos e tubarões aconteça.

“Não estamos acostumados com a ideia de que tubarões enormes e potencialmente perigosos ficarem próximos a seres humanos”, constata Ronaldo Francini Filho, professor do Centro de Biologia Marinha da USP. Por isso, ele informa que os banhistas precisam estar atentos.

As espécies tigre, cabeça-chata e branco são das mais agressivas do mundo, sendo que os dois primeiros são responsáveis pelo maior número de incidentes com seres humanos.

No litoral do sudeste do Brasil, também vivem espécies de menor porte e que não oferecem risco ao ser humano, além do tigre e cabeça-chata. Já o tubarão branco é natural de locais com águas frias e, portanto, há poucos registros de sua passagem em praias brasileiras.

Confira algumas medidas para se proteger

  • Para se precaver, quando estiver na água não use objetos brilhantes, porque eles refletem a luz e os tubarões podem confundir o brilho com o das escamas de peixes
  • Evite águas usadas por pescadores. O tubarão sente o cheiro do odor das iscas
  • Nunca toque neles
  • Evite nadar sozinho, principalmente bem cedo e bem no fim de tarde
  • Evite águas contaminadas (ou em processo de contaminação) 
  • Evite entrar no mar se estiver sofrendo algum sangramento

Em 2022, alguns incidentes e avistamentos de tubarões aconteceram. Em 28 de janeiro, um tubarão-tigre se aproximou da faixa de areia e dos visitantes em Saquarema, no Rio de Janeiro. Especialistas estimam que o animal tinha cerca de 2,5 metros de comprimento e aproximadamente 200 quilos. Mas, não houve incidentes.

Nos dias 17 e 19 de janeiro, nas praias Vermelha do Sul e Ubatumirim, em Ubatuba, dois avistamentos aconteceram e foram confirmados pelo Instituto Agronauta. No dia 21 do mesmo mês, um tubarão-golfinho (Lamna nasus) apareceu morto na praia do Ubatumirim.

Segundo o instituto, o animal era uma fêmea com 2,06 metros e 60 quilos. A espécie raramente é avistada em zonas costeiras do litoral sudeste do brasil e faz parte do topo da cadeia alimentar, sendo, portanto, fundamental para o ecossistema marinho.

O oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do Instituto Argonauta, não descarta a possibilidade de que o animal morto seja o mesmo das outras aparições na região.

A praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE), também foi palco de dois incidentes em 2021 —um deles com morte.

Em novembro de 2021, Ubatuba foi palco de dois ataques de tubarão em menos de 15 dias. O primeiro, no dia 3, na praia do Lamberto e 11 dias depois na praia Grande.

Em 28 de janeiro, aconteceu o ataque mais recente de tubarão e repercutiu no Brasil todo. O caso foi na praia do Sueste, em Fernando de Noronha (PE). Uma menina de oito anos teve a perna amputada. O local encontra-se fechado por tempo indeterminado.

“A praia do Sueste é uma baía rasa com a água um pouco mais escura, então o turista chega perto do tubarão sem perceber, faz um movimento brusco e acaba sofrendo a agressão porque encostou no bicho”, explica Francini Filho.

Já Recife é um lugar onde incidentes com tubarões são comuns. Jonas Rodrigues, engenheiro de pesca e pesquisador de tubarões da UFRP (Universidade Federal Rural de Pernambuco), explicou para a Folha de S.Paulo que o local é uma zona de cópula para tubarões de maior porte e de espécies agressivas.

“Isso aumenta os níveis de testosterona dos animais e eles podem se tornar um pouco mais agressivos em determinados momentos e períodos”, diz.

Pesquisas feitas na UFRP indicam que a presença de tubarões na orla pernambucana pode estar associada, entre outros fatores, a alterações ambientais provocadas pela construção do porto de Suape, em Cabo Santo Agostinho. Um canal profundo que acompanha o contorno do litoral pode facilitar o deslocamento dos animais para perto das praias.

“Também há registros de um matadouro, uma área em que abatiam o gado e o sangue ia para o rio próximo à praia, em Boa Viagem. Então, há alguns exemplos clássicos de alteração costeira extrema. Alguns trabalhos especulam que havia um berçário de tubarões, onde as fêmeas encostam para dar à luz em épocas específicas do ano em áreas mais costeiras”, afirma Francini Filho.

No entanto, especialistas afirmam que o banho de mar é seguro, desde que respeitadas as regras locais.

“Os tubarões são animais sensíveis, vulneráveis e que precisam ser respeitados. Eles não são a máquina mortífera pintada pelo cinema”, resume Rodrigues.

“São animais que cada vez mais sofrem pressão pela degradação dos ambientes, pressão pesqueira e pelas características de sua biologia. Eles têm maturação sexual tardia, crescimento lento e vida longa. É importante que as pessoas entendam o grau de ameaça de extinção desses animais, saibam a sua importância deles no ambiente e aprendam a respeitá-los e protegê-los”, completa.

Espécies como o tubarão-lixa e o tubarão-limão, por exemplo, estão na lista de animais ameaçados de extinção, portanto a sua pesca é proibida.

“Os bichos estão no mar e sempre estiveram lá. Encontrar um animal deste é um privilégio, porque você estará vendo um bicho incrível e maravilhoso”, diz Francini Filho.

“Acho que temos que ficar atentos para situações em particular. Lugares em que acontecem ataques com mais frequência, como é o caso de Boa Viagem ou a praia do Sueste, em Fernando de Noronha, se for visto um tubarão, não entre na água. O ideal é ter cautela”, conclui.

Texto com informações da Folha de S.Paulo

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