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Igor Gouveia: A tempestade perfeita ou uma verdade incoveniente

Nosso colunista Igor Gouveia traz um balanço da temporada passada, a expectativa para 2019 e  os desafios que a WSL enfrentará para consolidar seu negócio

Por Igor Gouveia, em Mata Barata, HC #344

Igor Roichman Gouveia, colunista da HARDCOREO último ano foi um marco na história do surf mundial. O Brasil assumiu de vez o posto de maior potência do esporte. Nossos atletas dominaram praticamente todas as categorias, e, nessa lista, as vitórias foram tantas que é até fácil esquecer alguma conquista.

Gabriel Medina foi campeão mundial em terras havaianas pela segunda vez, agora com honras absolutas, se permitindo vencer também o sonhado título do Pipe Masters.

Jesse Mendes entrou na cena do título do Gabriel e fez uma temporada havaiana incrível. Depois de ficar ameaçado, conseguiu a reclassificação pelo WQS e de sobra levou a tão cortejada Triple Crown.

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Mateus Herdy, vice-campeão da etapa de Haleiwa, apareceu como um foguete e foi o campeão Pro Junior.

O domínio brasileiro do CT 2018 foi absoluto: vencemos 9 das 11 etapas. Italo Ferreira, que até então nunca vencera uma etapa do Circuito Mundial, levou logo três. Medina, que sempre engrena após Teahupo’o, também levou três. E Filipe ficou com mais duas, se firmando como o nome a ser batido em J-Bay.

Por fim, a vitória mais emocionante de todo ano foi do Willian Cardoso em Uluwatu. Foi um momento histórico, quando mostrou a todos que dedicação e força de vontade podem te levar longe. Panda nos deu uma aula de lições para a vida e deixou um exemplo a ser seguido.

Foi uma tempestade perfeita, e agora resta saber se deixou estragos por onde passou.

“Logo no início de 2018, parecia que ninguém estava entendendo qual era o critério de julgamento e, de uma bateria para outra, quesitos totalmente diferentes eram recompensados numa escala muito apertada.”

Esta última temporada concretizou-se como o ano com o maior número de baterias decididas por décimos e centésimos de pontos. Em inúmeras vezes vimos atletas, e não só os brasileiros, que se sentiram prejudicados com o julgamento – o Jordy Smith no fim de Pipe reclamou em seu Instagram que poderia ter se saído melhor no ranking se não fossem as inúmeras “close calls” ao longo do ano.

Logo no início de 2018, parecia que ninguém estava entendendo qual era o critério de julgamento e, de uma bateria para outra, quesitos totalmente diferentes eram recompensados numa escala muito apertada. Para a surpresa geral da nação, alguns queridinhos da WSL a maioria das vezes acabavam avançando sem entendermos muito bem o porquê.

Duas emblemáticas baterias jogaram luz nesse ponto em 2018: Yago Dora x Conner Coffin em Bells e Willian Cardoso x Mikey Wright em Keramas. Esses confrontos geraram uma avalanche de comentários negativos nas redes sociais da WSL, principalmente pelo tratamento dado ao queridão do ano, Mikey Wright, assim apelidad0 por Marcelo Andrade.

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Nunca antes na história desse esporte, ao menos sob a jurisdição da WSL, um convidado competiu praticamente o circuito inteiro como aconteceu com o Mikey – que quase tomou umas porradas de Jesse Mendes em Margaret River –, mesmo sem nenhuma explicação aparentemente republicana para tal convite.

Mikey entrou na primeira etapa do ano a convite de seu patrocinador, e aparentemente a 9ª colocação foi o suficiente para receber o wildcard de Margaret. Avançar a bateria e ter o campeonato paralisado em virtude dos tubarões nadando pela região foram motivos suficientes para ser convidado para correr em Saquarema. Depois de Mikey terminar a etapa em 3º lugar, abriu-se a porteira dos free pass, e o aussie foi convidado até já estar 100% classificado para a próxima temporada.

Não me levem a mal. O caçula dos irmãos Wright quebrou durante o ano. A questão é que em anos anteriores também tiveram atletas com wildcards que destruíram as etapas que participaram – como convidados. Yago em 2017 foi 3º no Rio Pro e, após perder de cara em Fiji, deixou de ser convidado, mesmo tendo mais pontos que Mikey ao fim de duas etapas. Enfim…

“Nunca antes na história desse esporte, ao menos sob a jurisdição da WSL, um convidado competiu praticamente o circuito inteiro como aconteceu com o Mikey Wright – que quase tomou umas porradas de Jesse Mendes em Margaret River –, mesmo sem nenhuma explicação aparentemente republicana para tal convite”.

Entre todas as patacoadas da entidade máxima do surf, a venda dos direitos de transmissão para o Facebook foi certamente o momento mais embaraçoso que vimos. A transmissão travava, e o aplicativo da WSL deixou, naquele momento, de não ter mais razão para existir, sem contar os números de visualização que evidentemente decepcionaram os espectadores mais assíduos. A adaptação à parceria fez a “empresa” divulgar várias notas para justificar as ações a ajustes, que seguiriam para melhor.

Dois mil e dezenove não será fácil para a WSL. É o ano de consolidação do projeto e será a “Hora H” quanto aos resultados. Os chefões precisam alinhar o momento do esporte com a saúde financeira e os interesses econômicos dos investidores. Os desafios são quase que homéricos, a dominação do esporte por um país que atravessa a pior crise socioeconômica e moral de sua história pode desestimular o interesse pelo esporte nas regiões de onde realmente vem o dinheiro. A piscina de onda, que foi a grande novidade em 2018, começa a ter forte concorrência com “produtos” mais baratos e às vezes até mais interessantes – alguns que cospem fumaça no melhor estilo Mad Max. O julgamento precisa ser totalmente renovado e modernizado, não ficar restrito à melhora apenas trocando o head judge. O mundo do surf precisa de maior previsibilidade nos critérios de avaliação da performance.

Todas essas questões precisam ser resolvidas neste ano, a WSL não pode empurrar para 2020, e tenho para mim que o sucesso nas Olimpíadas de certo modo depende de um futuro promissor de imediato.

Igor Gouveia é colunista da HARDCORE.
Siga: @igor_gouveia

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