25.7 C
Suva
sexta-feira, 22 novembro, 2024
25.7 C
Suva
sexta-feira, 22 novembro, 2024

Dono da WSL responde críticos: ‘não destruam sonhos de crianças’

Para quem não sabe, a World Surf League (WSL – Liga Mundial de Surf) tem um dono. Chama-se Dirk Ziff, é herdeiro de uma fortuna literalmente bilionária e resolveu, há alguns anos, usar seu dinheiro no surf profissional quando tomou o controle da então ASP (Association of Surfing Professional), em 2012, através do grupo ZoSea. É um dos principais responsáveis pelas mudanças na entidade desde então, do próprio nome até a adoção de uma etapa em ondas artificiais, entre muitas outras coisas – motivo pelo qual recebeu o prêmio de Waterman do Ano de 2018, no último sábado (4), entregue pela Associação de Indústrias Manufatureiras do Surf (SIMA, na sigla em inglês) em uma festa de gala em Laguna Beach, Califórnia.

Ziff raramente aparece em público ou concede entrevista, mas neste sábado, ele aproveitou a ocasião para deixar um recado a críticas que vêm recaindo sobre a WSL e que ele considera exageradas, em forma e conteúdo. São vozes que, em suas palavras, vão “muito além da crítica construtiva, que todos nós precisamos e que a WSL frequentemente merece, e chegam ao reino do ataque puro e imbecil, o que nós podemos concordar que já existe demais neste país”.

Em seu discurso, Ziff comentou outras coisas sobre o estado do surf profissional. Para ele, o atual formato de disputa é inviável e ultrapassado. Além disso, fãs devem se acostumar com a ideia de pagar para assistir – é algo que vai acontecer mais cedo ou mais tarde.

Confira abaixo um trecho:

“Alguns de vocês estão aqui. Jornalistas e outras vozes influentes que desabafam em mídias sociais. Eu me pergunto se alguns de vocês acordam todos os dias e tomam seu café da manhã pensando no que poderão escrever para humilhar a WSL. Vai muito além da crítica construtiva, que todos nós precisamos e que a WSL frequentemente merece, e chegam ao reino do ataque puro e imbecil, o que nós podemos concordar que já existe demais neste país

Tenho uma mensagem aos ‘haters’, e é muito simples. Sejam durões. Chamem-nos para a briga. Mantenham-nos honestos. Digam o que precisamos para melhorar.

Mas não finjam não saber que, quando vocês atravessam o limite da crítica construtiva e tentam cinicamente construir um sentimento negativo sobre a WSL, quando vocês tentam nos derrubar, vocês não estão nos atacando apenas. Vocês estão atacando Kelly Slater. Vocês estão tentando derrubar a Lakey Peterson. Estão atacando os sonhos de Caroline Marks e Griffin Colapinto. Estão destruindo as esperanças e os sonhos de toda criança que vive com sal no cabelo, sonhando em se tornar um campeão mundial.

E eu pergunto a vocês: por quê? Parece óbvio que se a WSL continuar crescendo em popularidade, e o surf tomar seu lugar entre os grandes esportes competitivos de elite, todos aquels conectados a nosso esporte, e certamente todos os membros da SIMA, irão prosperar, exceto talvez alguns locais rabugentos que terão que lidar com novos rostos no seu pico. Então… Por que não trabalharmos juntos?”

UM ANO CONTURBADO PARA A WSL

As contas da WSL não são abertas, mas estima-se que Ziff tenha arcado com prejuízos na casa das dezenas de milhões de dólares todos os anos desde 2013, garantindo a continuidade e a evolução do projeto da entidade para o surf competitivo em escala mundial.

As principais críticas recaem tanto sobre a necessidade de se fazer essa “boa ação” com dinheiro do próprio bolso – sinal de que os negócios não estão saudáveis – quanto sobre algumas das soluções buscadas pela WSL, como trazer profissionais bem sucedidos de outras franquias esportivas (a atual CEO, Sophie Goldschmidt, por exemplo), que não têm o conhecimento nem o feeling da comunidade do surf, para gerir o negócio.

A recusa do município de Honolulu em atender uma demanda extraordinária da WSL – a troca de um evento do Volcom Pipe Pro, um evento de três estrelas do QS, por uma segunda edição do Pipe Masters, na mesma temporada de inverno – e o consequente adiamento* de toda uma mudança no calendário e no formato de disputa do Circuito Mundial, que já haviam sido anunciados previamente, foram o estopim de uma série de críticas em um tom mais exaltado.

Sophie Goldschmidt havia recorrido a um jornal local para publicar uma ameaça velada de que a WSL retiraria todos seus eventos do arquipélago – do CT e QS masculinos e femininos, Junior, de ondas grandes e longboard -, o que gerou um atrito sem precedentes entre a gestão do surf profissional e os políticos do Havaí.

Um intenso lobby da WSL junto à comunidade local – surfistas, comerciantes, políticos – conseguiu que a situação fosse praticamente contornada sem os grandes prejuízos que se anunciavam, com uma série de mudanças anunciada pelo órgão que organiza as permissões a eventos nas praias da ilha de Oahu. Mas isso foi depois de um ano já longo e conturbado.

O cancelamento da etapa de Maragaret River devido à ameaça de ataques de tubarão, mas, principalmente, às manifestações públicas dos brasileiros Ítalo Ferreira e Gabriel Medina, foi bastante controverso e despertou uma indisposição até hoje não resolvida com a comunidade local do oeste australiano – principalmente os órgãos de fomento ao turismo local, principais patrocinadores do evento.

O início das transmissões exclusivas via Facebook, com uma série de falhas e mudanças inesperadas, trouxe uma nova onda de críticas à WSL e criou uma outra situação que não foi bem resolvida e com a qual a entidade ainda está descobrindo a melhor maneira de lidar.

O surf profissional está num momento de transição, para algo que ainda não sabemos exatamente o que é – nem mesmo o formato do circuito nos próximos anos. São vários fatores em jogo: o acerto de novos negócios pela WSL, o sucesso dos jogos olímpicos, a recuperação financeira de marcas envolvidas com o mercado tradicional do segmento e até mesmo a possível entrada – ou saída – de novos jogadores no mercado.

Talvez Dirk Ziff tenha razão em apontar críticas cínicas e despropositadas. Mas agora é o momento, mais do que nunca, de quem está fora se fazer ouvir para que coisas que já são boas e que já funcionam no circuito não se percam numa onda de mudanças cuja direção ninguém sabe ao certo.

Texto: Fernando Maluf
Imagens: WSL/Divulgação

* A WSL ainda não confirmou o calendário de 2019

Receba nossas Notícias no seu Email

Últimas Notícias