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Seis homens e um caneco: análise de Julio Adler

Por Julio Adler

Foto de abertura: Trevor Moran

* Texto publicado na HARDCORE #313, edição de dezembro, que traz as primeiras imagens da temporada havaiana 


Nada indicava que a corrida ao título mundial de 2015 seria tão interessante. Todas as previsões foram por água abaixo, etapa atrás de etapa, teimando em discordar da lógica.
E a lógica, entendam, é, desde o ano passado, Gabriel Medina. Quem, em sã consciência, não aposta em Medina? Por outro lado, Toledo tem três vitórias na temporada, igualzinho ao Medina em 2014. Nessa altura do campeonato, Mineiro, o mais experiente dos brasileiros, tem a consistência e o foco de chegar na última etapa sem distrações. Fanning lidera, Owen e Julian aproximam-se e a tensão cresce a cada instante. Vejamos como algumas baterias poderiam ter decidido os rumos da disputa antes de chegarmos em dezembro.
313-disputa6 O Campeão nunca foi a nenhum lugar. Desde a primeira bateria do ano, Medina estava ainda melhor do que em dezembro do ano passado. Não perdeu uma única bateria na temporada sem lutar até o minuto final e com plenas chances de virar o resultado. Em algumas delas, Fiji, J-Bay e Trestles, poderia ter vencido sem prejuízo ao adversário. A sequência de boas colocações, iniciada em J-Bay, lembrou os melhores momentos de Slater e Andy Irons no auge. Surfistas como Medina apimentam qualquer disputa. Por ter conquistado seu título em Pipe em 2014, a pressão é um sentimento familiar agora. Ponto alto – Um 5º, um 3º, um 2º e um 1º, seguidos e em toda sorte de condição. A mensagem foi enviada, candidatos existem muitos, mas o campeão é ele. O surfista mais perigoso e eficiente do planeta. Ponto Baixo – Não teve chance de responder ao Jay Davies numa bateria em The Box. Pode apostar que não acontecerá novamente. Duas interferências na temporada, desnecessárias.

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Depois de ter tido um ano pra esquecer em 2014, Owen foi responsável pelo momento mais espetacular da temporada em Fiji. Era difícil imaginar um cenário da metade do ano pra frente sem ele como favorito, mas tudo não passou de um rasgo de genialidade, como já tinha acontecido em Nova Iorque, em 2011. Tem uma condição igual ao Julian para poder sonhar com o título, ganhar o evento e torcer para todos perderem na primeira fase. Melhor começar a pensar em 2016. Ponto alto – 20 pontos em Fiji e um desempenho que ficará para sempre na memória do surf profissional. Ponto Baixo – Não teve culpa na pior decisão do ano, quando Travis Logie (sabe Deus por quê!?) resolveu colocar duas baterias na água, em Peniche. Em Trestles, foi ingênuo, quase bobo, reclamando das regras contra Nat Young, depois de fazer apenas uma nota 6 e passar toda bateria boiando. Erro primário, proibido aos candidatos ao título.

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Talvez por um golpe de sorte não esteja entre os dois primeiros do ranking chegando no Hawaii. Explico: só os dois primeiros enfrentarão, possivelmente, os dois convidados do Pipe Masters, ou seja, dois especialistas na onda. Mineiro e Medina, 3º e 4º, escapam dessa armadilha – ou não… Adriano tem sido cirúrgico nessa temporada, construindo sua campanha com resultados em cima de resultados, quase tranquilamente. Ninguém estuda o jogo como Adriano. Percebeu que não deveria mais investir energia em vídeos e rede social como fazia antes, contratou Leandro Breda como aliado para seu time e acumulou pontos suficientes para atingir seu sonho. Tem treinado firme em Pipe nos últimos anos, antecipando esse momento mágico da carreira. Mineiro não espera nada de ninguém, vai e faz. Minha torcida é por ele nesse ano. Ponto alto – Bateu Florence em ondas decentes, bateu Fanning na casa dele e, simplesmente, atropelou Taj e Slater no iní- cio da temporada. Também conseguiu ganhar do surfista mais em forma de 2015, Filipe Toledo, na marola. Ponto Baixo – Assim como Fanning, Mineiro não teve nenhuma derrota na segunda fase. Mas as oportunidades perdidas diante dos wildcards custaram caro, Reynolds em Fiji, Bruninho no Tahiti e Vasco em Peniche.

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Dos seis candidatos, Julian é o que mais desperdiçou chances. Foram três finais, claro que uma delas não conta, J-Bay e a quase tragédia do dentuço. Sempre derrotado com notas muito abaixo do esperado, Julian conseguiu perder pro Miguel em Trestles com um total de 4,8 e mais de uma vez terminou as baterias com somatório inferior aos dois dígitos. Não dá para esperar que um camarada tão inconsistente faça milagre no Pipe Masters – isso já foi feito no ano passado e o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Ponto alto – Bravura na final em Jeffrey’s ao remar em direção ao tubarão para salvar o amigo e os 19,43 na primeira bateria da quarta fase em Fiji, colocando Taj e Kelly sentados no banco de trás da Kombi. Ponto Baixo – Além da derrota humilhante para Pupo, perder na semifinal na França, para Bede, foi um tiro no pé. A chance de repetir a final de 2011 foi pelo ralo.

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Poderia estar comemorando o título se conseguisse controlar melhor as emoções. Por outro lado, se tivesse essa frieza, não seria um dos surfistas mais celebrados do mundo, atualmente. O que nos aproxima do Filipe são os seus erros. Não foram poucos em 2015 – quase tantos quanto os acertos. Uma média invejável. Três vitórias incontestáveis no WCT, sem mencionar o campeonato de Trestles do WQS – ou seja lá como o chamam agora. Derrotas duras, chuva de críticas e um aprendizado para a vida. Seu pai, Ricardinho, vive escrevendo nas redes sociais que Filipe tem apenas 19 anos e ainda tem muito o que aprender no Tour. Em Portugal, Filipe mostrou que aprende rápido e não tem a menor vergonha de repetir a fórmula em ondas maiores do que nas outras duas vitórias. Vem de uma quartas de final em Pipe em 2014, deixando Owen pelo caminho, que está aberto. Ponto alto – Steve Shearer escreveu, em março desse ano, que Filipe Toledo é o melhor surfista do mundo em ondas abaixo de 1 metro. São três Vitórias – assim mesmo, com V maiúsculo – em 10 eventos, e uma penca de notas máximas. Ponto Baixo – Quase perdeu para o local em Fiji, Aca Ravulo. Errou ao se deixar intimidar pelo excelente começo do Ítalo, em Teahupo’o, e esperou demasiado – sequer pegou uma onda. Precisa tirar essa mancha da camiseta de competição.

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Erra muito pouco, é a primeira frase que me vem à cabeça. Enfrentou um tubarão no braço, a melhor história do surf profissional de sempre! Não se abala com nada. Aprendeu a conviver com a pressão e fazer os sacrifícios necessários para ganhar títulos. Nos últimos 10 anos, Fanning só ficou fora dos três primeiros colocados duas vezes, um número impressionante. Capaz de se superar em qualquer condição. Não tem o melhor retrospecto em Pipe, mas ganhou dois canecos dependendo de resultados ali. Deve pegar, logo de cara, um especialista tipo Jamie O’Brien, Bruce Irons ou qualquer outro casca-grossa desse calibre, o que torna as coisas sempre mais difíceis. Nenhum dos outros candidatos tem tanta intimidade com a absurda pressão da disputa em Pipe. Pode igualar Mark Richards com um quarto título mundial. Ponto alto – Soco na fuça do dentuço (tubarão). Repetição + eficiência. Não dobra sob pressão, ainda, pelo contrário, cresce… Ponto Baixo – Sequência de resultados abaixo do esperado depois da vitória em Bells, um 13º e dois 9os quase arruinaram seus planos para título em 2015. Pipeline.

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