O site americano Inertia publicou hoje uma matéria anunciando que a gigante de equipamentos esportivos Oakley é a mais recente marca a oferecer no mercado um capacete específico para surfistas que buscam proteção ao surfar as ondas mais perigosas do planeta. Com isso o uso de capacetes ganha força. “O WTR Icon foi projetado para absorver impacto, dispersar energia e reduzir traumatismos contundentes, e o revestimento externo é feito de um material ultraleve, mas tão resistente quanto um prego de metal, chamado Acrilonitrila Butadieno Estireno (ABS)”.
Segundo a Oakley, pesando menos de 365 gramas, é um dos capacetes de surf mais leves do mercado. Testado no Laboratório de Capacetes da Virginia Tech, foi classificado com 4 estrelas, numa escala que vai até 5. A instituição opera um sistema independente, baseado em mais de 15 anos de pesquisa sobre impactos na cabeça em vários esportes e na identificação de quais capacetes melhor reduzem o risco de concussão. Foi um protótipo deste modelo que Caity Simmers usou nas baterias que a levaram à sua retumbante vitória no Pipeline Pro em fevereiro passado. O capacete deverá ser disponibilizado ao público até novembro.
Após o acidente de João Chianca em Backdoor, no Havaí, que quase tirou a vida do brasileiro, mais uma vez a questão ficou no ar. Por que ele, e todos os demais surfistas na água naquele dia, não estavam usando capacetes? Não seria do interesse geral que, ao menos em determinados picos, aqueles com alto risco de acidentes graves, nos dias mais perigosos, os salva-vidas postassem placas na areia avisando a obrigatoriedade do uso de capacetes? “Ah, mas isso cercearia a liberdade de escolha dos surfistas, algo inerente ao estilo de vida de quem sabe os riscos que o mar oferece”, dirão muitos.
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Sim, talvez fosse um exagero fazer disso uma imposição, especialmente em sessões de surf livre, fora das competições. Mas talvez coubesse a WSL dar o exemplo – a Olimpíada de Paris 2024 perdeu essa oportunidade – determinando que em ondas como Pipeline e Teahupo’o, durante seus eventos, fosse exigido que todos participantes sufassem encapacetados. Já pensou um piloto de Fórmula 1 acelerando a 300 km/h na direção da próxima curva sem ter sua cabeça devidamente protegida? É mais ou menos o que fazem os surfistas em dias de ondas extremas. É verdadeiramente incrível que nenhum acidente mortal tenha sido registrado até hoje.
A verdade é que capacetes já salvaram muitas vidas no surf. Um dos casos mais recentes foi o do acidente sofrido por Kai Lenny em Pipeline, durante uma bateria do Backdoor Shootout, que rachou seu capacete ao meio. Sem ele, Kai dificilmente haveria sobrevivido para contar a história, defendendo o uso de proteção para cabeça como algo que deveria ser incorporado à rotina de qualquer surfista que deseje se arriscar em ondas de consequência.
Capacetes estão disponíveis há décadas, mas sua popularização só se deu recentemente. Tratados com preconceito, como se os surfistas utilizando capacetes estivesse atestando seu medo ou incapacidade ao usá-los, não era um equipamento bem visto. Nem o fato de ícones de Pipeline, como o australiano Tom Carroll e Liam McNamara, terem feito essa opção anos atrás, convencia muita gente. E havia a questão do incômodo causado também, já que os primeiros modelos oferecidos ainda tinham muito a evoluir em termos de design e materiais utilizados.
Com o tempo, outros nomes de peso passaram a fazer parte dessa lista de usuários de capacetes, como Owen Wright, Albee Layer, Billy Kemper, Kai Lenny, Jamie Mitchell, India Robinson, Nikki Van Dijk, Tyler Wright, Natxo Gonzalez, Koa Rothman, Becca Speak, Greg Long, Sterling Spencer, Yolanda Hopkins, Ross Williams e Jack Robinson. O que todos tinham em comum? Além de serem surfistas de elite, eles sofreram concussões enquanto surfavam em ondas que causaram vários graus de trauma cerebral.
À medida que o número de acidentes sérios foram crescendo, um movimento orgânico foi iniciado para que capacetes passassem a ser adotados com muito mais frequência. No Pipeline Pro deste ano, um quarto dos atletas usava capacete, e essa proporção ultrapassou os 50% no em Teahupo’o durante a etapa deste do CT e no recente evento olímpico.
A entrada da Oakley para valer nesse mercado, que já conta com marcas renomadas como a pioneira Gath e outras, é um bom sinal. Mostra que a preocupação com a segurança no surf está ganhando cada vez mais força. À medida que surfistas profissionais e marcas passam a defender o uso de capacetes, o preconceito em relação a este importante equipamento tende a diminuir, deixando mais gente realmente preparada para se arriscar no tubo da vida.