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Surf Talks #6: depois da piscina, cheiro de tri-mundial no ar

O que foi bom na piscina de ondas? E o que foi ruim? Por que a onda pode mudar ao longo do dia? E o que faltou para 98% dos tops da elite? Confira no Surf Talks #6

Por Dadá Souza

Oito das 11 etapas do circuito já ficaram para trás. Ítalo Ferreira venceu na Gold Coast; John John em Bells; Kanoa Igarashi em Keramas; John Florence em Margaret River; Filipe Toledo em Saquarema; Gabriel Medina em J-Bay, Owen Wright em Teahupo’o e Gabriel Medina novamente em Lemoore. Com seis vencedores diferentes, essa corrida pelo título de 2019 promete ser acirrada até a última onda, mas não duvidem que o Gabriel Medina possa resolver essa antes mesmo de chegar no Hawaii.

Depois de assistir duas etapas em ondas poderosas, desafiadoras e selvagens (J-Bay e Teahupo’o), assistimos um campeonato em um tanque de ondas artificiais. Para uns foi o clímax e o anticlímax do circuito, para outros uma novidade interessantíssima de se assistir. Uns pedem o fim da etapa, outros querem ver mais piscinas no tour. Os dois primeiros dias de competição deixaram bem claro que o evento é tedioso. O último dia deixou claro que o campeonato não é tedioso ou lá tão previsível. Se a etapa continua no tour? Existem rumores, teorias e apostas, mas ninguém sabe de nada.

O que foi legal na etapa da piscina

Com ondas iguais para todos, as disputas definitivamente ficam mais justas. Nas outras etapas você até pode ter sorte, no Surf Ranch não. A onda e o formato são cruelmente justos e os defeitos e qualidades dos surfistas são muito mais facilmente observados. Dá para ver nitidamente quem tem grandes manobras e quem não tem, quem precisa bater prancha e quem não precisa. Essa definitivamente não é uma onda que nivela por baixo e os melhores surfistas são mais justamente recompensados.

A onda é perfeita. Sempre perfeita. Varia um pouco com o vento, mas toda onda tem um bom tamanho, tem paredes lisas, sessões de tubo e de manobras e oferece força, velocidade e algumas boas rampas para as manobras aéreas. Da primeira à última onda do dia. E não é só a onda que é boa, o surf também é muito bom. Quem estava preparado, treinado e confiante conseguiu mostrar um nível de surf realmente excelente.

A etapa é toda programada e cronometrada, não tem day-offs nem adiamentos, o evento é mais curto, mais fácil de acompanhar e isso facilita muito as transmissões de tv e via web. Sem falar que o local oferece inúmeros ângulos para as câmeras e uma estrutura muito boa para todos que trabalham com o esporte. A arena, em si, é perfeita para esse novo momento do surf mundial.

As ondas artificiais estão mostrando ao mundo, e principalmente ao Comitê Olímpico Internacional, que são uma excelente alternativa para as Olimpíadas e que podem ser espalhadas pelo mundo todo, para a alegria de crianças, jovens, adultos e idosos de todo o planeta e para o crescimento do esporte.

 

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No segundo dia de #FreshwaterPro, @filipetoledo confirmou a tese geral: ele é o único capaz de fazer frente a @gabrielmedina no tanque do Surf Ranch. Ele tem a melhor nota do campeonato, mas Medina tem a melhor combinação dir.+esq. Com público presente e com as primeiras eliminações, o campeonato foi menos monótono que na abertura. @owright, @williancardoso e @jordysmith88 foram outros destaques entre os homens. @rissmoore10 foi a melhor das mulheres no dia, mas a liderança segue com @johannedefay. Na resenha do segundo dia, também discutimos a repercussão de nossas acusações de que o primeiro dia foi um tédio que só. Existe um mérito que ninguém pode tirar da etapa de Lemoore: ela dá pano pra manga que não acaba mais. Mas não é o único. Confirma em hardcore.com.br nossa cobertura na íntegra e participe do debate sobre o CT de água doce! ? @wsl / @kc80 / @caitmiersphotography / @jackson_vankirk #surfranch #wsl #ondasartificiais #piscinadeondas #wavepool #ranchodotiokelly

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Os pontos negativos da piscina

Uma etapa com um formato tão diferente em meio a um circuito tão padronizado parece forçado demais. Aliás, não parece. O Surf Ranch foi nitidamente uma etapa forçada goela abaixo. Para quem não lembra, Slater declarou que patrocinaria a etapa de Fiji por três anos (com sua marca Outer Known), patrocinou um, cancelou as outras etapas e carregou o circo todo para fazer a festa na sua piscina particular, tudo para tentar vender, em parceria com a WSL, sua piscina para as Olimpíadas. Claro que o potencial das ondas artificiais é enorme. É lógico que veremos campeonatos e circuitos muito legais em ondas artificiais. Sem falar no treino funcional que encurta drasticamente o tempo de aprendizado de um surfista, mas o surf é muito mais do que uma onda e essa etapa do Kelly ainda me parece fora de sintonia com o resto do circuito por conta do capricho dos “donos” do esporte.

Na etapa que não falta onda, faltaram ondas. A maioria dos atletas reclamou que as ondas são difíceis e que eles não tiveram tempo suficiente para treinar e se adaptar. E convenhamos, competir sem ter como treinar antes das baterias e sem testar abordagens e equipamentos é algo que dificultou a vida dos surfistas e que comprometeu o desempenho dos competidores e do evento como um todo. Uma esquerda e uma direita de treino por dia foi muito pouco.

Com tão poucas ondas para fazer duas notas excelentes, a preocupação com as quedas ficou explícita no surf da maioria dos competidores e muita gente mostrou um surf feio, repetitivo e burocrático. Foi como se as ondas mecânicas tornassem os surfistas igualmente mecânicos. Foram raros os competidores que conseguiram surfar com fluidez e arriscar manobras mais expressivas.

Ver o surf em um cenário tão artificial e tão cercado por máquinas, muros, cercas e de concreto cinza parece mais uma antítese do esporte do que o nosso esporte. A desconstrução da história, dos valores, da proposta e do ideal do surf como o conhecemos ali é drástica. Tudo em nome de um mercado.

Não existe surpresas nessa etapa e o fato de tudo ser tão previsível matou as expectativas e muito do interesse pelo evento. Todo mundo sabe quem são os melhores surfistas nessa onda, todo mundo sabe que vai dar onda e como serão todas as ondas e todo mundo sabe como o evento todo irá acontecer, sabe quem irá vencer e quem não conseguirá se dar bem.

Em ondas tão iguais, o julgamento deveria ser menos objetivo e mais generoso com quem faz um surf de maior dificuldade técnica e com quem arrisca mais em suas manobras, mas até mesmo na piscina, com suas ondas todas iguais, vemos surfistas que arriscam tudo em uma linha mais progressiva ganhar a mesma nota (ou quase a mesma nota) do que surfistas que apostam no basicão base-lip sem lá muito risco.

Em tempos de preocupação com o clima, a etapa esbanja duas das coisas mais deveríamos estar poupando: água e energia.

Notas, Rumores e Reflexões

• As ondas perfeitas e extremamente longas do Surf Ranch inacreditavelmente foram um problema para a maioria dos surfistas da elite. 100% deles sabia que nessa etapa as ondas são longas a ponto de queimar as pernas, e 98% deles sofreu brutalmente por falta de força/preparo nas pernas. Foram derrotados mais pela onda do que por seus adversários. Faltou treino?

• O clima tórrido e desértico de Lemoore exigiu bastante dos surfistas. Quase todos os atletas saíram da agua exaustos e com dificuldade de falar e de respirar. As entrevistas mostraram super-competidores em completa fadiga. O Surf Ranch enquanto protótipo foi muito mais do que bem-sucedido, mas enquanto destino turístico e palco de eventos?

• Na transmissão via web disseram que a temperatura do deserto chega fácil aos 45º, que a água do lago vai evaporando ao longo do dia, ocasionando uma pequena variação que afetaria na formação das ondas. Teríamos uma pequena variação de “maré” no Surf Ranch?

• Depois de alguns anos essa onda já não deveria ter um upgrade que a deixasse mais interessante e com manobras menos previsíveis?

DOZE HOMENS E UM CIRCUITO

Caio Ibelli vem sendo um dos melhores tuberiders do ano até o momento e mostrou que merece um lugar na elite, mas precisa mostrar mais do que tem mostrado até o momento. Principalmente no jogo aéreo. Não deve ter problemas para se classificar pelo CT.

Deivid Silva mostrou muito comprometimento nas ondas mais difíceis do tour é um excelente competidor, mas ainda precisa mostrar que merece continuar na elite. Aposto em uma classificação pelo CT. 

Filipe Toledo tem uma grande chance de ser campeão mundial em 2019, mas vai precisar ligar o turbo na perna europeia e vai precisar se dar bem no Hawaii. Seu principal adversário já entrou na reta final com boa vantagem. #Go77

Gabriel Medina é um surfista frio, confiante, completo, sólido, ousado, potente e imprevisível, que ganha mais do que perde.  Disputar um campeonato com um cara que faz finais como quem toma um café da manhã não será nada fácil para seus adversários. Tem ainda algumas vantagens sobre seus oponentes: sua força mental é sólida, seu aprendizado é rápido e ele tem um técnico obstinado em casa. O Medina e o Charlão são como o Pink e o Cérebro que dominaram o mundo. #3xWorldChampSoon 

Italo Ferreira é nitroglicerina pura. Ou seria cafeína pura? Seu surf é explosivo e selvagem e suas performances são inspiradoras, mas a consistência tem sido seu ponto fraco. Há quase que uma bipolaridade em seu surf. Ele vai bem em uma etapa e vai mal na outra, vai bem numa etapa, vai mal na outra. É o atual 5º do circuito. Dois bons resultados podem colocá-lo na briga direta pelo caneco em Pipe. 

Jadson André vem surfando bem demais, está mais maduro e mais tranquilo. Não acredito que ele consiga se classificar pelo CT, mas sua vida está tranquila, já que é o líder do QS e já tem sua classificação garantida para 2020.

Jesse Mendes é um dos caras que merece um lugar na elite, mas que não está conseguindo mostrar todo o seu potencial, talvez pela pressão que ele mesmo se imponha, talvez pela má vontade de um julgamento muitas vezes cruel. Sua classificação não será fácil, mas não é nada impossível. Talvez um pouco de pressão lhe faça bem. 

Michael Rodrigues às vezes parece ansioso, às vezes afobado. Talento é lógico que não lhe falta, mas na arena dos leões todo gladiador precisa ser esperto. Se as próximas etapas acontecerem em ondas pequenas, MR tem boas chances de se classificar pelo CT. 

Peterson Crisanto mostrou muita atitude em ondas de consequência e está lutando forte para continuar na elite. O garoto de Matinhos está mais maduro e sabe competir, mas ainda precisa mostrar mais ousadia em suas manobras.

Willian Cardoso teoricamente não está no mesmo nível das principais estrelas do circuito, mas na prática o Panda já mostrou que também é fera e que arranca seus adversários do caminho à força. 

Yago Dora ainda precisa de um pouco de “sangue nos olhos”, mas seu surfe é brilhante e merece ficar na elite. Um bom resultado na Europa pode facilitar bastante a sua vida.

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