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Surf Talks #4: tentando entender o julgamento da WSL em 2019

No Surf Talks #4, nosso colunista Dadá Souza reflete sobre as performances brasileiras e as inconsistências do julgamento nas 4 primeiras etapas do ano na WSL

Por Dadá Souza

A WSL finalizou o terço do circuito dedicado aos australianos e seus playgrounds favoritos. Foram três etapas na Austrália, mais uma em Bali (que fica ali ao lado). Todas elas em ondas para a direita. Mesmo com essa  “ajudinha”, nenhum australiano chegou às finais dos eventos dessa perna australiana. O melhor aussie no ranking é Ryan Callinan (7º). O próximo é Julian Wilson (13º).

As ondas parecem não estar colaborando muito com a WSL. A primeira etapa foi toda na merreca. Metade do evento de Bells foi merreca, e em Keramas a maior parte do evento também foi na merreca. Margaret River não foi merreca, bem longe disso, mas vamos combinar que as ondas não foram lá tão boas ou tão grandes assim, a não ser no dia que rolou The Box, esse sim um dia especial.

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O dia de The Box foi o melhor do ano da WSL. Ali sim pudemos ver um surf à altura do circuito mundial. Um lugar realmente desafiador e onde qualquer vacilo pode sair bem caro.

É justo dizer que o John John venceu suas finais com superioridade […] mas é igualmente justo dizer que se não fosse um julgamento hipergeneroso com ele e supercrítico com seus oponentes, o havaiano talvez não tivesse chegado em nenhuma delas

O havaiano John John Florence é o líder isolado do ranking com uma excelente vantagem sobre seus adversários. Com duas vitórias (Bells Beach e Margaret River,) um terceiro lugar (Gold Coast) e um 17º em Keramas (seu descarte até o momento), é nítido que o John John vem sendo um dos melhores surfistas do ano, que a WSL o quer campeão e que suas chances de título esse ano são bem grandes. Se ele é o melhor surfista do ano? Creio que não.

Aliás, ver entre os Top 10 nomes como Kanoa Igarashi, Conner Coffin e Seth Muniz mostram bem claramente o quanto esse ano está esquisito. E ver Kelly entre os Top 10 é incrível depois de tanto tempo e tantas lesões. Só se aposenta se quiser.

É justo dizer que o John John venceu suas duas finais com superioridade e que ele foi um dos principais nomes nos eventos em que venceu, mas é igualmente justo dizer que se não fosse um julgamento hipergeneroso com ele e supercrítico com seus oponentes, o havaiano talvez não tivesse chegado em nenhuma dessas duas finais. Claro que é só uma opinião, mas a semi contra o Medina, em Bells, e a semi contra o Caio Ibelli, em Margaret River, foram confrontos polêmicos e bastante questionados mundo afora.

Ainda falando sobre julgamento. Owen Wright, Julian Wilson e John John Florence têm algo em comum. Os três se lesionaram, voltaram surfando pior do que antes de suas lesões e, para surpresa de muitos, passaram a vencer baterias duvidosas com notas generosas. O mesmo não aconteceu com o Caio. Será que poderá acontecer com o Mineiro? Mistérios de um julgamento confuso.

A figura do head judge continua mandando nos juízes e isso sinceramente me incomoda, afinal não sabemos que tipo de orientação ele recebe de uma empresa privada com fins e interesses lucrativos

Nem sempre as notas dadas pelos juízes coincidem com o que vimos ou sentimos. Nem sempre os critérios parecem valer para todos. Nem sempre os profissionais que acompanham o esporte (jornalistas, analistas, blogueiros, fotógrafos, treinadores, etc) entendem o julgamento.

É todo mundo burro ou são os juízes que estão teimando e/ou influenciando? Não seria a hora de mudar alguma coisa? Estabelecer critérios mais claros? Colocar mais juízes? Colocar o público ou os competidores para participar do julgamento? Renovar o quadro de juízes? Pagar um bom oftalmologista pra todo mundo? Eu penso que a WSL deveria ser menos arrogante e pelo menos tentar explicar melhor seus critérios, suas notas e alguns resultados.  Tem baterias que terminam com uma discussão planetária e ninguém explica nada, ninguém fala nada. A WSL simplesmente fecha as portas e as janelas, apaga as luzes e finge que não tem ninguém em casa.

Julgar não é fácil. Mesmo os juízes hoje tendo muito mais recursos do que tinham no passado como câmeras, ângulos e replays, nem sempre o julgamento é justo ou lógico. A figura do head judge continua mandando nos juízes e isso sinceramente me incomoda, afinal não sabemos que tipo de orientação ele recebe de uma empresa privada com fins e interesses lucrativos. Aliás, eu adoraria saber que tipo de pensamento o todo-poderoso Dirk Ziff tem a respeito das Olimpíadas. Um cara que comanda um esporte inteiro tem poder e tem interesses. Sabemos que a WSL tem grande interesse nos jogos Olímpicos, mas não sabemos o que ele pensa sobre a participação da WSL nas Olimpíadas ou que tipo de pensamento (ou influência) ele pode ter sobre o time americano ou sobre o julgamento.  

Chas Smith essa semana escreveu no Beachgrit “… o melhor surf é fácil de identificar e entender. São os momentos que fazem o coração bater mais rápido”. É por aí. Pena que nem sempre as notas refletem isso.

Brasileiros em Margaret River

Margaret River poderia ter sido um ótimo evento para os brasileiros, mas não foi. Foi um ótimo evento para o Caio Ibelli e foi um bom evento para o Italo ferreira. Fora esses, nenhum brasileiro conseguiu passar por The Box. Tá certo que a onda de The Box é complicada, mas alguns surfistas do tour nunca haviam treinado lá. A onda é cascuda, quadrada, difícil, assustadora, não rola sempre. Mas se faz parte do tour, a galera tem que ir lá surfar, aprender e treinar. Em um circuito com tantos surfistas completos, ser bom em todo tipo de onda é obrigatório.

Italo Ferreira não decepcionou. Surfou bem, competiu bem e foi até as quartas de final, quando perdeu para o campeão do evento, John John Florence. Italo poderia ter feito mais. Por outro lado, lembro do tubo em The Box e lembro que o Italo fez a melhor onda do campeonato, uma nota 10 explícita que os juízes fizeram questão de não ver. Viram um 8.17 e pagaram mais um mico mundial. Italo continua como Top 3 do ranking e ainda precisa de um pouco mais regularidade, mas é nitroglicerina pura e virá para a etapa brasileira com sangue nos olhos. Aqui ele terá uma boa chance de empatar com John John em número de vitórias.

E o Jadson? Depois das baterias em branco do Filipe Toledo e do Michael Rodrigues,  Jadson foi casca grossíssima. Não hesitou em The Box, botou pra baixo e surfou com uma raça impressionante.

Gabriel Medina começou bem em Margaret River, mas acabou eliminado precocemente por Caio Ibelli no Round of 32. Medina fez a maior nota, mas Caio estava embalado e determinado. Medina continua sendo o melhor surfista do ano, embora seus resultados não digam isso. Caiu de 10º para 12º no ranking e já tem seus dois descartes (17º em Keramas e 17º em Margaret River). Ou o Gabriel liga o turbo e vence duas ou três etapas, ou seu projeto do 3º caneco terá de ser adiado. Mas não se enganem, o cara está com gana de vitória, com vontade de fazer uma sequência de títulos mundiais e tem o pacote completo: talento, experiência, determinação, preparo físico e um ótimo desempenho em praticamente todas as próximas etapas.

Filipe Toledo também ficou pelo Round of 32, aparentemente paralisado diante das ondas de The Box. A dificuldade de surfar ondas muito grandes ou muito pesadas continua sendo o ponto fraco de Filipe Toledo (o único) e pode ser um limitador para o título, principalmente com caras como Medina, John John e Italo na disputa. No Main Break, Filipe foi um bom surfista, mas em The Box ele nitidamente teve dificuldades. As maiores e melhores ondas sobraram tranquilamente para o local Jack Robinson, que surfou livre e somou 9.27 e 9.30. O 17º em Margaret River já é um dos descartes do Filipe. Que o nono na Gold Coast seja o segundo. Filipinho tem surfe demais para ficar de fora da disputa pelo título.

Caio Ibelli foi o melhor brasileiro. Chegou em Margaret sabendo que era tudo ou nada, pois o Mineiro volta na próxima etapa. E foi um evento emblemático, primeiro porque a competição foi no mesmo local onde ele se lesionou no ano passado. Depois, porque eliminou Slater, o cara que o tirou da elite (politicamente). E também porque o Caio quebrou nesse evento. Começou com uma derrota no Seeding Round, despachou Adrian Buchan no Elimination Round, derrotou o bicampeão mundial Gabriel Medina no Round of 32, eliminou Kelly Slater no Round of 16 e derrotou Jordy Smith nas quartas. Na semi Caio ainda fez uma excelente bateria contra John John Florence, surfou a melhor onda do duelo, mas ficou a sensação de que ele teve suas notas achatadas. Precisava de 8.33 para virar a bateria, marcou 7.84. Pelo comprometimento e pela performance achei que o Caio merecia a vitória. E merece a vaga no tour.

E o Jadson? Depois das baterias em branco do Filipe Toledo e do Michael Rodrigues,  Jadson foi casca grossíssima. Não hesitou em The Box, botou pra baixo e surfou com uma raça impressionante.

O recado para os brasileiros é reto e direto. Ou a galera resolve acelerar e soltar o pé ou esse caneco vai para o John John em uma bandeja olímpica. E a próxima etapa é no Brasil.

A propósito, mais um evento que o Julian Wilson chega às finais surfando muito mal. Pode isso, Arnaldo? Digo, Pritamo.

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