É em cavernas e fundos de coral ou pedra, como acima, em Pipeline, que o surfista pode ficar preso embaixo d’água e ter sérios problemas.
Prenda a respiração por 10 segundos. Para um ser humano comum, o limite de bloqueio de ar nos pulmões não passa muito disso. Logo, ficar preso embaixo d’água por muito mais tempo pode terminar com seus dias de surf e causar traumas graves. A única maneira de evitar acidentes assim é controlar a respiração, ter calma e contar com a sorte. Foi o que aconteceu com Neco Padaratz, por exemplo, quando ficou preso nos corais de Teahupoo, em 2000.
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“Tentei fazer uma manobra na junção e caí. Tomei uma onda na cabeça que me arrastou para as fendas entre os corais e fiquei com as pernas e a cordinha trancadas. Depois que passou a série, vi a claridade perto de mim, como se eu tivesse perto da superfície, mas não conseguia sair”, conta o catarinense.
Cada segundo de respiração durante o surf é decisivo para sua sorte embaixo d’água. “Se você está surfando a uma hora, com a frequência cardíaca lá em cima, e toma uma vaca seguida de uma série inteira na cabeça, você chega a ficar 40 segundos sem respirar”, diz Christian Dequeker, mergulhador e big rider que adaptou os treinos de apneia ao surf.
Por meio de estudos e muita prática, ele desenvolveu um treino que busca aprimorar a capacidade respiratória dos surfistas: “Num dos exercícios rema-se 200 metros, aí faz-se uma respiração de 15 segundos, imaginando um intervalo de pico, e depois prende-se ‘ar'”.
Porém, bloquear a respiração por muito tempo pode “apagar” a pessoa. Os sintomas que mostram que seu limite está próximo são: vontade de engolir seguida de contrações do diafragma (náuseas), aquecimento ou esfriamento da nuca (varia de pessoa pra pessoa), formigamento nas pontas dos dedos e na mão, cansaço nas pernas e tremedeira. Neco passou por isso: “Eu senti um conforto muito grande, em que eu não precisava mais de ar”, relata o surfista.
Nessas situações é preciso ter controle. “A pessoa, com o treino de apneia, sabe que tem condição de ficar mais tempo tomando umas bombas na cabeça e fica mais serena, mais tranquila. Com a prática ela pode sofrer menos nessas situações”, conta Dequeker.
Quando finalmente saiu da água, Neco teve uma crise nervosa, entrou em choque e até cogitou abandonar o esporte. “Naquele momento consegui dar outro valor pra vida e, principalmente, ter um limite.”
(Esta matéria foi publicada originalmente na HC 271, abril de 2012)