Em seus dias gloriosos, a Praia do Leme, na capital carioca, oferecer triângulos tubulares aos surfistas mais atirados. Mas faz mais de 30 anos que esse pico carioca sofre por conta da ação humana em razão de grande quantidade de esgoto lançado ao mar.
Na quarta-feira, 9/6, um dia após a celebração do Dia Mundial dos Oceanos, circularam nas redes sociais imagens de um trecho de esgoto sendo lançado ao mar conhecido como língua negra (os locais também se referem ao trecho com um apelido bem menos convidativo: valão).
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A língua negra refere-se ao esgoto in natura despejado no mar. Segundo relatos, o cheiro da água é quase insuportável.
Os surfistas da área contam que o crowd precisa evitar os pontos mais atingidos pelo esgoto, mesmo nos dias com boas ondas. “Pior que o valão dá altas ondas e fica sem ninguém. Mas, quando está assim, a cor e o cheiro são insuportáveis e a galera rema para longe”, relata Eduardo Pochaczevsky, local do pico.
Passam anos e mais anos e nada é feito”, publicou a página Lemebodyboard no Instagram (post abaixo):
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Língua Negra desde 1984
Faz 37 anos que a Língua Negra está presente na Praia do Leme, em frente à Rua Aurelino Leal.
E parece que seguirá firme por um bom tempo, despejando esgoto in natura no mar e contaminando parte da areia. Turistas e moradores ficam abismados com o tamanho que a língua negra assume, sobretudo após temporais.
Se antes aparecia a Língua Negra apenas em dias de pós chuva, agora ela faz parte do cenário lemense.
Uma matéria do Jornal do Brasil, de 1991, dizia que a causa da poluição era o entupimento das galerias pluviais, para onde vazavam os esgotos e lixo arrastados pela chuva. Diversas são as causas apontadas, mas até agora, ninguém conseguiu resolver o problema.
Os órgãos que antigamente apareceram e se responsabilizaram, hoje negam qualquer participação na Língua Negra, embora em março de 2019 a Equipe da Patrulha Ambiental tenha multado a Cedae em R$360 mil por despejo de esgoto in natura na praia.
Em 1990, jornais da época diziam que a Cedae tinha reformado e aumentado a capacidade da elevatória da rua Francisco Sá, em Copacabana. Além disso, a elevatória de Parafusos, na Avenida Atlântica, havia ganho mais duas bombas. Acreditava-se na época, que os serviços iriam acabar com as línguas negras formadas em Copacabana. Mas isso não aconteceu.
Quatro anos depois, o Grupo de EcologistasDefensores da Terrainterditava com bambus parte da Praia do Leme, na altura da Aurelino Leal. O então vice presidente do Grupo, Deputado Carlos Minc, exibia relatório apontando que as areias do Leme eram foco de Amebíase, Giardíase, Ascaridíase, Oxiurose, Balantidiase, tricurose, amarelão e trongiloidose.
Ainda em 1994, a Feema (órgão hoje que é a INEA) disse que faria exame semanal para garantir a qualidade da água e areia. E a CEDAE disse que iria coletar água para análise 3 vezes por semana.
Obras de infraestrutura foram realizadas nas Comunidades do Leme; colocaram tubulações, a rua Aurelino Leal ficou interditada ao trânsito por quase 3 anos, sendo reaberta em 29 de outubro de 2014 e nada adiantou.