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Pan-American Soul: Surfe Milenar

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esde minha primeira visita a Huanchaco, há uns 20 anos, fiquei fascinado pelos caballitos de totora. Por seu papel na história do surfe mundial, sua estética, a maneira e materiais com os quais são fabricados artesanalmente, e mais que tudo, sua sobrevivência como um veículo aquático milenar, que continua sendo eficientemente utilizado hoje em dia.

Texto e fotos Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE

 

Muito bacana também ver como a comunidade local se orgulha desse patrimônio cultural, e conseguiu transformar o caballito de totora num atrativo turístico que gera uma renda extra além da aferida pela pesca. Qualquer visitante pode dar uma “cavalgada”, basta chegar na praia e procurar os pescadores. Garanto que você vai curtir. Eu saí do mar querendo mais.

Está provado que o mais antigo registro de um ser humano deslizando sobre as ondas é de um Mochica num caballito de totora. Tanto em gravuras na pedra, como em objetos de cerâmica datados de mais de três mil anos, é possível reconhecer exatamente o que se observa em pleno século XXI numa visita a Huanchaco.

 

James Santos, buscando o equilíbrio. Foto: Reprodução Fluir

Segundo algumas teorias, os Mochicas teriam não só desenvolvido e difundido essa técnica no litoral peruano, mas a levado ao Tahiti, através de migrações oceânicas impulsionadas por correntes marítimas que unem esses dois polos ancestrais do surfe. Na internet, os interessados em se aprofundar nessa discussão, podem encontrar muito conteúdo a respeito. Um filme que merece ser visto é Kon-Tiki, que conta a épica jornada do explorador norueguês Thor Heyerdahl cruzando o Pacífico, entre o Peru e a Polinésia, numa jangada feita de totora.

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Em minhas visitas anteriores, por diversos motivos, nunca havia concretizado minha vontade de experimentar ao menos uma ondinha num caballito de totora. Numa dessas ocasiões, produzindo uma matéria para a revista Fluir na companhia de Binho Nunes e James Santos, cheguei a organizar uma sessão para eles experimentarem surfar nos caballitos, mas fiquei na areia. Capazes de fazer de tudo sobre uma prancha, os dois tiveram bastante dificuldade para dominar os caballitos e saíram da água com um enorme respeito pela capacidade dos pescadores em deslizar sobre as ondas com tanta tranquilidade.

 

Dessa vez, ao chegar na praia e começar um bate papo com Luiz “Tarzan”, pescador e surfista descendente dos Mochicas, logo decidi que meu batismo no caballito de totora ia ser ali e agora. Por 25 soles, pouquinho mais de seis dólares no câmbio do dia, aluguei por meia hora meu caballito e, após ser devidamente instruído sobre como me posicionar sobre ele, remar e encarar as ondas (nunca de lado), saí em direção ao outside. Do outro lado do píer estavam quebrando umas esquerdinhas pequenas e gordas, do jeito certo para facilitar minha estreia.

Já adianto o final, não cheguei a ficar em pé, é bem mais difícil do que parece. Mas nos 50 minutos que fiquei no mar, 20 a mais do que o combinado, me diverti um montão. Peguei cinco ondinhas, todas sentado. Aconteceu basicamente o mesmo em cada uma delas, após uma breve deslizada, perdi o controle da direção do caballito, que deu uma guinada brusca, me ejetando do seu “lombo”. Eles pegam velocidade muito rápido. Numa dessas vacas, me embolei com o caballito, que é bem pesado, e o remo de bambu, dando uma bela torcida na coluna. Ainda bem que foi só o susto. 

Com maior intimidade com o caballito, na volta fui remando ajoelhado e não mais sentado. Bem na beirinha, peguei minha última ondinha nessa posição sem cair, já imaginando ficar em pé numa próxima oportunidade. Devolvido o caballito ao seu dono, ainda fiquei um bom tempo ali na praia, aproveitando aquele barato natural que uma boa sessão de surfe proporciona. Êxtase puro.

Mais tarde, depois de um delicioso ceviche e uma siesta na van, voltei à praia na esperança de capturar algumas boas imagens dos caballitos de totora sob a luz do final de tarde. Tarzan havia me explicado que eles saem para a pesca bem cedinho pela manhã, mas que, próximo do anoitecer, alguns pescadores poderiam estar colocando no mar redes com iscas para caranguejo. Dito e feito, para encerrar um dia memorável, fui abençoado com um pôr do sol espetacular. Viajei no tempo e espaço, transportado para uma época longínqua ao testemunhar os pescadores remando seus caballitos de totora no horizonte, como vêm fazendo há milhares de anos.

Um vídeo bem legal de assistir sobre os caballitos de totora:

Acompanhe a rota de Pan-American Soul pelo @panamericansoul2022.

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* Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip Pan-American Soul 2022, da
Califórnia até o Brasil. 

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