Que prazer estar na Hardcore. Tem tudo a ver com a missão que me propus ao partir para a expedição Pan-American Soul 2022, a qual você vai poder acompanhar aqui nessa coluna, e em vídeos e lives no Instagram da revista.
texto e fotos por Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE
Acredito que a sensação que irei experimentar nessa minha nova travessia das Américas, surfando de praia em praia 35 anos após a primeira vez, esteja diretamente conectada com a aquela que inspirou os fundadores da revista. E foi fielmente mantida ao longo do tempo. Estou falando de ir fundo, em busca da raiz, da essência.
Levo na minha van um par de pés de pato da Jack’s e um handplane Lasca, dois longboards bem rodados, um Dewey Weber 9’ e algo, pareado com um Stewart 10’, e uma meio tamanho amarelada 8’, que a vizinha aqui ao lado me emprestou e foi ficando. Completa a turma uma semi gun Gerry Lopez, 8’ também, mas essa zerada, ainda nem coloquei na água. É o quiver que fui arrebatando aqui e ali e acolá, para a viagem, já que desembarquei por essas bandas 6 meses atrás na condição de sem prancha.
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Deixei no Brasil minhas menorzinhas, as mais hot-dog, ainda que manobrar nunca tenha sido minha especialidade. Muito menos agora. Sempre estive mais pra botar pra baixo e pra dentro e ver o que acontece. Pra quem não me conhece pessoalmente, sou alto, 1,92 m, e de uns anos pra cá a balança tem dado defeito. Nada demais, só que com 59 anos de idade qualquer quilograma extra pesa em dobro na hora da remada. Mas na minha cabeça tudo ainda é possível, mesmo o que já não é. Não importa. A essência não está na performance, e sim no desejar. No querer muito, no sonhar dormindo e de olhos abertos.
A viagem já começou, aliás faz bastante tempo, quando não passava de um devaneio. Mas o primeiro tanque, em suados dólares, eu enchi foi no sábado passado, rumo a Santa Cruz. Achei que tinha que surfar com os três príncipes havaianos. Aqueles mesmos que inauguraram o surfe nas Américas, nos idos de 1885, deslizando na boca do rio San Lorenzo, em pranchas talhadas nas famosas madeiras vermelhas retiradas dos bosques locais. É claro que eles não estavam lá, ao menos fisicamente. O que eu posso afirmar, é que senti a presença deles assim mesmo.
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Deixei no mar um ramalhete de flores selvagens, agradeci o presente que nos deram e pedi ajuda na proteção dos oceanos. Essa era a história que eu queria contar. Essa foi a história que eu decidi viver. Comigo na água, além dos príncipes, dois leões marinhos. No sobrevoo, uma infinidade de pássaros em busca do jantar. Foi um momento muito especial, com o sol se pondo enquanto eu fazia uma prece.
No dia anterior, de caminho, havia dado uma paradinha estratégica em Lunada Bay, ainda em Los Angeles, para outro encontro surreal, também na hora mágica em que o astro rei se derrama no horizonte. Ninguém menos que o cara que criou a imagem que mais colocou surfistas na estrada em busca da onda perfeita em todos os tempos. Estou falando do poster do Endless Summer e do genial John Van Hamersveld.
Abre parênteses, o John Van Hamersveld era muito amigo do Rick Griffin, outro ícone da surf art, já falecido, e através da iniciativa do coletivo California Locos, do qual o John faz parte, minha van foi envelopada com a arte do Griffin. John veio gravar uma palhinha pro documentário, em homenagem ao brother, fecha parênteses.
Papo vai, papo vem, quando me toco o Jimmy Hendrix e o Steve Jobs entraram na conversa. Para descrever como Hendrix, seu amigo e para quem ele desenhava cartazes de shows, se portava nos momentos em que não estava empunhando sua guitarra, John Van Hamersveld imita uma flor murchando: “tímido demais”. Já Steve Jobs pediu a ele que testasse seus primeiros computadores, quando ainda não eram reconhecidos pela maçãzinha mordida.
Era uma vez uma surf trip que pretendia chegar na essência… Nos vemos por aqui logo mais. Boas ondas!
Toda a jornada será coberta nas redes sociais, com bastidores da realização do documentário. Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022.
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