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Pan-American Soul 2022: O Verão Sem Fim de Robert August

Q

uase seis décadas após seu lançamento, o filme “The Endless Summer” continua sendo o maior sucesso que o surfe já obteve nas telas de cinema. Muito provavelmente nunca será superado e, mais significativo que isso, posso apostar todas minhas pranchas que não vai acontecer de um outro filme de surfe conseguir influenciar uma quantidade tão massiva de surfistas e não surfistas. Mas o que terá sido decisivo para que a obra prima do diretor Bruce Brown vencesse o teste do tempo e continuasse relevante nos dias de hoje?


Texto Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE
Foto de abre: Robert August por Adrian Kojin 


Minha conversa há poucos dias com Robert August, um dos dois surfistas californianos que protagonizam a clássica peregrinação ao redor do globo em busca da onda perfeita, me deixou intrigado. Depois de refletir um bom tempo sobre seu comportamento durante as quase duas horas em que estivemos juntos, e colocar isso em perspectiva com as memórias que tenho do filme, acho que posso arriscar uma resposta à questão que coloquei acima. Sem pretender que seja definitiva, até porque os fatores que contribuíram para a relevância que o filme atingiu certamente são múltiplos.

 

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Alegria Sem Fim, poderia ser o título da biografia de Robert August.


Talvez estudiosos da sétima arte, e dos filmes voltados para o surfe em especial, o que não é meu caso, já tenham desvendado esse segredo faz tempo, e eu estarei aqui chovendo no molhado. Não faz mal, o que eu quero ressaltar é a autenticidade de Robert August, a verdade de quem dedicou a existência a perseguir um Verão Sem Fim. Até hoje.

É bom esclarecer aqui que o Verão em questão vai bem além de ser uma estação do ano. Trata-se de um estado de espírito que tem tudo a ver com aquela euforia alegre dos dias de calor, praia e ondas, mas que, no caso de August, e do filme, é também uma maneira de se encarar a vida. As outras estações podem vir que o sorriso e o bom humor continuarão os mesmos.

Mike Hynson, Robert August e Bruce Brown partem em busca da onda perfeita. De terno e gravata?


Nesse sentido, o título do filme em português não poderia ter sido mais apropriado: “Alegrias de Verão”. Ainda que deixe de lado a ideia de uma viagem continua, sem fim, ele capta a essência do que está sendo transmitido na tela. Que é basicamente o que uma conversa com Robert August passa, a impressão de se estar permanentemente, como dizem os surfistas de língua inglesa, “stoked”. Ou como seria dito numa praia brasileira, ele está sempre amarradão.

 

Aos 77 anos de idade e ainda shapeando duas pranchas por semana, Robert August não economiza em seriedade na hora de dar forma a um bloco de poliuretano. Mas no resto do tempo ele esbanja sua melhor qualidade, o bom humor.


Claro que quem conhece um pouco dos bastidores do filme, e eu cheguei a escrever uma matéria sobre o tema em 2013, sabe que nem tudo foi alegria durante as filmagens. Inclusive no dia em que foi registrado o momento mais memorável do Endless Summer, quando eles finalmente encontram a tão buscada onda perfeita em Cape Saint Francis, Bruce Brown e Robert August estavam de saco cheio de Mike Hynson. Depois de tanto tempo viajando juntos o clima era de saturação. Mas nada disso é percebido no filme que, sim, foi gravado como um documentário, mas teve uma boa dose de fantasia acrescida na edição final. Pra começar, Cape Saint Francis não foi uma “descoberta”…

 

 


Na entrevista com Robert August para o documentário que estou gravando, realizada em sua sala de shape em Tamarindo, na Costa Rica, onde ele reside há muitos anos, ele me fez dar muita risada. Isso ainda que suas piadas muitas vezes fossem sem graça, não tanto por serem em sua maioria politicamente incorretas, o que é pode ser atribuído aos seus 77 anos de idade, e sim pela crueza. Faltava um tempero a mais, uma elaboração mais estudada. Mas não havia escassez de simpatia. De vontade de querer agradar.

 


Acho que é isso, o The Endless Summer é o filme de surfe mais simpático já feito. Na sua simplicidade, dois surfistas e um câmera ao redor do planeta, ele consegue capturar a mesma essência que eu senti ali na presença de Robert August. Surfar é alegria em estado bruto, e quem experimenta quer fazer isso pro resto da vida.

Acompanhe a rota de Pan-American Soul pelo @panamericansoul2022.

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* Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip Pan-American Soul 2022, da
Califórnia até o Brasil. 

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