d
esejar apenas não adianta. Qual surfista não quer menos poluição nos oceanos, a eliminação dos plásticos de nossos mares, a segurança de que não vai contrair uma doença na próxima sessão? Fiquei absolutamente chocado essa semana com o conteúdo ao qual tive acesso por dois links recebidos de um amigo no WhatsApp.
Texto Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE
Foto de abre: Adrian Kojin em Punta Mango
O assunto era o mesmo, praias tomadas por montanhas de plástico, em dois dos mais icônicos paraísos do surfe, Bali e Maldivas. Já havia até começado um outro texto para finalizar 2022 e iniciar 2023, o qual girava mais uma vez em torno de o quanto é especial essa relação com as ondas que temos a sorte de experimentar como surfistas. Mas rasguei o rascunho. Meu desejo é que paremos de desejar e façamos algo de verdade.
Não sei, não tenho receita, não sou especialista no assunto. Onde está a solução é a grande pergunta? Mas não ter a resposta não pode justificar não fazer nada. Não vou acusar ninguém, basta olhar para meu comportamento, meus hábitos, para ver que sou parte do problema. Ainda consumo um monte de produtos embalados em plástico, dirijo veículos movidos a petróleo, não sei citar o nome de nenhum político 100% comprometido com o meio ambiente, surfo com pranchas fabricadas com poliuretano e resina… e por aí vai.
MAIS PAN-AMERICAN SOUL:
“Surfistas estão na vanguarda da proteção”, diz Adrian Kojin
O Verão Sem Fim de Robert August
Embaixador Pura Vida
E a desigualdade social, a fome, a violência? Não são temas prioritários, muito mais relevantes que as questões ambientais, retrucam muitos, deixando a impressão de estarem buscando uma desculpa para não agirem em nenhuma das pontas. Pode parecer uma incoerência gigante, mas tem um número grande de surfistas que adotam exatamente essa postura, a do “deixa estar para ver como é que vai ficar”. Enquanto isso o plástico segue se acumulando em proporções aterradoras, como em Bali e nas Maldivas, os vazamentos de petróleo, como esse recente em Punta Conejo, no México, bem quando eu passava por lá, se repetem, e os frutos do mar que consumimos, cada vez mais apresentam sinais de contaminação.
Logo ao iniciar a expedição Panamerican Soul 2022, no meu segundo dia no México, gravei um vídeo na praia de San Miguel, em Ensenada. Um surfista norte-americano residente lá coletava o lixo deixado na areia e expressava toda sua revolta com a situação. No dia seguinte, me tornei embaixador da Save The Waves Coalition, uma organização dedicada a preservar ecossistemas onde ocorrem ondas. E, dois dias depois, estava abandonando meu lixo em uma lixeira de um “pueblito” perdido no deserto, que muito provavelmente destinaria meus dejetos à imensidão do descampado circundante.
Inclusive parei no caminho, à beira de umas das principais estradas que cortam a Baja California de ponta a ponta, para registrar imagens de um desses lixões a céu aberto. O vento, intenso e incessante, se encarregava de espalhar os resíduos tóxicos da civilização nos mais escondidos recantos da natureza. E o oceano Pacífico, não muito longe dali, certamente acaba se tornando receptáculo de uma boa parte dessa porcariada.
Que chato, né? Achar que iria ler sobre algum assunto bacana na coluna de Ano Novo da Panamerican Soul 2022, e se deparar com essa ladainha de oceano poluído sem solução que você já está cansado de escutar. Eu sei, não que você não se preocupe, mas para que falar de tragédia, num momento em que buscamos esperança de dias melhores. Simples, para incomodar mesmo. Para fazer pensar. Para escutar uma resposta de volta me cobrando uma atitude além de escrever sobre o assunto. Escrever é fácil, eu sei. Não vou ficar aqui me desculpando, tentando explicar que faço o que é possível. O possível não basta, temos que ir além. Em 2023 vou me esforçar mais do que nunca antes.
Acompanhe a rota de Pan American Soul pelo @panamericansoul2022.
Compre aqui o livro Pan-American Soul, em edição digital, com apenas um clique.