“Entendo perfeitamente que na hora de escolher surfistas favoritos, colocações no Circuito Mundial possam não significar muito. Mas fiquei muito surpreso com o tamanho descaso dos leitores da Stab”
O site Stabmag.com, uma das mais influentes mídias de surf em língua inglesa, publicou os resultados de sua mais recente pesquisa sobre os surfistas favoritos de seus leitores. Nenhum surfista brasileiro está entre os Top 10. Já entre os Top 20, o atual campeão mundial, Filipe Toledo, entra de raspão, numa modesta vigésima colocação. O tricampeão mundial Gabriel Medina vem um pouco depois. Aquele que é considerado por vários de seus adversários como o melhor surfista do mundo no momento, não foi além do 22º lugar. Já o vencedor da última etapa da WSL em Saquarema, Yago Dora, apareceu no 29º posto, enquanto o campeão mundial e medalhista de ouro olímpico Ítalo Ferreira, não passou do 37º. Por fim, João Chianca, atual 4º colocado no ranking mundial, está listado na 39º posição.
Não preciso nem dizer que gosto não se discute. Entendo perfeitamente que na hora de escolher surfistas favoritos, colocações no Circuito Mundial possam não significar muito. Mas fiquei muito surpreso com o tamanho descaso dos leitores da Stab, em sua grande maioria surfistas australianos e americanos, de língua inglesa e brancos, diante do legado dos surfistas brasileiros nos últimos anos. Me parece estranho demais que nenhum deles apareça ao menos entre os Top 10, considerando suas performances absolutamente brilhantes.
Eu diria que uma boa dose de preconceito xenofóbico está na raiz dessa distância marcante entre os resultados dominantes dos brasileiros no Circuito Mundial da WSL e a colocação deles na pesquisa, respondida majoritariamente por australianos e americanos. Vale notar aqui que os fóruns da Stab sempre foram terreno fértil para comentários preconceituosos atacando surfistas brasileiros.
Compreendo até que a postura extremamente focada do Medina, e a eletricidade que chega a dar choque à distância do Ítalo, possam causar uma certa fricção. Mas como não apreciar o conjunto da obra de Filipe Toledo, por exemplo. Humilde, estiloso, inovador. Como não apreciar sua perícia extraordinária, tanto no surf aéreo como no de borda. Tá devendo melhorar em ondas tubulares de consequência? Sim, mas será que isso é suficiente para que esteja tão abaixo na preferência dos australianos e americanos?
Antes que algum “gringo” venha dizer que esse texto se trata de choradeira nacionalista querendo ver os “brazos” melhor colocados na pesquisa da Stab, já esclareço que a intenção aqui é levantar uma discussão maior, a de quanto preconceito ainda existe por parte dos surfistas das duas nações que até pouco tempo dominavam sozinhas o cenário mundial, Estados Unidos e Austrália. A opinião dos leitores da Stab não vai mudar a minha, mas seria bacana se, agora que o Brasil está batendo de frente, e tantos outros países celeiros de talentos estão apresentando suas credencias querendo chegar lá também, pesquisas como as da Stab indicassem uma aceitação maior de todos por todos. O que, na minha opinião, ainda está longe de acontecer.