“Independente de quem saia como vencedora na disputa intimidadora em Teahupoo, uma coisa é certa: o surf feminino como um todo terá a oportunidade de alcançar novos horizontes”
Por Mariana Broggi
O retorno das mulheres a Teahupoo em 2022 marcou um momento decisivo na evolução do surf feminino. Por muitos anos, foi negado a elas a oportunidade de competir nessa onda icônica, com alegações de “questões de segurança”. Sem sombra de dúvidas, Teahupoo é uma das ondas mais pesadas e desafiadoras do mundo. Mas até que ponto foi justo com a evolução do esporte privar as mulheres de competirem lá?
Após um hiato de 16 anos, elas finalmente reconquistaram seu direito de disputar baterias em Teahupoo. O longo tempo de espera, entretanto, teve suas consequências e mostrou que elas terão que correr atrás para alcançar maior evolução nos temidos tubos.
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A disputa feminina do Tahiti Pro 2022 foi marcada por somatórios baixos e muita dificuldade. A falta de experiência e familiaridade com a onda definitivamente foi um fator determinante para o resultado desapontador de boa parte das baterias, mas isso não significa que as mulheres não tenham capacidade de surfar Teahupoo.
Muito pelo contrário, quem acha que mulheres não conseguem dominar Teahupoo, com certeza nunca deu uma olhada no Instagram da taitiana, Vahine Fierro, que, inclusive, ganhou o prêmio de “Melhor Tubo Feminino” no SURFER Awards 2019 com um tubo surfado em sua terra. De lá pra cá, ela segue treinando forte e vem contribuindo para colocar o surf feminino em outro patamar em ondas de consequência.
No ano passado, a “rainha de Teahupoo”, como foi apelidada Vahine, recebeu o wildcard do evento e chegou até a semifinal. Caso seja novamente convidada este ano, com certeza adicionará emoção extra à competição – até porque é muito bonito de ver sua conexão com a onda.
Já as surfistas da elite realmente passaram pouco tempo em treinamento no pico. Assim mesmo, algumas se destacaram e mostraram muita coragem nesse tipo de onda.
A californiana, Courtney Conlogue, merecidamente a campeã do evento, também alcançou a melhor nota da competição, com um tubo profundo que rendeu 7,83, surfado nas quartas de final contra a australiana oito vezes campeã mundial, Stephanie Gilmore. Com 13,84, a havaiana cinco vezes campeã mundial, Carissa Moore, por sua vez, fez bonito com o maior somatório da competição. Outro grande nome do Tahiti Pro 2022 foi Brissa Henessy, da Costa Rica, que alcançou notas acima dos 7 pontos e foi vice-campeã da etapa.
Os brasileiros da elite da WSL Yago Dora e Filipe Toledo, e o freesurfer mestre dos tubos já vencedor de uma etapa da WSL em Teahupoo, Bruninho Santos, apostam suas fichas na brasileira Tati Weston-Webb como uma das favoritas em Teahupoo esse ano. Criada no Havaí, o surf dela encaixa bem na onda taitiana. Junte-se a isso a necessidade de vencer o evento se quiser manter sua pequena chance da fazer parte da disputa do título mundial em Trestles, e dá para imaginar os tubos que ela vai pegar. Ou ao menos tentar.
Outra surfista que vai despertar muita atenção em Teahupoo será a, pequenina mas valente, californiana Caitlin Simmers, que com apenas 17 anos, já demonstrou que veio para elevar o nível do surf feminino. Em seu primeiro ano na elite, ela conquistou vitórias em etapas desafiadoras, como Saquarema e Supertubos, esta última sendo uma onda tubular bem pesada.
Independente de quem saia como vencedora na disputa intimidadora em Teahupoo, uma coisa é certa: o surf feminino como um todo terá a oportunidade de alcançar novos horizontes.
Tati, que vai defender a bandeira verde amarela em Teahupoo na Olimpíada de Paris 2024, já declarou que “seria bom para esta geração de surfistas começar a surfar ondas mais pesadas, para se sentir continuamente mais confortável e saber que podemos surfar ondas como essa”. De fato, colocar as mulheres para competir em Teahupoo é não apenas justo, mas também essencial para o crescimento do surf feminino.
A janela do evento vai de 11 a 20 de agosto e marca a última etapa antes do WSL Finals.