John John Florence passa por Caio Ibelli na semi e Kolohe Andino na final do Margaret River; Lakey Peterson vence Tati Weston-Webb e embola briga no feminino
Por Fernando Guimarães
John Florence e Lakey Peterson são os campeões do Margaret River Pro, finalizado entre a noite de segunda e a madrugada desta terça (4) no oeste da Austrália. Enquanto a vitória da californiana embaralha de vez a disputa pelo título mundial de 2019 entre as mulheres, para o havaiano o troféu da etapa significa uma disparada na liderança do ranking rumo ao tricampeonato. John John venceu Caio Ibelli em uma bateria de alto nível na primeira semi e, na decisão, fez seu melhor surfe na etapa para superar Kolohe Andino, que conquistou seu quinto vice-campeonato em cinco finais disputadas na carreira. Peterson passou por Carissa Moore na segunda semifinal e dominou a grande decisão contra a brasileira Tatiana Weston-Webb.
Apesar da sinalização de que poderia correr as últimas baterias do evento em The Box, a organização optou pelo Main Break, que quebrou em condições clássicas durante toda a manhã australiana: ondas poderosas de 6 a 8 em séries constantes, proporcionando muitas oportunidades para cada surfista.
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Assistir ao surf praticado nas paredes enérgicas e volumosas do Main Break pode parecer algo tedioso se comparado a outras ondas do circuito, principalmente uma deste mesmo evento, The Box. Mas ater-se unicamente ao que é executado em cada onda é ignorar algumas das coisas mais belas que envolvem o surfe, e que estão diretamente relacionadas com o resultado da competição. Saber posicionar-se em um line up amplo e vazio, entender como a direção do vento afeta cada onda, perceber que uma série vinda de uma direção levemente mais angulada vai entrar de outra forma — qual? — na bancada, lidar com uma série gigantesca que estoura no outside, relevar a possível presença de um tubarão alguns metros abaixo de suas pernas: esses são apenas alguns dos elementos que entram em jogo durante uma bateria. Se a imagem de uma câmera instalada na distante faixa de areia transmite ao espectador do outro lado do mundo a impressão de uma onda pouco empolgante, o Main Break de Margaret River oferece aos atletas uma gama de desafios maior que quase qualquer outro pico do circuito. E isso é surfe.
O dia começou com uma virada de Tati Weston-Webb para cima de Sally Fiztgibbons, uma virada que pode significar muito mais que um bom resultado no ano. A brasileira vem de um começo de temporada ruim, logo após ser uma das protagonistas do circuito em 2018. Chegar a uma final surfando com autoridade, vencendo uma das favoritas — e então defensora do título da etapa — é algo que pode restaurar sua confiança, tão preciosa quando se busca resultados em cima da prancha.
Tati não conseguiu colocar suas primeiras manobras de uma maneira tão crítica, tão vertical, mas compensou com algumas das melhores manobras de finalização do campeonato.
Se alguém disputava o título de melhores manobras com Tati, era Lakey Peterson. Ela manteve o ritmo intenso que a fez vencer Steph Gilmore nas quartas para superar Carissa Moore em uma bateria de alto nível. Assim como Tati, Lakey tornou-se em Maragaret uma surfista diferente da que vinha sendo até então em 2019, e isso ainda vai ter sérios impactos na disputa pelo título mundial.
Caio Ibelli concluiu sua incrível jornada de retorno a West Australia com uma derrota na semi, mas uma derrota em que surfou muito.
A incrível jornada começou com a lesão que tirou o guarujaense de quase todo o circuito de 2018, e que eventualmente o colocou na difícil situação de disputar uma vaga de wild card com dois campeões mundiais, sendo um deles o maior da história do surfe.
O protesto de Caio por um critério mais justo na seleção dos wildcards foi rebatido mundo afora com um debochado questionamento sobre sua importância no circuito mundial.
Em Margaret, Caio respondeu com um surfe maduro, forte, qual a sua importância: derrotou, na sequência, Gabriel Medina, Kelly Slater e Jordy Smith. E por pouco não venceu Florence mais uma vez.
Caio trocou sua prancha por uma menor no meio da bateria, e sua primeira onda depois disso mostrou que a decisão foi acertada.
John John havia aberto uma boa vantagem já no início, com manobras mais abertas e expressivas, mas, com sua nova prancha, Caio estava conseguindo equiparar as coisas. Faltou uma manobra de impacto na finalização, ou simplesmente uma sequência maior de manobras em suas ondas.
Conseguiu fazê-lo apenas em sua última tentativa, uma excelente e um pouco mal avaliada direita. O resultado foi justo, entretanto.
A segunda semi foi muito mais fraca que a primeira, e viu Kolohe Andino avançar a despeito, mais uma vez, de um incrível erro estratégico. Ele não usou a prioridade e deixou Julian Wilson pegar uma onda razoável a um minuto do fim, precisando de um cinco alto. Por sorte, não era o melhor dia de Julian.
As finais demonstraram a diferença entre os melhores surfistas da etapa e o restante dos atletas. Lakey novamente encaixou manobras muito fortes, com bom grau de risco, e dominou todo o confronto com Tati.
Em uma escala um pouco diferente, o mesmo se repetiu na final masculina. Kolohe ainda se superou e teve uma grande atuação, assim como Caio na semi. Mas não passou nem perto de ser o bastante para derrotar John John, que nas paredes largas e fortes do Main Break ainda faz um surfe incomparável dentro do circuito. Se alguém consegue fazer igual ou melhor, não chegou a apresentar suas credenciais.
E é bom começar a fazê-lo muito em breve, antes que seja tarde. Como em uma de suas amadas corridas oceânicas, John John navega de vento em popa rumo ao tricampeonato mundial.
Margaret River Pro – Resultados
Final masculina
John John Florence 18,50 x 15,10 Kolohe Andino
Final feminina
Lakey Peterson 13,33 x 10,40 Tatiana Weston-Webb
Sf1. John John Florence 14,60 x 14,10 Caio Ibelli
Sf2. Kolohe Andino 10,83 x 9,00 Julian Wilson
Sf1. Tatiana Weston-Webb 13,33 x 11,67 Sally Fitzgibbons
Sf2. Lakey Peterson 15,97 x 15,80 Carissa Moore