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“Hydrofoils não pertencem à zona de surf com as massas”, opinou waterman australiano

Texto Alexandra Marques

A cada ano, hydrofoils estão mais populares e são cada vez mais vistos em picos de surf lotados.

Em alta velocidade, um hydrofoil corta a água como uma faca afiada corta a manteiga, e o controle por parte dos surfistas às vezes pode ser desafiador.

Em 2016, Yu Tonbi Sumitomo, experiente surfista quase se decapitou enquanto surfava sobre em uma prancha de hydrofoil.

+ “Zero razão para surfistas de foil surfarem perto dos surfistas,” diz Kelly Slater 

Embora tenha sido um acidente autoinfligido, sem ninguém por perto, após o ocorrido, o waterman australiano Jamie Mitchell, 10x campeão da travessia “Molokai 2 Oahu Paddleboard”, surfista profissional de ondas grandes, fez um alerta que ecoou pelo mundo:

“Hydrofoils são perigosos. Muito perigosos, e não pertencem à zona de surf com as massas e o público em geral.”

Mitchell disse mais na época:

“Na minha opinião, hydrofoils são para swells de oceano aberto, Outer Bombies e lugares onde não há pessoas ou muito poucas pessoas fazendo isso juntas. Sim, Kai [Lenny] e algumas crianças talentosas provavelmente podem controlar as pranchas incrivelmente bem, mas você não pode controlar ações e movimentos de outras pessoas. Vejo mais e mais clipes todos os dias de pessoas experimentando foils e estou com tanto medo de que alguém pague o preço final e morra. Olha essa foto… Se um foil acerta você ou você acerta alguém com um foil, vai acabar mal. Espero que as pessoas e empresas que lucram com isso estejam fazendo o possível para educar as pessoas sobre os perigos. Infelizmente, não acho que este será o primeiro ou último incidente. Estou muito feliz que o senhor desta foto esteja bem. Por favor, pense sobre o que está ao seu redor antes de pular e começar surfar nessas pranchas.”

 

O incidente aconteceu há alguns anos mas o debate permanece.

Importante ressaltar que esta matéria não condena hydrofoils, mas lança luz acerca do nível de consciência necessário a qualquer pessoa que vá desfrutar do oceano com essa embarcação.

Embora existam pilotos talentosos e sábios, há também número crescente de surfistas levando hydrofoils para line ups lotados e águas próximas à costa.

Isso coloca surfistas e banhistas em risco. Evidentemente, surfar por si só é algo arriscado. Mas a lâmina do hydrofoil, por exemplo, é capaz de causar ferimentos graves, por isso, mas mãos erradas, pode ser muito perigosa em um pico público e lotado.

Diversão com consciência

HARDCORE conversou com o catarinense Motaury Porto, consagrado fotógrafo e esportista que há anos surfa de hydrofoil.

“Conheci o foil surf em 2002, quando voltava de uma reportagem que fiz para a HARDCORE para as ilhas Samoa. Um dos surfistas na barca era o Everaldo Pato Teixeira, e nós paramos no Havaí. Ele precisava fazer umas fotos de um esporte novo que surgia; o João Maurício Jabour, que mora no Havaí, estava com esse equipamento, e era o foil. Fiz as fotos no jet ski deles, até o Pato se machucou; o equipamento era bem diferente do que o que é usado hoje, mas ali começava esse esporte. Me interessei na prática de 2016 para 2017, após ver um vídeo de Kai Lenny, e fiquei curioso… Então achei um fabricante e encomendei um equipamento e fiquei apaixonado. Comecei em 15 de setembro de 2017 e estou maravilhado,” relata Porto.

Porto conta que detém um recorde em Chicama, Peru: “Quatro minutos e 10 segundos sobre um hydrofoil”.

 

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Porto lista três pontos positivos do hydrofoil:

– Não existe flat; você consegue surfar mares ridiculamente pequenos;

– Muito mais tempo sobre a prancha;

– Não existe crowd. Ele normalmente surfa mares sem ninguém; a onda do foil não é a onda que interessa para o surf. A parte mais difícil é o drop (para quem faz na remada); prone surfing, assim chamam os gringos.

Ele frisa ser quase impossível dropar uma onda cavada de foil: “Acho que as pessoas nunca vão conseguir dropar Teahupo’o, nem Puerto Escondido”, especifica. E enfatiza que  as ondas que ele têm surfado de foil, na remada, são ondas que os surfistas não vão buscar.

 

“Como as ondas que surfo aqui, na praia da Galheta, no Farol de Santa Marta; o pessoal surfa mais na beira, mas tem uma onda que quebra lá na pontinha, bem gorda, ela acaba, e vou surfando na ondulação até chegar aonde a galera está surfando. Aí passo longe do pessoal, a uma distância segura, então não há riscos.
Mas é lógico que a pessoa que está com hydrofoil precisa ser prudente e consciente, porque é perigoso.”

Porto acha que o surfista de foil têm de saber que o foil é um equipamento que oferece risco tanto para quem pratica (ele usa capacete) quanto para quem está do lado; ele realmente é mais perigoso que os outros esportes, pega muito mais velocidade, e pode se tornar uma arma, realmente, têm peças afiadas e perigosas.

“Normalmente o surfista de foil já vai procurar uma onda que não interessa para o surfista. Acho que é questão da consciência da pessoa acerca da vida: como dirigir um carro – o motorista consciente permite ao pedestre atravessar; não irá beber; vai muito da postura da pessoa com a vida. Então não vou entrar em um line up lotado de surfistas.”

 

“O surfista de foil, raiz, aquele cara que busca uma performance legal no foil, não vai estar no meio do crowd. Ainda que tenha uma onda boa no meio do crowd, vou evitar, porque um ou outro vai reclamar, e não quero confusão, nem colocar ninguém em risco,” finaliza Porto. 

 

Auto-regulamentação? 

Em maio de 2018, o então prefeito de Anglet, na França, Claude Olive, proibiu o uso de hydrofoils em suas 11 praias distribuídas em 4,5 quilômetros.

Olive assinou uma ordem executiva cujo um dos trechos dizia ser “terminantemente proibida a prática de qualquer atividade que possa representar perigo para o público (nadadores), especialmente atividades que utilizem hydrofoils. Qualquer violação desta regra será registrada e processada de acordo com as disposições do código penal.”

“Acho lamentável qualquer tipo de regulamentação. Se for para regulamentar, precisaríamos regulamentar primeiro estas modalidades, nesta ordem: bodysurf, bodyboard, surfboard, longboard, funboard, stand up paddle, e, por fim, surf foil,” diz Adrien F. Caradec.

Caradec é surfista; pioneiro do Sup em Florianópolis, velejador de wind, kite e wind; paraquedista, piloto de planador e parapente; habilitado na capitania dos portos como Mestre Amador; já ensinou wind e kite a mais de 6000 alunos. Participou junto à Abeta na criação da norma para sistema de gestão de segurança para atividades outdoor; e fabrica hydrofoils para surf, kite, wind e wing.

“No meu ponto de vista, bom senso predomina. Existe um regra de navegação marítima que diz mais ou menos assim, que qualquer embarcação com poder de manobra reduzido tem preferência sobre a outra com maior poder de manobra. Acho perfeita essa regra, pois assim a modalidade bodyboard tem preferência sobre todas e assim por diante; o hydrofoil é o que tem menos preferência sobre os outros.”

 

Caradec não vê problemas em surfar em um line up cheio caso o surfista seja hábil o suficiente. Ele reforça que para o hydrofoil, não é preciso estar onde estão as melhores ondas para o surf. “Queremos onda gorda e cheia, que espume e depois engorde. A onda que nem está boa para o SUP, é a melhor onda para o foil,” explica.

 

 

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“Falta orientação para quem está iniciando. Para o caso de regulamentação, estou de acordo apenas se todas modalidades de surf forem regulamentadas. Falta educação, respeito pelo outro, como falta em todo Brasil. No mar, pior ainda, já que não há fiscalização.”

Caradec enfatiza, acima de tudo, a importância da conscientização acerca da boa prática do hydrofoil.

“Se você está começando, não vá aonde tem gente. Quando vendo equipamento, o cliente assina um termo de responsabilidade. Vá aprender em qualquer lugar, menos aonde tem gente. Você não precisa estar ali, a menos que você queira se exibir; aí é outra questão.”

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