Na última terça-feira o mundo do surf ganhou mais um tricampeão mundial: Gabriel Medina.
Aos 27 anos, o maior surfista brasileiro de todos os tempos chegou ao mesmo patamar em que poucos mortais chegaram: Tom Curren, Mick Fanning e Andy Irons (o único goofy entre eles).
Na história do surf competitivo, agora, somente Mark Richards, com quatro títulos mundiais, e Kelly Slater, com onze, estão à sua frente.
O mais incrível de tudo é que esse feito foi alcançado em um ano de pressões extraordinárias sobre seus ombros – vindas de todos os lados.
Fora da água, sua vida pessoal foi matéria prima para diversos programas de TV e sites de fofoca explorando à exaustão uma suposta briga com sua família, notícias essas acompanhas por uma legião de ‘haters’ famintos por destilar ódio em mensagens ofensivas ao surfista e familiares.
O polêmico resultado das olimpíadas ampliou ainda mais a exposição a Medina e a grande mídia praticamente fabricou uma inimizade entre ele e Kanoa Igarashi que nunca existiu.
E, para completar, a notícia de que não havia se vacinado contra a Covid-19 foi despertou debates acalorados e mais ‘hate’ em tempos de alta polarização de opiniões.
A pressão de 2021 sobre os ombros de Medina foi absurdamente alta e o fato do local hero de Maresias ser uma pessoa introspectiva e de poucas palavras, certamente não ajudou a aliviar esse peso e tampouco a percepção que o público em geral tem dele.
Dentro da água, porém, o brasileiro teve seu melhor ano em termos resultados no circuito mundial de surf. Quatro finais: Newcastle (2º), Narrabeen (1º), Rottnest (1º) e o Surf Ranch (2º), e dois descartes usados em resultados ruins: em Margaret River (ele perdeu em uma rodada de 16 para Seth Moniz) e no México (para Deivid Silva nas quartas de final).
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Essa boa campanha, em outros tempos, serviria de alívio, contudo, o novo formato do Championship Tour e sua WSL Final, poderia por tudo isso abaixo caso o brasileiro não vencesse o evento.
Ou seja, Gabriel Medina, o maior nome da “Tempestade Brasileira”, tinha sua própria tempestade para lidar.
Se considerarmos apenas o peso do título de 2021 e o controverso formado da WSL, já estaríamos pondo um grande peso nas costas do brasileiro. Exagero? Bem, a havaiana Carissa Moore declarou que sentiu uma pressão avassaladora para ganhar seu quinto título.
Ela, inclusive, transpareceu seu nervosismo durante a final contra a brasileira Tatiana Weston-Webb.
Mas, e quanto à Medina? Bem, o brasileiro chegou à Califórnia cerca de três semanas antes do evento, apostou diariamente no insuportável line up de Lowers, e, em meio a um crowd selvagem, foi protagonista dos melhores momentos do free surf.
Na grande final, estava mais centrado do que nunca e surfou tão bem como de costume. Ao que pareceu, inabalável.
Quando conquistou seu tão sonhado terceiro título mundial e se igualou a seu ídolo, Ayrton Senna, caiu no choro, mas rapidamente se recompôs e vestiu novamente sua armadura.
Kelly Slater tinha 39 quando ganhou o último título mundial e Mick Fanning tinha 32 quando conquistou o terceiro.
Onde Gabriel Medina poderá chegar, é um mistério. Mas é certo que, se ele quiser, será muito longe. Capacidade para suportar pressões inimagináveis e continuar centrado em seu objetivo, ele mostrou que tem. Então, que não lhe falte alegria, essa mesma que ele nos deu ontem.
* Por Luciano Meneghello