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Entrevista Gregório Motta: “Nunca coloquei muitas regras para meu trabalho”

Você já viu alguma prancha pintada com café? Sabemos que são infinitas possibilidades criativas no mundo das pranchas de surf, mas até agora não tínhamos visto pranchas pigmentadas com café, ou cúrcuma, até conhecer as pranchas que saíram da sala de shape do surfista e shaper Gregório Motta, da capital paulista, para uma collab com a marca de origem australiana Deus Ex Machina.

 

texto Alexandra Marques

“Tudo começou com a necessidade de as pranchas saírem pintadas da minha sala de shape”, conta Gregório Motta à HARDCORE. “Sempre busquei textura e sensação; algo diferente na pintura que fugisse do comum e do que vemos em surf shops.”

Dessa união orgânica nasceram essas pranchas naturalmente pigmentadas.

 

Gregório Motta com uma das pranchas feitas para a collab com Deus Ex Machina. Conexão Brasil – Austrália – Surf.

 

“Estava na sala de shape com as pranchas prontas para a pintura, tomando café, que é muito parecido com tinta aguada. Tinha um café bem forte e outro aguado, a cor é diferente, arrisquei pintar a prancha com café espontaneamente, à mão livre, e ficou muito legal. O cheiro de café ficou na prancha, que também ficou melada de açúcar… Já tinha explorado algumas coisas com amora; e acabei direcionando essa linha de pranchas para a Deus.”

 

O legal é que a cor chegou por meio de fonte natural, com ingredientes que a gente tem no cotidiano, como café, cúrcuma, e beterraba. Isso também gera novos sentimentos que as pranchas transmitem, reflete Gregório Motta.

Novas sensações e mais ecologia são características intrínsecas da pigmentação natural.

VEJA TAMBÉM: GUIA DE PRANCHAS HARDCORE 

 

Como explica o shaper, a pintura padrão das pranchas geralmente leva solvente, thinner, pistola [quando a tinta não é natural, precisa ser diluída] e mais um monte de insumos.

Por exemplo: para pintar um lado de uma prancha de azul, vc precisa pré-papelar o lado oposto para não manchar a prancha; diluir a tinta com thinner; depois limpar a pistola.

A escolha da pigmentação natural também passa pela aceitação de nova estética por parte do cliente.

“Às vezes o cliente final não aceita que a prancha desbote, por exemplo. Ele precisa estar ciente do que consome; por exemplo, o violeta / magenta da amora pode desbotar, então a pintura natural abraça a experimentação sem medo e também conscientização.”

 

 

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“Shapers de verdade” 

Há 20 anos fazendo pranchas, Motta conta que já passou das 10 mil pranchas produzidas.

Faz 10 anos que trabalha com tintas não nocivas – a guache, que é a base d’água, por exemplo.

 

Gregório Motta – criador e criatura.

 

“Essa relação com a Deus é uma parceria de longevidade. Há 10 anos tenho uma marca que chama Aerofish, e construímos essa collab com a minha pessoa como shaper. Exemplificando, como a Channel Islands (CI) e o Al Merrick: o Al é o shaper e tem pranchas CI e Al Merrick.”

A Deus nasceu entre australianos em Bali; shapers de verdade, originária do estilo de vida viajando de motocicletas DIY, acampando e cozinhando a própria comida, sintetiza Motta.

 

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“A Aerofish nasceu assim: comecei a fazer pranchas para eu surfar. A linguagem das pranchas que eles [da Deus[ surfavam, o pessoal em Bali e na Austrália, era de pranchas com designs alternativo; biquilhas; triquilhas, mas não pranchas performance tradicionais. Sempre busquei design alternativo funcional; têm de funcionar, e dessa forma eles reconheceram meu trabalho.”

 

 

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Fala livre, pelo shaper

Comecei shapear informalmente, para mim, em 2002. Montei a marca em 2004, já registrada, com ponto fisico, loja e sala de shape, e fiquei dois anos informalmente, aprendendo.

Eu trabalhava e estudava; trabalhei muito no ateliê de marcenaria do Carlos Motta, meu pai, aprendi muito com marcenaria e uso de ferramentas.

Depois fui para a Hang Loose, no marketing, e também fazia o direcionamento dos atletas e coleções.

Tudo começou com o shaper japonês Akio (no vídeo abaixo). Quando criança, já fazia pranchas com o Akio, antes de ele voltar do Japão, porque meu pai era surfista e o Akio voltou do Japão e veio ao ateliê.

 

 

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Nessa transição, entre o trampo do ateliê e a Hang Loose, fui aprender com ele, pedi a ele um canto para eu trabalhar…

Foi assim meu primeiro contato, Akio foi o mestre, a pessoa mais importante… Aprendi muito com ele; primeiro a entender o que é uma prancha; como que funciona uma prancha; aprendi muito com o Akio sobre harmonia do design de pranchas.

Porque uma prancha têm de ter um outline bem cortado, cada outline tem seu por quê;  depois a espessura da prancha, mais fina no bico, sobre distribuição de volume; ele sempre me direcionou para ver como é importante uma prancha ser bem distribuída; prancha precisa ter harmonia de distribuição de volume.

Ele também me ensinou muito a parte do artesão; do manuseio de ferramenta, de plaina, serrote, lixadeira… Começa por onde? Desenhando? Cortando? Como é o começo, meio, e fim?

Qual é o caminho? Bloco é isso, vamos medir isso, marcar o centro, tirar metade, calcular 10 para cada lado para ter 20 de largura; apreendi todo esse conhecimento de transmitir seu projeto do 2d para o 3d – a matéria prima de verdade.


Nunca coloquei muitas regras pro meu trabalho, meu design sempre foi muito livre, e isso abriu muito minha cabeça. Sempre testando, surfando, experimentando linhas novas. Tive e tenho muito contato com design caiçara e peixe e pássaro; tudo isso tem aerodinâmica, a canoa tem hidrodinâmica, a canoa tem pingadeira para não cair água dentro; o peixe tem calha de cima e rabo nas laterais.
Cada peixe lento e rápido têm um formato distinto; um peixe de ataque tem um tipo de volume e outline; um pelicano tem asas largas e densas; a andorinha tem rabo de peixe e é super ágil; o avião tem aerodinâmica; a hidrodinâmica se comunica com a aerodinâmica, elas são namoradas…

 

O bólido aquático: nada melhor do que golfinho, baleia, tubarão… chatos em baixo, redondos em cima.

Sobre ângulos de quilhas, porquês, e o que acontece se retos, ou inclinados, a inspiração nas embarcações…

O catamarã são duas baguetes na água e o centro não encosta e ele é muito mais veloz…  Somente em curto espaço ele terá menos atrito e irá virar mais rapidamente. Só que em águas profundas e ondulações selvagens, o veleiro com fundo em “V” é muito melhor: ele navega de forma muito mais sólida, então, pranchas para mar grande têm de ter fundo em “V”; prancha para ondas curtas de explosão e de manobra, têm de ter fundo côncavo, tudo isso se comunica, e foi isso que eu trouxe para o design, essa experiência.

A prancha mágica é a prancha mágica para aquela onda para determinado momento.


Sempre ampliei o leque de modelos de pranchas porque acho que cada prancha te traz uma sensação e surfar é sensação, o tesão, o frio na barriga, é o Go For It que cada prancha te traz; as diferentes leituras… Como um bom leitor lendo um romance, um drama, uma história de horror, uma comédia, cada uma te traz uma sensação, é tudo leitura; cada bólido traz sensações e vivências novas.

 

Acho que sempre quis transmitir essa coisa eclética, a amplitude, é isso que coloco no meu design, acho que é isso que respiro. Gosto de surfar com vários tipos de experiências e sensações; não surfo só de biquilha, surfo com todo tipo de prancha, três quilhas, quatro, longboard…

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