O que é uma prancha de surf? Pergunte a 100 surfistas e obtenha 100 respostas diferentes. A prancha de surf é um dispositivo usado para surfar ondas. Mas a definição de prancha de surf ultrapassa a descrição física. Uma prancha de surf é algo único, tanto no sentido físico quanto metafísico. No processo do design, nenhum aspecto pode ser ignorado. Uma prancha de surf bem projetada deve proporcionar uma experiência transcendental e técnica. Para atingir esse objetivo, ela deve ser funcionalmente relevante para o surfista e o ambiente de surf. Os princípios do design de pranchas reúnem vasta gama de teorias de como surfistas interagem com ondas. É uma ciência não exata com poucos absolutos, se houver.


Texto Alexandra Marques
Foto de abre: o free surfer e shaper Gu Schlickmann em foto de Douglas Cominski

O design começa no mundo metafísico e transita para o mundo físico. Flui da imaginação, desejo, intuição, raciocínio, tentativa, erro, testes e observação.

Não há laboratório ou tanque de testes, embora já tenham inventado as piscinas de ondas artificiais.

O laboratório do surf é a natureza. Surfista, prancha, ondas e nível de surf são as variáveis.

O shaper designer projeta e modela organizando dimensões, rockers, contornos do fundo, contornos do deck, foils, templates, bordas e quilhas para melhor se adequar aos surfistas individualmente, considerando principalmente seu tamanho e habilidade e condições específicas (tamanho, potência e formato) das ondas que serão surfadas.

Este guia de pranchas, além de celebrar os artesãos do surf trazendo diferentes modelos de pranchas, tem por objetivo proporcionar um pouco mais de conhecimento e opções a você. Afinal, quanto mais um surfista experimenta e estuda, mais ele expande sua consciência sobre pranchas e assim, maiores as chances de encontrar diversão e novas possibilidades de conexão com o oceano.

Confira:

GHOST | JON PYZEL

 

Ghost, Jon Pyzel.

Shaper: Jon Pyzel
Modelo: Ghost
Medidas (acima):
6’1″ x 19 1/2″ x 2 5/8″ – 31.30 L
Preço: R$ 3.630,00
Instagram: @pyzelbrazil

Conheça o design usado pelo havaiano John John Florence em dois títulos mundiais consecutivos.

A Ghost talvez seja a primeira prancha realmente de alta performance ótima para surfistas de todos os níveis e possivelmente pode ser considerada uma opção única para qualquer trip com ondas entre razoáveis a boas, diz a Pyzel. 

Uma prancha super versátil, a Ghost se tornou uma das favoritas de John John Florence para todos os tipos de ondas. Sobre ela, JJF já venceu em Margaret River; Bells (Ollie Oop); deu carves em J-Bay e surfou também as ondas de Trestles de tamanho médio a grande.

A Ghost foi projetada originalmente para desempenho em ondas tubulares e com pressão. Ela provou ser ótima para reef breaks, beach breaks mexidos, e também funciona muito bem em point breaks.

JJF com a Ghost. Foto: Pyzel / Brasil

“Ela é baseada em nossa Short Cut e tem outline mais refinado. Ela ainda tem o wide point (ponto mais largo da prancha) deslocado ligeiramente à frente do centro, mas a área do bico é mantida para baixo e a rabeta levemente puxada para dentro para ajudá-la a encaixar em curvas mais fechadas. A área mais grossa também é deslocada à frente, o que ajuda entrar nas ondas mais facilmente, e mantivemos a rabeta e as bordas afinadas para ajudar a se manter nos tubos e realizar manobras em velocidade”.

O rocker (curva de fundo) é médio/baixo na metade dianteira para entrar mais facilmente nas ondas e para pegar velocidade rapidamente. A rabeta tem curva mais acentuada para proporcionar maior controle e resposta rápida.

Um concave único corre por toda a parte inferior, com um concave duplo na região das quilhas, para aumentar a manobrabilidade quando você está usando o pé de trás nas batidas e rasgadas, assim como nas transições de uma borda a outra.

A combinação de rocker e concave proporciona alta performance ao lidar com uma grande mistura de sensibilidade e controle.

Ela vem com rabeta round, mas pode ser customizada com qualquer rabeta.

No site da Pyzel, você pode acessar a ‘Calculadora de Volume’ e assim descobrir a litragem ideal para você; também pode ver a simulação em 3D de cada modelo e conferir uma novidade: a ferramenta de realidade aumentada, por meio do qual vocês poderão levar as pranchas até vocês.


MODERN FISH | OGRO SURFBOARDS

Mickey Bernadoni com a Modern Fish, da Ogro Surfboards. Foto: Reprodução

Shaper: Henrique Perrone – Ogro Surfboards
Modelo: Modern fish
Medidas (acima):
5’6” x 20 1/2″ x 2 5/8″ – 30 litros
Preço: A partir de R$ 2.000,00 (branca e sem quilhas)
Instagram: @ogrosurfboards

“A Modern Fish é uma fish biquilha com estética bem similar à minha Retro Fish, mas com a curva de outline mais acentuada do meio da prancha para a rabeta, permitindo curvas mais fechadas do que a Retro,” explica Perrone.

É uma prancha muito veloz que entra fácil na onda e permite surfar ondas cavadas mais no pocket, segundo o shaper. Indicada para quem quer uma prancha com aparência retrô mas que ofereça performance, diz Ogro. Tem bastante volume no peito, por isso oferece boa remada.

 

Após morar na Austrália, Nova Zelândia e França, Ogro formou-se em trabalhos de carpintaria e aprofundou-se no estudo das formas. Tal expertise foi base para fundação da Ogro Surfboards, que segundo Perrone é pioneira no Brasil na produção de réplicas artesanais de pranchas históricas.

O shaper começou a surfar aos 13 anos, por influência do irmão mais velho, que lhe deu uma Pirata Surfboards de presente. Após um tempo, ele cortou a quilha traseira da prancha para ver como seria surfar de biquilha: “Surgia meu interesse em shapes diferentes,” ele diz.

Henrique Perrone. Foto: Reprodução / Ogrosurfboards.com
Henrique Perrone. Foto: Reprodução / Ogrosurfboards.com

Na época em que morou na Austrália, ele resgatou muitas pranchas antigas do lixo: eram designs de Simon Anderson, Wayne Lynch, Terry Fitzgerald, Dick Brewer, entre outros lendários. Assim foi montando seu quiver de relíquias com o qual também surfava vez ou outra.

Após dois anos na gringa, ele voltou ao Brasil e fez o curso de shaper com Henry Lelot, na capital carioca. Voltou para Porto Alegre, RS; fez uma prancha para um amigo; fez outra para ele próprio; mais uma para seu irmão, e a partir daí as pessoas ao seu redor começaram a se interessar por suas pranchas.

Sempre shapeando à mão e com laminação pigmentada, ele conta que a prancha que ele mais faz é a biquilha; tanto a fish quanto a round twin.

Ogro diz que é apaixonado por fazer pranchas à mão. Segundo ele, modelar à mão reflete sua busca pela harmonia na conexão homem-prancha-oceano.

FADED | M. SHAPES

Faded, pela M. Shapes, de Camburi, São Sebastião, SP. Foto: Arquivo pessoal

Shaper: Ronaldo Marques – M. Shapes
Modelo: Faded
Medidas (acima): 5’8″ x 19 x 2.40 – 27 litros
Preço: A partir de R$ 1.800,00 (branca e sem quilhas); R$ 2.200,00 pigmentada e R$ 2.400 pigmentada e polida
Instagram: @m.shapes

No bico, a entrada de rocker é mais acentuada. Do centro para trás, é mais suave até as quilhas, com um kick no final; tudo com muito concave do bico à rabeta, permitindo drive e controle nos arcos,” explica Ronaldo Marques. 

O surfista e shaper de Camburi, São Sebastião, SP, conta que sempre buscou pela biquilha que suportasse arcos fortes nas partes críticas da onda.

“A biquilha ideal teria o drive da triquilha e o flow da biquilha. Vinha utilizando diferentes inspirações; modelos de quilhas originavam novas proporções de rabetas, sempre observando a natureza em busca de curvas e formas.”

A magia surgiu com o tempo, segundo ele, um presente: “Miguel me pede uma triquilha alternativa e o resultado chegou como uma prancha fina demais, segundo o cliente”. Então eles combinam de fazer outra prancha e o bloco fica em um quarto. “Alguns meses depois, levo o bloco à sala de shape e percebo que o tempo havia alterado a curva de rocker, concaves e definitivamente minhas ideias.”

Nascia a biquilha Faded, que segundo Marques, chegou da laminação como um bicho estranho.

“Na primeira sessão de testes, percebemos o potencial que se confirmou nos pés de diferentes surfistas e tipos de onda. Foi um acidente feliz. Um amigo retornou para o outside comentando que ao terminar a onda surfada, virou a prancha para ter certeza se era mesmo biquilha. Definitivamente um bicho novo no quintal.”


SUPER HIGH TWIN | BALTAZAR CUSTOMS SURFBOARDS

Shaper: Cesar Baltazar – Baltazar Customs
Modelo: Super High Twin
Medidas (acima): 5’5″ x 19 1/2″ x 2 3/8″ – 27 litros
Preço: A partir de R$ 2.500,00
Instagram: @baltazarcustoms

Se tem um cara que testa seus designs em ondas de consequência, esse é o Cesar Baltazar.

Da capital carioca para a Indonésia, aonde Baltazar mora há mais de dois anos e divide a sala de shape com o amigo Russo que lamina suas pranchas, ele conta, via telefone, sobre seus experimentos.

“A Super High Twin é uma biquilha de alta performance, muito rápida e muito boa para ondas tubulares. Tem fundo com double concave acentuado e posso dizer que é uma biquilha para todas as condições,” conta Baltazar.

Após minutos de conversa, fica clara sua fissura pela biquilhas. E por Padang Padang, sua onda favorita e pista de treinos dos seus designs.

Baltazar conta que foi surfista profissional nos anos 1980 e que fez a primeira prancha da vida em uma competição da qual ele participava como pró.

“Eu estava prestes a competir na icônica etapa do circuito mundial de surf da ASP [atual WSL], na praia da Joaquina, SC, pela equipe da Crystal Grafitti, mas não tinha prancha para surfar as triagens classificatórias. Sem nenhum shaper para ajudar nessa missão, fui para a sala de shape e fiz minha prancha. Com ela, avancei em consecutivas baterias, das triagens até o evento principal”.

Seu filho, Alexandre Baltazar, mora na capital carioca, é surfista e designer e também responsável pelas artes das pranchas da Baltazar Customs.

“A galera aqui dá risada quando eu conto, mas te juro que antes de o Kelly Slater aparecer com aquela biquilha preta na primeira etapa do circuito mundial em Pipeline, ele passou uma temporada aqui na Indonésia e me viu pegando tubo atrás de tubo com minha biquilha em Padang Padang. Não duvido que isso o tenha inspirado”, conta Baltazar.


IF5 | SILVER SURF SURFBOARDS

Italo Ferreira com a IF5, da Silver Surf Surfboards. Foto: Mocotó

Shaper: Adriano “Teco” e Sylvio “Tico” Oliveira – Silver Surf Surfboards
Modelo: IF5
Medidas (acima): 5’11” x 19 1/2″ x 2 5/8″ – 32 litros
Preço: A partir de R$ 3.300,00 (PU branca)
Instagram: @silversurfsurfboards

* Medidas do Italo Ferreira na foto acima: 5’10 x 18 ½ x 2 ¼ – 26 litros

IF5, pela Silver Surf Surfboards, dos irmãos Tico e Teco. Foto: Reprodução / arquivo pessoal

Quem surfa com a IF5? “Do campeão mundial até quem busca suas primeiras ondas,” contam os irmãos Adriano “Teco” e Sylvio “Tico” Oliveira, shapers e diretores da Silver Surf Surfboards, de Santos, SP.

Sylvio explica as linhas bem balanceadas da IF5, dizendo que as curvas do modelo não são muito acentuadas como geralmente acontece nas pranchas de surfistas profissionais que treinam para alta performance.

“Claro, ainda são curvas de uma prancha de alta performance, porém nada muito exagerado em termos de curvatura e concave. Por isso também vemos boa aceitação da prancha por todos tipos de surfistas que surfam com prancha performance, desde um profissional até um surfista amador e / ou um surfista de final de semana. Todos esses adaptam-se facilmente.”

“Brincamos que Italo tem três shapers: o Adriano e o Sylvio, aqui no Brasil, e o Timmy, na Califórnia,” diz Adriano, explicando que a IF5 foi desenvolvida em parceria com o shaper Timmy Patterson porque os irmãos queriam muito o Italo no time da T.Patterson Brasil, mas o potiguar ainda não tinha um modelo de acordo com suas características.

Situada em Santos, SP, a Silver Surf Surfboards foi criada em 1994, quando os irmãos e shapers, ainda em sua adolescência, acreditaram no sonho de viver da arte de fazer pranchas.

“O que nos motiva acordar todo dia com tesão de fazer pranchas é poder seguir o sonho da nossa adolescência. Somos apaixonados pelo surf e por fazer pranchas. Nunca foi fácil e até hoje cada dia é uma batalha, mas as conquistas nos dão gás para seguir evoluindo sempre,” conta a dupla.


WHAT!? | ARENQUE SURFBOARDS

Yago Dora com a prancha What!?, da Arenque Surfboards, de Florianópolis, SC. Foto: Mario Nastri

Shaper: Rogério Arenque – Arenque Surfboards
Modelo: What?!
Medidas (acima): [consulte o shaper]
Preço: A partir de R$ 2.890,00 (em 12x)
Instagram: @arenquesurfboards

 

Uma prancha de alta performance com características que a tornam amigável em condições de ondas mais fracas, sendo ótima alternativa para o surfista intermediário e um dos modelos mais vendidos atualmente,” conta Rogério Arenque.

A What!? faz parte da linha Standard, que traz pranchas que funcionam em diversas condições. As mais usadas por competidores na hora das baterias, as pranchas dessa linha são também ótima opção para o quiver de uma prancha só.

O modelo surgiu da necessidade de incluir na linha Standard uma prancha para auxiliar o surfista comum em condições de ondas fracas mantendo o máximo de radicalidade e segurança.

Yago Dora com a prancha What!?, da Arenque Surfboards, de Florianópolis, SC. Foto: Mario Nastri

“Para isso, as alterações básicas que fizemos foram diminuir o rocker de entrada, aliviar o kick tail e aumentar largura no bico e na rabeta. Essas alterações, combinadas com um full concave acentuado e bordas progressivamente mais baixas do meio para trás, foram a maneira mais eficiente que encontramos para atingir nosso objetivo com esse modelo”.

Yago Dora com a prancha What!?, da Arenque Surfboards, de Florianópolis, SC. Foto: Mario Nastri

Arenque diz que se sente honrado “em fazer um objeto que faz a interface. É só um objeto, mas sem ele, o surf não existe. O que mais me inspira na construção das pranchas é obter linhas harmoniosas que se encaixem com os objetivos da performance, unindo estética e a funcionalidade,” conta o shaper baseado em Florianópolis, SC.

O shaper exalta um diferencial importante em todas as pranchas feitas pelo time: “Usamos resina norte-americana (Silmar) e tecido de fibra de vidro da mesma nacionalidade (Aerialite), ambas matérias primas nobres e fortemente reconhecidas na indústria de pranchas”.


GROWLER | TROPICAL BRASIL SURFBOARDS

 

Shaper: Avelino Bastos – Tropical Brasil
Modelo: Growler
Medidas (acima): 5’5″ x 20 3/8″ x 2 1/2″ – 31,5 litros
Preço: A partir de R$ 2.150,00
Instagram: @tropicalbrasilsurfboards

O shaper Avelino Bastos recebeu o desafio de um atleta que pediu por uma prancha para ondas pequenas que fosse veloz e proporcionasse um surf alternativo ao de uma prancha performance convencional.

“O que é surf alternativo?”, pergunto.

“As pranchas de performance convencionais têm um surf muito agudo,” explica Avelino. “Exigem muita movimentação do surfista; muitas vezes não aceitam que você apenas queira fluir na onda. Essa prancha tem justamente esta característica: você pode exigir dela tanto movimentos rápidos, secos e quebrados, surfando de forma dinâmica, quanto fluir pela onda sem exigir quebra de direção rápida e intensa. Nesse ponto que ela é alternativa,” responde o shaper. 

Veloz e ágil na troca de bordas, a Growler encara ondas pequenas e cheias ou cavadas com fluidez que surpreende na transposição das seções da onda, conta Bastos.

O design do modelo possui fundo full concave, rabeta double wing squash e conceitos inovadores de design na área do bico, gerando estabilidade e segurança na aterrissagem dos aéreos.

“Ela tem um bico completamente fora do normal; talvez nas imagens das fotos você não consiga ver, mas se você for no site e buscar pela Growler, tem uma foto da visão lateral na qual você vê o foil da prancha e percebe que ela tem um bico diferente.”

Avelino conta que aumentou o volume por cima da prancha mas manteve a borda baixa; ela tem um desenho de bico na distribuição de volume na curvatura e não somente no outline. Assim ela tem essa borda forte de ataque e ao mesmo tempo sustentação de volume maior na região do bico, permitindo se deslocar com o peso para frente sem que a borda ou o bico sejam grossos (o que tiraria agilidade da prancha).

O design Growler tem tecnologia de laminação Blade, composta por EPS/EPOXY sem longarina e reforçada por fibras sintéticas de alta resistência.

Surfista fissurado, pesquisador ávido e minucioso que mergulha nas tecnologias da Fórmula 1 e da construção de aviões, entre outras, Bastos criou sua primeira prancha aos 9 anos após colocar uma quilha de latão em uma tábua de passar roupa. Ele viu seu primeiro invento afundar; depois tentou novamente com uma bóia de pneu de caminhão, só que o protótipo flutuava demais. Assim começou sua consagrada trajetória no mundo da construção das pranchas de surf.

Fundou a Tropical Brasil em 1981, com a qual conquistou títulos com expoentes do surf competitivo nacional, como David Husadel e os irmãos Teco e Neco Padaratz; entre seus feitos, projetou e construiu uma máquina de shape em 1986; em 2015 criou sua plataforma de EPS/EPÓXI CWXes, agregando processo tecnológico de última geração à fabricação de pranchas. Bastos ganhou sete vezes o prêmio de melhor shaper pela revista Fluir.


MIDWAY | SEVENTY SURFBOARDS

Midway, pela Seventy Surfboards, de Santos, SP. Foto: Arquivo pessoal
Alexandre Wolthers em Nias com a Midway, da Seventy Surfboards, de Santos, SP. Foto: Arquivo pessoal

Shaper: Pedro Fujarra – Seventy Surfboards
Modelo: Midway
Medidas (acima): 7’0″ x 21″ x 2 11/16″ – 41,5 litros
Preço: A partir de R$ 2.290,00
Instagram: @seventysurf

Assistir ao surfista santista Alexandre Wolthers deslizando pela mítica Nias, na costa da Sumatra, Indonésia, no filme “Seeds Of Joy”, de Heitor Vallim, nos faz ter certeza de que a Midway funciona que é uma beleza em ondas cavadas.

“O design também tem ótimo desempenho em ondas cheias e menores,” conta o shaper Pedro Fujarra, de Santos, SP.

“Uma prancha desenhada para ser o mais versátil possível, que proporciona um surf fácil e seguro, por isso atende aos surfistas iniciantes. Já os mais avançados conseguem extrair toda performance dela. O fundo é composto por um single concave que se transforma em V Bottom, gerando velocidade e facilidade nas trocas de borda. A prancha possui curva de entrada média/baixa (que facilita a entrada na onda e gera velocidade) e tem curva de saída média/alta (que ajuda na hora de manobrar).”

“A distribuição de volume é o diferencial do modelo. As partes frontal e traseira são mais finas em relação à espessura, deixando a rabeta mais sensível e o bico mais leve na hora de manobrar. O volume está concentrado na parte central da prancha, proporcionando excelente remada. Por conta dessa distribuição de volume, conseguimos deixar a borda mais baixa mesmo com litragem extra”.

O bico possui borda “faca” que se transforma em uma falsa 50/50. Antes das quilhas, tem início uma linha de edge bem acentuada. Essa combinação oferece uma prancha segura, com muita projeção e resposta.

O modelo está disponível em PU e EPS, e as dimensões recomendadas vão de 6’8 a 7’6. O sistema de quilhas é 2 + 1 (caixa central mais estabilizadores laterais, com opção para FCS II ou Future Fins).

Alexandre Wolthers com a Midway, da Seventy Surfboards, de Santos, SP. Foto: Arquivo pessoal

“Essa prancha me proporciona remada de uma prancha maior ao mesmo tempo que tem versatilidade de pranchinha,” conta Wolthers, que levou para Nias o modelo no tamanho 7’2 (foto acima). Ele diz que antes de a Midway percorrer os cilindros de Nias, ela passou por um aquecimento em ondas grandes e tubulares do México.

“Foi a prancha ideal para a trip dos tubos. Com boa remada, consegui entrar na onda antecipadamente, além de sentir muita segurança e drive. Escolhi uma quilha central de seis polegadas e meia com uma quilha estabilizadora de cada lado; esse tipo de configuração deixou a prancha bem versátil,” diz Wolthers.


GLIDER | NECO CARBONE

Shaper: Neco Carbone
Modelo: Glider
Medidas (acima): 10’6″ x 23 1/2″ x 3″ (para litragem consulte o shaper)
Preço: Consulte o shaper
Instagram: @neco_carbone

Glide significa deslizar, conta Neco Carbone. Esse é um modelo de longboard que normalmente é feito maior, com tamanho entre 10 e 12 pés, com bico mais estreito e pontudo. “Com esse bico mais fechado, ela corta mais água,” explica o shaper e surfista Neco Carbone. “É uma prancha bem veloz tanto na remada quanto na parede da onda.”

Neco conta que esse design é criação do shaper Skip Frye, que só usa gliders, e que diferentemente de uma nose rider [pranchas longboard feitas para manobrar no bico], a Glider é uma prancha para deslizar e curtir.

“Esse é o barato da Glider… Deslizar apenas, sem pressa e sem compromisso”.

Pergunto a Neco como administrar o drive dessa prancha sendo ela maior e mais veloz do que a maioria dos longboards. “Com a mente [risos]…é sério!”, ele rebate.

Ele diz que a prancha serve para pessoas de qualquer habilidade e que é perfeita para Kahunas [palavra que significa protetor do segredo, na tradução livre do havaiano para o português; assim se nomeia o título que se dá, no Havaí, a um sacerdote; experiente, mestre ou conselheiro]. “É a prancha da terceira idade,” ele define.

Neco fala sobre uma senhora no Guarujá com 60 anos de idade que está aprendendo a surfar com uma Glider 11 pés. “Coloquei o bico com mais curva para facilitar o posicionamento dela na remada e o drop”.

O surfista e shaper já experimentou a Glider como monoquilha, biquilha e triquilha com dois estabilizadores. “Single (monoquilha) é melhor porque você pode fazer curvas no meio da prancha,” reforça o shaper.

Qual o máximo possível de tamanho de onda para pegar com ela? “Essa é a melhor coisa: você pega de um palmo de onda até Waimea Bay.

Ele, inclusive, tem uma glider no seu quiver: “Estou com ela há semanas; é a minha terceira de 11 pés e é mágica”.

 

55 | CLAUDIO HENNEK, WETWORKS SURFBOARDS

Modelo 55, Claudio Hennek, Wetworks.

Shaper: Claudio Hennek
Modelo: 55
Medidas (acima): consulte o shaper
Preço: R$ 2.600,00  R$ 3.290,00 (varia conforme pintura e/ou forma de pagamento)
Instagram: @wetworks_surfboards

“A 55 foi uma evolução de uma maroleira do Treko [Marcelo Trekinho] que ele adorava – uma 5’5 swallow. Com o tempo, apareceu a necessidade de mudança: fazer uma rabeta redonda que segurasse nas ondas mais esburacadas,” conta Hennek.

O modelo 55 surgiu das pranchas pequenas que o Claudio Hennek fazia para o Marcelo Trekinho, em sua maioria, pranchas com rabeta swallow e design de fish.

Tendo como característica principal menos curva e um pouco mais de área de bico, ela se tornou uma prancha mais específica que o modelo Trekinho – criado para ser uma prancha de performance do dia a dia.

Podendo ser feita tanto em PU quanto em EPS (preferência atual do Trekinho), está disponível nos tamanhos 5’6 e 5’7, podendo ser adaptada para os que preferem pranchas maiores.

“Hoje em dia, além das pranchas do dia a dia e das encomendas particulares; das encomendas de atleta, e todas particularidades de cada prancha, busco fazer pranchas com litragem bem alta mas que não fiquem muito abrutalhadas. Tentando fazer pranchas com alto volume mas com pegada de performance, porque acho que é um grande desafio você conseguir fazer uma prancha com litragem alta, grossa e larga, e ao mesmo tempo ela ser arisca e responsiva. Sinto um novo boom do surf, talvez efeito colateral da pandemia, que trouxe muita gente de volta, tanto novos surfistas principiantes quanto os que estavam parados. Percebo muitas vezes que o fator remada é importantíssimo e meu foco é conseguir compor uma prancha com boa explosão de remada e ao mesmo tempo rápida, responsiva e sensível,” diz Hennek.


Bólido | JOCA SECCO, WETWORKS SURFBOARDS

Modelo Bólido, Joca Secco, Wetworks.

Shaper: Joca Secco
Modelo: Bólido
Medidas (acima): consulte o shaper
Preço: R$ 1.850,00 se for branca e de PU | Acréscimo de R$ 200,00 se for de EPS com longarina; acréscimo de R$ 300,00 de for de EPS sem longarina (Flex); acréscimo de R$ 150,00 se a prancha tiver pintura ou desenho. 
Instagram: @wetworks_surfboards

O que significa bólido?

Um veículo que se desloca em alta velocidade, responde Joca Secco.

A Bólido nasceu do World Pro – o modelo de alta performance do Joca Secco, com a diferença de ter mais área, espessura e consequentemente mais volume no bico.

Dessa forma, a Bólido ganha remada e possibilita arcos mais longos, mas ainda tem funcionalidade de alta performance, diz o shaper.

Por unir desempenho e conforto na remada, ela abrange gama maior de surfistas, e revelou-se opção melhor aceita entre aqueles que surfam de Secco.

Qual sua febre?, pergunto ao shaper carioca que foi surfista profissional competidor entre 1980 e 1990.

Ele diz que sua busca foi e segue sendo a de customizar ao máximo a prancha para cada surfista. Ou seja, conseguir adequar o modelo para o que o surfista quer; seu momento técnico, de idade, necessidade de viagem ou local de surf.

“Customizar para cada cliente a prancha ideal para ele,” ele sintetiza objetivamente o que parece simples mas não é.

“Minha ideia é aperfeiçoar as pranchas de alta performance,” prossegue ele, explicando que todo surfista sempre busca algum tipo de evolução, seja ele mais experiente ou amador.

“É sobre oferecer modelos cada vez mais aprimorados para que o surfista tenha percepção diferente de cada prancha e tipo de onda. Posso fazer uma prancha mais reta ou mais curva; hoje em dia faço double concaves mais profundos com um pouco de V Bottom na rabeta. Tem várias coisas que mudamos para proporcionar essas sensações diferentes entre um modelo e outro. Feeling; a busca do surfista de alma.”


INTERMEDIÁRIA | SCHLICKMANN SURFBOARDS

Modelo Intermediária, de João Schlickmann.

Shaper: João Schlickmann
Modelo: Intermediária
Medidas (acima): 5’9″ x 19’5″ x 2 7/16″ – 29.1L
Preço: R$ 1.600,00 branca; acréscimo de R$ 120,00 com cor.
Instagram: @schlickmannsurfboards

“É uma prancha que fica entre a Dia Dia e a Retrô. A Dia Dia é high performance, bico e rabeta esticados, fininha; a Retrô é mais redondinha, grossa, para marola; uma prancha com bastante área. A Intermediária é uma das que mais sai. Do meio para baixo, ela é a Dia Dia; para frente, coloquei um pouco da Retrô e alarguei o bico e a espessura”, diz João Schlickmann.

O surfista e shaper explica que faz a prancha de acordo com o peso, altura, idade e nível de experiência do surfista. Que o modelo pode ter qualquer tipo de rabeta, que pode ser square, squash ou round pin e, dependendo do peso do surfista, ele indica quilhas pequenas, médias ou grandes.

Aos 20 anos, João formou-se em edificações pela Escola Técnica Federal de Santa Catarina. Ele conta que seu pai era bancário e não suportava o trabalho por conta do regime de escritório das 9h às 17h. De alguma maneira osmótica, João não queria algo parecido nem de perto, e não lhe restou dúvidas quando optou pela carreira de shaper. Como bom conhecedor das ondas, consagrou-se habilidoso surfista (e também skatista) e um dos shapers designers mais conhecidos no Brasil.

Hoje aos 59 anos ele surfa com a mesma fissura de quando tinha 20 anos. Era um domingo de manhã quando ele me enviou uma foto da Praia Mole, céu azul, swell sólido que tinha encostado, e a empolgação que veio em forma de áudio: “Alto dia. Altas Ondas!”.


JUSTICEIRA | GUSTAVO SCHLICKMANN SHAPES

Gu Schlickmann. Foto: Douglas Cominksi

Shaper: Gustavo Schlickmann
Modelo: Justiceira | 5’10” 1/2″ x 18 9/16″ x 2 3/16″ – 24.27 litros
Preço: R$ 1900,00
Instagram: @gu_schlickmann_shapes

“Um modelo de alta performance para surfistas que buscam um surf solto e rápido. Tem ótimo desempenho em ondas tubulares”, conta Gu Shlickmann.

“A Justiceira tem bordas baixas e curvas acentuadas e pouca área de bico e rabeta. O fundo é single to double concave, saindo de V Bottom na rabeta”, pontua Gu. 

Com 33 anos, Gu surfa desde os três anos [foi na Lagoa da Conceição que deu suas primeiras remadas]; foi competidor e é free surfer talentoso. Ele segue o legado do pai, João, e diz que cresceu dentro de uma fábrica de pranchas.

Com 8 anos, ele iniciou nas competições e assim seguiu até os 14, pela categoria iniciantes. “Tive alguns títulos como amador e alguns bons resultados como profissional. Mas o que sempre me instigou desde pequeno foram as viagens como free surfer para produção de fotos e vídeos, sempre testando modelos criados pelo meu pai João Schlickmann. Em 2018, voltando de uma viagem da Califórnia, comecei a me interessar muito pelos shapes; fiquei dois anos só assistindo para pegar as sessões e agora venho fazendo as minhas próprias pranchas, baseado em toda vivência que o surf me proporcionou ao longo desses anos de dedicação”.