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Destaque no Dream Tour, Fininho comunica que não vai para próximas etapas por dificuldade financeira

Por Mariana Broggi

Quem conhece o cenário do surfe no Brasil, certamente admira o atual campeão catarinense, o surfista José Francisco da Silva Neto, carinhosamente conhecido como “Fininho”. Sua história de superação, originada de uma infância marcada por inúmeras dificuldades, é um exemplo vivo de perseverança e determinação. No entanto, recentemente, a notícia de que ele não participará das próximas etapas do Dream Tour devido à falta de recursos financeiros trouxe à tona a complexa realidade enfrentada por muitos atletas, inclusive aqueles que estão na divisão principal do Circuito Brasileiro de Surfe.

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Desde cedo, Fininho esteve imerso nas mazelas sociais que frequentemente afetam os jovens negros em nosso país. Criado em um ambiente de violência familiar e marcado pelo impacto do álcool, ele encontrou em casa uma realidade de dor e conflito. Essa situação o levou a uma decisão difícil: fugir de casa em busca de uma mínima liberdade. Com apenas 7 anos de idade, ele partiu, levando consigo um irmão ainda mais novo.

Porém, a vida nas ruas também representou um cárcere social para Fininho. Dependendo da solidariedade alheia para conseguir comida e moedas em Cabedelo, região metropolitana de João Pessoa, ele testemunhou a dura realidade de ter poucas oportunidades à sua disposição. As circunstâncias à sua volta não apontavam para um futuro promissor, mas ele possuía um dom: o surfe.

Sua jornada no esporte começou nas ondas do Mar do Macaco em Cabedelo, e lá ele passou de um jovem que fugiu de casa para um talentoso surfista que ganhou seu lugar nas competições profissionais. No entanto, os desafios não pararam por aí. Enfrentar os custos financeiros associados a um esporte que frequentemente carece de patrocínio, somados aos altos gastos com viagens e competições, acaba por trazer obstáculos praticamente intransponíveis.

Destaque no Dream Tour Praia Mole

O surfista, atualmente na 6ª posição do ranking do Dream Tour, está participando da etapa da Praia Mole do circuito e tem demonstrado muita habilidade e determinação. Nesta quinta-feira (31), ele venceu a bateria da segunda fase contra o campeão mundial de 2015, Adriano de Souza, com um somatório de 15.94 proveniente das notas 8.17 e 7.77. Seu sucesso nas ondas da Praia Mole o colocou nas oitavas de final da competição, onde enfrentará o paraibano Kaua Hanson. Mesmo no pior cenário, Fininho levará para casa R$5.000 de premiação – valor esse que ainda é baixo, dadas as despesas de vida no país.

Apesar dessa conquista, Fininho se vê obrigado a abrir mão das próximas etapas, incluindo a quarta etapa do tour, que será realizada em Alagoas. Em uma entrevista emocionante após a bateria, ele comentou sobre suas dificuldades. “Eu tento até segurar para não chorar, porque a minha história realmente foi de muita superação. Eu até queria evitar de contar do meu passado, porque eu quero que as pessoas me conheçam pelo meu trabalho, pelo meu potencial e não que sintam pena de mim”, explicou ele, complementando: “Por mais que eu não tenha as características [físicas] de um surfista, eu estou aqui quebrando esse padrão do surfista loirinho de olhos azuis”.

Após mencionar a falta de patrocínio e as dificuldades de custear a carreira no surfe, Fininho também contou sobre as questões financeiras que enfrenta. “Eu fiz até um vídeo ontem falando um pouco sobre o motivo de eu não ir [para a competição em Alagoas]. Infelizmente, é por falta de condição financeira. Não vou conseguir fazer esse investimento”, explica o surfista. “Por isso, esta etapa [da Praia Mole] será muito especial, estou dando o meu máximo para subir no ranking”, completou.

Ricardo Bocão recebe críticas

Ao saber que o surfista não participaria da etapa de Alagoas do Dream Tour, Ricardo Bocão, comentarista da transmissão do campeonato na Praia Mole, expressou sua visão crítica. “Uma coisa é não ir para um lugar mais distante, mas Maceió?”, comentou Bocão sem entender o posicionamento de Fininho.

Erica Prado, outra comentarista do Dream Tour, ainda tentou questionar Bocão. “Gente, mas uma passagem aérea de Florianópolis para Maceió está bem cara”, disse ela. O comentarista, entretanto, manteve sua posição. “Mas olha, hoje em dia você entra de noite em uma aba anônima na internet e dá para comprar com preço bom. E ainda posso estender um pouco: hoje tem passagem de ônibus que você vai dormindo, com preço muito razoável, você se programa, sai antes e vai. Não dá para a gente imaginar Fininho não competindo em uma etapa por questões financeiras”, disse ele.

A opinião de Bocão ecoou entre grupos de surfistas no WhatsApp, gerando uma onda de críticas e considerações desfavoráveis. Muitos consideraram seus comentários infelizes, apontando para uma falta de compreensão da realidade enfrentada pelos surfistas brasileiros desprovidos de patrocínio e sem meios financeiros sólidos.

De fato, embora a premiação em dinheiro seja uma conquista, muitas vezes, o valor pode não ser o suficiente para cobrir as despesas de vida, bem como os custos contínuos de viagens e competições. Enquanto Bocão e outros possam questionar a decisão de Fininho, é essencial reconhecer a realidade financeira que muitos atletas enfrentam, independentemente de seu sucesso nas competições.

A história de Fininho nos faz lembrar de forma vívida que no mundo do esporte profissional, muitas vezes, os maiores desafios residem fora das próprias modalidades. Ser um surfista no Brasil não se resume apenas a aprimorar habilidades técnicas e conquistar proezas nas águas, mas também envolve encarar diariamente a batalha financeira e a busca por um patrocinador que possa garantir a continuidade e o progresso da carreira.

Da perspectiva da evolução esportiva, é crucial que grandes marcas reconheçam os notáveis talentos brasileiros, dando-lhes a oportunidade de focar plenamente no aprimoramento de suas habilidades e no alcance de seu potencial máximo. Isso não só garantirá a continuidade de suas carreiras, mas também contribuirá para elevar o nível competitivo do esporte em nosso país.

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