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Como o surf ajudou a economia de El Salvador

Na década de 1980, a ideia de uma surf trip para El Salvador beirava à insanidade, por conta do risco envolvido.

O país estava mergulhado em uma guerra civil que duraria 12 anos. O governo de extrema direita travava uma batalha sangrenta contra guerrilheiros do Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional.

No meio da guerra estava o povo salvadorenho, massacrado por ambos os lados. E se andar pelas ruas de El Salvador era perigoso, o que dizer sobre o turismo!

Por esse motivo, a maioria das ondas ao longo da costa do Pacífico de pouco mais de 300 quilômetros permaneceram vazias  –  exceto por algumas almas resistentes em áreas mais centrais, como La Libertad.

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Contudo, se em La Libertad as guerrilhas urbanas eram menos prováveis, os assaltos e assassinatos eram constantes, uma vez que a fome e a miséria imperavam.

As coisas começaram a mudar a partir de 1992, quando governo e dissidentes assinaram um acordo de paz em 16 de janeiro.

Surf El Salvador
Batalhas sangrentas foram travadas em frente a algumas das melhores direitas do continente. Felizmente, isso ficou no passado. Foto: Reprodução

Assim, a medida que o país foi se tornando mais seguro, o turismo voltou a ganhar corpo, sendo feito majoritariamente por surfistas, em busca de algumas das melhores direitas da América.

Hoje, os picos como Punta Rocas, em La Libertad, que está recebendo uma etapa do CT da WSL, e dezenas de outros picos de surf pelo país , reencontraram o caminho da prosperidade muito por conta do turismo impulsionado pelo surf.

O turismo de surf gerou muitas visitas a El Salvador de atletas de todo o mundo”, declarou Roberto Ayala, especialista em turismo da Corporação Salvadorenha de Turismo (CORSATUR), à revista Americas Quarterly.

Ayala cita os números de uma pesquisa feita em 2018 encomendada pela CORSATUR: “Dos mais de 350.000 turistas norte-americanos que visitaram El Salvador em 2015, cerca de 38% vieram para as praias”.

O governo salvadorenho entendendo essa importância, fechou parcerias com a ISA e a WSL para a realização de eventos importantes, como a seletiva para os jogos olímpicos, o Mundial de SUP e agora uma etapa do CT.

Mas o impulso econômico trouxe também alguns desafios. Um aumento no turismo de surf levou à privatização de algumas das praias mais atraentes do país. Muitas delas estão localizados em áreas menos desenvolvidas, onde as políticas de propriedade estão constantemente em jogo.

Julia Santos ISA
Estrutura do ISA World Surfing Games em Ela Salvador, fruto de uma parceria bem sucedida com o governo salvadorenho. Foto: ISA

Como (as áreas) são relativamente distantes da capital, San Salvador, pouquíssimos surfistas nacionais vão lá e os picos de surf acaram sendo dominados por estrangeiros.

As autoridades de turismo, por sua vez, não fecharam os olhos para essas preocupações. Ayala ressalta que as praias de El Salvador são todas oficialmente públicas e “os prefeitos locais são responsáveis ​​por garantir que o acesso a elas seja respeitado”.

Ele destaca ainda que as empresas de surf devem cumprir a Lei Nacional do Meio Ambiente, participar de campanhas de conscientização ambiental e cooperar na construção de infraestrutura para tratamento de água e resíduos.

Organizações sem fins lucrativos também estão fazendo sua parte para garantir que o surf continue sendo uma característica positiva da vida salvadorenha.

Várias organizações, como a Share The Stoke Foundation, com sede na Flórida, doam pranchas de surf novas e usadas com cuidado para promover a conscientização ambiental e dar aos jovens salvadorenhos uma alternativa às gangues. Outros organizam acampamentos de surf especificamente para ensinar as mulheres salvadorenhas a pegar as famosas ondas de seu país.

Se sua indústria do turismo de surf crescer de forma sustentável e ambientalmente responsável, El Salvador tem potencial para se tornar uma meca do surf mundial e até o momento, a estratégia parece estar funcionando.

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