Uma das maiores surfistas da história do longboard brasileiro, Chloé Calmon, anunciou que vai tirar um ano de folga do circuito mundial da WSL para se dedicar à sua saúde mental. A decisão, tomada após um ano de intensa competição e cobrança, marca um momento de transição na carreira da atleta brasileira.
“2023 foi um ano bem intenso porque a maneira como a WSL organizou o calendário, eles praticamente concentraram o circuito mundial de longboard em três meses e além disso foi ano de jogos Pan-Americanos e ISA, então foi um ano bem intenso e o segundo semestre eu não parei em casa”, contou Chloé em entrevista ao podcast da Flamboiar. “Foi uma temporada bem difícil mentalmente para mim”, completou.
A atleta, que já competia há 18 anos, sendo 14 anos no Circuito Mundial de Longboard, foi vice-campeã mundial três vezes ao longo de sua carreira e alcançou diversos títulos importantes. A trajetória de grandes conquistas, entretanto, também veio acompanhada de uma pressão interna significativa. “Cada evento estou lá para ganhar, então se fico em segundo lugar ou em último lugar, para mim é ruim de qualquer jeito. Eu estava sendo muito dura comigo mesma”, revelou Chloe em entrevista a Surfer.
Antes um tabu, a saúde mental tem se tornado um tema cada vez mais discutido e compreendido no universo do esporte, inclusive no surf. Recentemente, outros surfistas de elite, como Filipe Toledo, Carissa Moore e Stephanie Gilmore, também anunciaram pausas para cuidar do emocional.
“Esse foi o maior incentivo para mim porque eu os admiro muito”, explica ela sobre sua motivação. “Especialmente Steph, ela é minha maior ídola no surf e quando a vi com vontade de dar um tempo e encontrar inspiração no surf novamente, para mim foi como ‘Se as meninas grandes conseguem fazer isso’… Então, eu me permiti sentir o mesmo e me permiti dar um tempo. E foi a melhor decisão de todas, nunca me senti tão feliz com meu surf, e tão leve”.
Anúncios como esses refletem uma crescente conscientização sobre a importância do bem-estar no esporte. Mesmo aqueles que alcançam reconhecimento internacional não estão imunes às pressões e ao desgaste emocional que vêm com a competição de alto nível. Ao optar por essa pausa, Chloé Calmon reforça a necessidade de priorizar o equilíbrio e a qualidade de vida.
Durante esse período longe das competições, a carioca tem redescoberto o prazer do surf sem as pressões dos julgamentos. Ela viajou para a Indonésia, explorando diferentes pranchas e ondas. “Foi muito divertido surfar em Uluwatu, Lombok e Padang e todas essas ondas,” relatou Chloe. “Não me lembro da última viagem 100% de surf que fiz antes de Bali este ano; tem sido tudo sobre competir ou treinar ou filmar para um patrocinador.”
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Agora, com mais tempo para si, Chloé pretende se dedicar a atividades que lhe tragam prazer e bem-estar, como viagens de freesurf e reconexão com a essência do esporte. Sem saber quando retornará ao circuito mundial, ela espera encontrar uma nova perspectiva e um amor renovado pelo surf.
“Eu tenho trilhado esse caminho de autodescoberta e aprendendo mais sobre o que a Chloé gosta, apenas reaprendendo o verdadeiro significado do surf na minha vida”, disse ela. “Eu quero voltar a vestir a lycra, mas só vou voltar quando me sentir 100%”.