A renomada havaiana Bethany Hamilton encerrou seu patrocínio de longa data com a Rip Curl, marca com a qual estava associada desde 1999. A notícia surge após a surfista ter renovado seu contrato com a marca há pouco tempo, em janeiro de 2022.
Segundo o site australiano Stab.com, o rompimento teria sido motivado por discordância da atleta no posicionamento inclusivo da Rip Curl em relação à participação de surfistas transgênero nas competições.
A Stab falou com funcionários de dentro da Rip Curl que preferiram se manter anônimos e, de acordo com essas fontes, a decisão de romper o contrato – que ainda tinha três anos de duração – foi mútua entre Bethany e a marca. Ambas as partes concordaram em não divulgar detalhes publicamente ou privadamente, sugerindo a assinatura de acordos de confidencialidade (NDAs).
A surfista, que ganhou ainda mais notoriedade mundial após sobreviver a um ataque de tubarão que resultou na perda de seu braço esquerdo, expressou sua discordância da nova política da WSL por meio de vídeos no Instagram feitos no começo desse ano. Nas publicações, que geraram grande repercussão inclusive na grande mídia, ela questionou a justiça competitiva para as atletas do sexo biológico feminino.
Em resposta à decisão da WSL, ela propôs a consideração de distinções biológicas entre homens e mulheres nos esportes, sugerindo até mesmo a criação de uma liga só para atletas transgênero. Entretanto, ao ver que a entidade manteria a regra, ela anunciou que não participaria mais de eventos da WSL.
Segundo a Stab, a relação entre Bethany Hamilton e a Rip Curl tornou-se mais tensa quando a WSL, em um evento patrocinado pela marca de surfwear, não permitiu que a surfista havaiana Bettylou Sakura Johnson usasse o nome de Bethany em seu uniforme durante a competição que contava com ação de Dia Internacional das Mulheres.
Com o rompimento do contrato, a surfista abre mão de centenas de milhares de dólares em receita garantida nos próximos três anos, enquanto a Rip Curl perde uma de suas figuras mais valiosas. Ainda segundo o site australiano, Bethany Hamilton seria a personalidade do surf mais conhecida do mundo, só rivalizando com o onze vezes campeão do mundo, Kelly Slater.
A discussão sobre os direitos de surfistas transgênero no mundo do surf começou há cerca de um ano, quando a surfista transgênero australiana Sasha Jane Lowerson ganhou destaque ao vencer o título de longboard feminino da Western Australia. O debate, entretanto, concentrou-se principalmente na participação dos(as) atletas nas competições, não abordando diretamente a inclusão em campanhas de marketing.
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Esse episódio reflete uma tendência mais ampla no marketing de diversas indústrias, onde a inclusão de representação transgênero em campanhas gera debates complexos. Embora alguns casos de marcas inclusivas, como a Bud Light, tenham apresentado resultados negativos de vendas, dados de mercado indicam que a adoção de publicidade inclusiva pode ressoar positivamente com os consumidores, contribuindo para uma imagem de marca progressista e, consequentemente, aumento dos lucros.
O rompimento da Rip Curl com Bethany ressalta as complexidades da interseção entre convicções pessoais, representação de marca e a evolução contínua das práticas de marketing inclusivo na cultura contemporânea.