* Por Luciano Meneghello
No dia 08 de julho, um artigo publicado pelo site australiano Stab, intitulado “Are Brazilian Champions Detrimental To The WSL?” (tradução livre: “Os campeões brasileiros são prejudiciais à WSL?”), despertou a ira de internautas brazucas, principalmente após o site ter divulgado a matéria em seu perfil no Instagram.
Diversos tops brasileiros que competem na WSL, perfis de empresas brasileiras ligadas ao surf, produtoras, e até mesmo celebridades, como o ator Cauã Reymond, não pouparam críticas – algumas bastante agressivas – ao artigo através de mensagens nos comentários do post.
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É fato que, ao longo dos anos, a maioria dos artigos publicados em sites e revistas de surf australianas e norte-americanas sobre o Brasil é pautada por estereótipos negativos. Contudo, não é este o caso da “polêmica” matéria da Stab.
Assinado pelo ex. editor da Hardcore, Steven Allain, que, apesar do nome “gringo”, é brasileiro, o artigo é, na verdade, uma crítica à postura da WSL dispensada ao público brasileiro. Ou, pelo menos, um questionamento a esse posicionamento.
A começar pelo título, que é uma pergunta e não uma afirmação, Steven ouve surfistas brasileiros da WSL, conversa com empresários e pessoas ligadas ao tour e traça um paralelo entre essas opiniões e os números divulgados (ou colhidos) sobre a entidade.
Basicamente, a pergunta do jornalista reverbera na seguinte questão: se as visualizações das transmissões dos campeonatos são um reflexo do tamanho de seu público, e o número de acessos das transmissões em português é muito maior do que as em inglês, então, porque o público brasileiro segue sendo tratado como “segunda audiência”?
Como transparência nunca foi o forte da WSL, Steven então supõe que o fato dos mercados norte-americano e australiano serem muito mais fortes do que o brasileiro, tem influência direta nisso, pois, a curto prazo, são eles quem “pagam a conta”.
Contudo, se a entidade realmente ambiciona se tornar global, não há oportunidade melhor do que a atual para dar esse passo. Mesmo que, a curto prazo, dar mais atenção para uma audiência que não fale inglês possa significar uma queda na receita.
Claro que é necessário ler todo o artigo para compreender todas as nuances e implicações levantadas pelo jornalista, mas é evidente que não se trata de um artigo que difama o Brasil e os surfistas brasileiros (pelo contrário).
Então, o que justifica tantas críticas, xingamentos e até ameaças feitas à Steven e à Stab por conta do artigo?
Parece que estamos diante de mais um caso clássico de opinião formada por uma manchete, tão comum hoje em dia.
O fato do artigo ser na língua inglesa e não ser gratuito (é necessário assinar o site para ter acesso), em nada ajudam. E, para piorar, a postagem do Instagram feita pela Stab, sobre a matéria, dá margem a uma interpretação equivocada, pois é demasiadamente provocativa, principalmente para quem está cansado de ser visto de forma caricata por anos e anos, por esses mesmos veículos, e não teve acesso ao artigo.
Tudo isso, porém, não justifica tanta agressão gratuita por parte dos brasileiros nos comentários. A “inquisição virtual” é real. Um triste sinal dos tempos atuais.