texto Alexandra Marques
Imagine isto: o ano é 1987, você está na Califórnia e parte para uma viagem sobre duas rodas de uma motocicleta com uma prancha nas costas. Seu destino final é o Brasil. Você é surfista e portanto têm algo intrínseco a todo surfista: a alma viajante. Você também é dotado de muita fé, afinal, atravessará 14 países, muitos deles em polvorosa por conta turbulências sociais e políticas, como guerras civis e guerrilhas do narcotráfico.
Só que você carrega em sua aura a inocência de ser surfista e somente se ocupar de ondas, o que lhe confere certa proteção natural. Ao longo do percurso, fará amigos e encontrará uma série de ondas perfeitas. Muito provavelmente, quebrando sem ninguém. O acesso nem sempre será fácil, mas a recompensa será impagável.
Lembrando apenas que no caso de qualquer perrengue, não tem internet, nem celular ou orelhão… Tampouco, a não ser que você tenha muita sorte, algum hospital por perto. E, claro, sem cartão de crédito.
CONFIRA: HARDCORE Especial – 30 anos de surf
E aí: você partiria para essa jornada de 25 mil km pelas Américas?
O surfista Adrian Kojin, jornalista especializado em surf e aventura e Editor Especial da HARDCORE, completou essa viagem há 35 anos e a partir do próximo 13 de agosto, revisitará essa trip.
“Transformou minha vida”, diz Kojin sobre a aventura épica movida pela paixão pelo surf, que lhe abriu portas para uma carreira, a de jornalista de surf, e também originou o livro “Alma-Panamericana – Uma Aventura de 25 mil km por 14 países”, escrito a partir dos diários da viagem.
“Mas isso não aconteceu por acaso”, ele disse em entrevista recente ao Surfline.com. “Havia estudado jornalismo no Brasil antes de desistir e me mudar para a Califórnia para ficar mais perto das ondas. Enquanto morava em Huntington Beach, também tive aulas de fotografia e um curso que redefiniria minha vida: “Viajar, escrever e vender”.
Por que revisitar a viagem?
A intenção dele é traçar o paralelo entre a trajetória pela Estrada Panamericana há 35 anos e atualmente, e assim, dar vida ao documentário “Pan American Soul 2022”.
“Ao mesmo tempo, pretendo perseguir a história do surf nas Américas, sempre conectado às questões sociais e ambientais locais”, enfatiza Kojin.
Desta vez Kojin atravessará os 14 países da rota original com uma minivan e utilizará uma bicicleta elétrica com rack de prancha acoplado na lateral para explorar os picos mais remotos.
Ele prevê duração de 8 a 9 meses, tempo necessário para cobrir a janela da possibilidade de ondas de excelência pelo caminho.
Kojin viajará com orçamento enxuto, o que segundo ele, não é problema.
“Com menos dinheiro, você tem mais aventura e interação com a população local, e é isso que eu procuro. Exatamente como aconteceu na viagem original em 1987.”
Going For It
Para fazer este documentário acontecer, Kojin lançou uma campanha de crowdfunding de forma independente. É a primeira vez que ele faz algo do tipo, e assim ele pretende levantar fundos para realizar o doc.
Ele quer arrecadar 20 mil dólares, recursos que segundo ele serão usados inicialmente para pagar despesas do começo do projeto documental.
“A partir dessa rede, conseguirei apresentar um documentário que informará as pessoas e irá inspirá-las a viajar de forma parecida; ou realizar qualquer viagem que queiram. Quando viajamos, aprendemos mais sobre os outros e sobre nós mesmos. Acredito que encorajar as pessoas a sair e explorar é uma maneira de ajudar a humanidade rumo a um futuro melhor”, exalta Kojin.
“Estão incluídos edição, direção de arte e publicação dos livros [o Alma Panamericana será traduzido para o inglês, com versões digital, impressa e de livro de mesa], camisetas e impressões em tela [customizadas com fotos da viagem de 1987] que ofereço como recompensa. Além disso, pelo menos parte do equipamento de câmera que usarei foi adquirido. Com isso coberto, as seguintes despesas serão as taxas cobradas pelos fotógrafos e videomakers, somando-se a isso o pagamento de diárias,” diz Kojin, que continuará trabalhando para arrecadar fundos enquanto estiver na estrada.
Resgate das raízes; surfistas na vanguarda
“Seja um viajante de surf, não um turista de surf,” entoa Kojin. Para ele, a forma como agimos ao viajar é fundamental para o desfecho da viagem.
Ele conta que sempre acreditou que surfistas, e aventureiros em geral, têm grande responsabilidade em ajudar a preservar o modo de vida e a cultura das comunidades locais com as quais interagem.
“Os surfistas estão na vanguarda da proteção de muitos pontos ameaçados pelo superdesenvolvimento. Mas temos de olhar também para o outro lado da moeda. Seria cínico não admitir que, de certa forma, os surfistas foram os responsáveis por abrir as estradas que levaram à popularização de lugares antes desconhecidos das massas.”
É praticamente impossível viajar sem deixar algum tipo de impacto, ele sinaliza. Para ele, o documentário “Pan-American Soul” servirá como ferramenta para inspirar as pessoas a terem consciência do que fazem enquanto estão na estrada, com resultado positivo.
Toda a jornada será coberta nas redes sociais, com bastidores da realização do documentário.
Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022. Clique aqui para apoiar o projeto “Pan American Soul 2022”.