Surf e meio ambiente andam lado a lado. Partindo dessa simbiose, o campeão brasileiro de longboard Jairo Lumertz, 49 anos, teve a iniciativa de transformar garrafas PET em pranchas de surf.
“Sou apaixonado pela natureza, e o surfista é o primeiro a sentir a poluição no mar. Falei para os meus amigos: ‘Vou criar uma prancha de garrafas, porque são leves e flutuam'”, conta. A invenção se deu em 2007 e, segundo Lumertz, fez sucesso nas praias havaianas quando as ondas estavam pequenas.
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A prancha ecológica inventada por Lumertz se parece com um longboard. Em 2011, já de volta ao Brasil, o surfista conheceu Carolina Scorsin, 42 anos. Juntos, eles expandiram o projeto pelo Brasil.
“Comecei a juntar as garrafas por aqui; reproduzimos a prancha que ele tinha criado no Havaí em Garopabinha (SC) e ela despertou muito o interesse das pessoas. Assim, começamos a palestrar em escolas sobre nossa experiência”, conta Scorsin.
Depois de abordar as escolas locais, os dois foram até o Rio de Janeiro de carro, parando em cidades litorâneas no caminho e oferecendo a palestra. Em 2012, nasceu a ONG do casal, a Associação Eco Garopaba, que funciona na cidade catarinense que dá nome à organização.
“Já estivemos em 17 estados, passamos por 90 cidades, falamos para 50 mil crianças e adolescentes. Ao menos 30 mil garrafas já foram transformadas em prancha”, diz Scorsin. A meta da ONG é visitar todos os estados do Brasil e o Distrito Federal, já que as pranchas podem ser feitas no modelo maior de stand up paddle.
O processo de fabricação da prancha de PET envolve lixar as garrafas, colá-las com uma substância adesiva especial para poliuretano, criar uma estrutura de canos de PVC e finalizar a parte em que o surfista deita em EVA, explica Lumertz. “Todo o material vem do lixo ou é reciclado. O EVA, por exemplo, é muito descartado por academias”, diz o surfista.
Uma prancha média leva em torno de 45 garrafas PET. A de stand up paddle exige por volta de 80, e a de bodyboard, 15 garrafas. As garrafas são preenchidas com ar por um sistema similar ao de bicicletarias. “Pela estabilidade e por ser mais lenta, a Prancha Ecológica é melhor para iniciantes. Quando ensino alguém, primeiro dou aulas na prancha de garrafa e depois em uma normal”, diz Jairo.
As pranchas, no entanto, não são vendidas. A ideia é que as palestras que o casal realiza nas cidades gerem projetos locais, que repliquem a técnica criada por Lumertz. “Há projetos em outros estados que estão criando pranchas de PET depois de termos plantado essa semente em palestras que fizemos no passado, e essa é a ideia”, afirma Scorsin.
Na sede da ONG, existe um museu de pranchas antigas de Lumertz, além de obras de arte feitas pelo casal com plásticos coloridos encontrados nas praias. “Na pandemia, fomos recolher lixo na praia. Pensei que seria ruim jogarmos o lixo da praia no lixo convencional, que vai para o aterro. Então, decidimos fazer arte”, diz o surfista, que passou a separar os plásticos por cor, facilitando o processo de composição artística. Uma compradora ilustre de um dos quadros foi Simone Medina, mãe do campeão mundial Gabriel Medina.
Atualmente, o Projeto Prancha Ecológica se mantém financeiramente por um edital da Lei de Incentivo do Ministério dos Esportes e pelas profissões paralelas de Lumertz e Scorsin – ele é shaper (fabricante de pranchas de surf) e ela é corretora de imóveis.
Fonte PEGN