Mariana Broggi*
Direto do Panamá
Se você surfa ou acompanha o universo do surf mesmo que só um pouquinho, você ouviu falar muito nesse nome em 2022: João “Chumbinho” Chianca.
O surfista local de Saquarema conseguiu a tão sonhada classificação para o CT (Championship Tour) e se destacou como poucos já fizeram no seu ano de estreia entre os melhores do mundo. Mas, infelizmente, apesar dos diversos high scores em baterias dificílimas, João não conseguiu se manter no circuito principal após o corte do meio da temporada.
Aliás, muitos consideraram o novo sistema da WSL completamente injusto e o saquaremense de 26 anos foi o maior exemplo disso, já que, indiscutivelmente, ele realizou algumas das melhores baterias do ano.
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Na difícil etapa de Pipeline, por exemplo, logo no Round dos 16, ele encarou John John Florence e fez a maior nota da bateria com um tubaço que valeu 9.87. Na ocasião, o seu somatório (16.74) seria o suficiente para passar em qualquer outra bateria, exceto pela sua. Depois, em Bells Beach, a mesma coisa: Ele somou 17.73 contra 18.86 do havaiano John John e também teria passado em qualquer outra bateria daquele Round.
Então afinal, foi má sorte? Talvez um pouco, porque, de fato, João mostrou um surf muito forte, de altíssimo nível e executou sua performance com excelência, exatamente conforme pede o critério de julgamento. Além disso, ele mostrou por que foi um dos grandes nomes do Brasil na temporada, apesar de ter figurado na parte de baixo do ranking.
Por outro lado, assim é o surf. Todos os atletas já passaram por situações como essa de entregar toda a sua performance e acabar tendo a ‘má sorte’ de não ser o suficiente para aquele confronto. Mas uma coisa é fato: é realmente difícil dizer o que faltou no surf de João Chianca para ele se manter na elite.
“Eu não mudaria nada do que eu fiz e eu não me vejo como vítima, porque aconteceu muita coisa boa na minha vida nesse ano”, conta ele à Hardcore. “Eu já consegui concluir a realização de ver o meu potencial, de ver onde eu posso chegar e estive em situações que eu me senti de fato entre os melhores surfistas do mundo”, completa.
A motivação de João Chianca
Entre as diversas batalhas da vida de um surfista, manter a motivação definitivamente é uma delas, mas João carrega em si a capacidade de se reinventar. “Eu vejo muitas situações que podem prejudicar um atleta, como por exemplo, a situação financeira e outras muitas coisas mais, então é realmente difícil manter a motivação”, conta ele. “Mas, eu sempre tive uma mentalidade diferente, já passei sete anos sem patrocínio principal, já passei por altos e baixos, mas minha família sempre me apoiou e eles nunca deixaram eu me abalar e nem deixar a peteca cair”, explica ele sobre sua fonte de força para as competições.
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Apesar de só ter 26 anos, a trajetória de João Chianca no surf já vem de longa data. Ele começou a surfar desde muito cedo e com cerca de 12 anos passou a caminhar em busca de ser um atleta profissional renomado. “Eu não surfo por conta dos pontos, pelo dinheiro, nem pela fama”, conta ele. “Eu acredito realmente que essa seja a minha profissão de alma e eu sei que eu nasci para fazer o que eu faço”, finaliza.
Em 2022, João teve de lidar com muitas experiências diferentes. Ainda que ele tenha ficado de fora do resto do Circuito Mundial, ele também ganhou muita visibilidade e passou a ser conhecido por todos os surfistas como um forte adversário. “É gostoso receber esse carinho e esse presente de ser conhecido e admirado por outras pessoas, mas a verdade é que a gente só tem que calçar as sandálias da humildade, porque no fim isso tudo é ego”, conta ele. “O que eu quero mesmo é dar o meu melhor e seguir lapidando meu surf, porque a gente sempre pode melhorar e eu sei que ainda tenho um longo caminho pela frente”, finaliza.
Challenger Series
Forte, consciente e motivado, João segue pelo Challenger Series e também está colhendo bons frutos que podem o levar de volta para as disputas do CT em 2023. Na última etapa, o Vans US Open, o saquaremense conseguiu o seu melhor resultado do ano no CS e levou o troféu de vice-campeão. Com a conquista, ele subiu 51 posições no ranking, alcançando a 11ª colocação, o que seria exatamente o suficiente para ingressar novamente na elite.
Ainda sim, João tem um longo percurso, com mais três etapas pela frente. São elas, Ericeira em Portugal, Saquarema no Rio de Janeiro e Haleiwa no Havaí. “Ericeira, Saquarema e Haleiwa são ondas que eu gosto muito e combinam com meu estilo de surf”, conta ele.
No ano passado, o ano que Chianca garantiu a vaga para o CT, ele alcançou um bom resultado em Ericeira, ficando em 9º lugar na competição. Naquela altura, ele era o único nome brasileiro que estava na linha de classificação para a elite. “Ericeira tem tudo para ser um bom campeonato, porque eu tive um belo resultado lá no ano passado e eu quero muito ter um déjà vu esse ano”, comenta.
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Logo depois da etapa portuguesa, vem a competição realizada no quintal do surfista. Quem surfa sabe que a conhecer muito bem uma onda, pode ser uma vantagem. “Saquarema para mim é um bônus incrível, porque além de amar aquela onda, eu sempre sonhei em correr grandes competições na frente da minha família e esse ano vai ser a quinta ou sexta vez que eu vou me apresentar nesse grande palco”, conta ele.
Por fim, o calendário do Challenger Series se encerrará nas ondas de Haleiwa. “O Havaí é o lugar perfeito para garantir de vez a classificação e realizar o sonho em um lugar tão especial”, comenta ele sobre a etapa. “Mas ainda que eu esteja animado com todas essas etapas, é importante ter os pés no chão e até mesmo esquecer um pouco meu resultado positivo de Huntington Beach, para focar em fazer um bom trabalho, porque a gente sabe que tudo pode acontecer, afinal tem muito surfista bom”, finaliza João.
*A repórter viajou ao Panamá para cobrir o Pan-Americano de Surf a convite dos organizadores do evento e conversou com o atleta.