El Salvador terminou com vitória de Griffin Colapinto e a elite do surf mundial agora segue para Saquarema. Nesse ínterim, é impossível não se lembrar da polêmica reverberada centenas de internautas em seus comentários nas redes sociais, desde o momento em que foi confirmada vitória de Colapinto sobre Medina pela semifinal em Punta Roca, valendo a disputa pelo caneco inédito salvadorenho.
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O episódio nos fez resgatar um texto de James Brasil. Datado de 2017, exceto por alguns fatos específicos, o texto intitulado “WSL – A caixa preta vai virar caixa furada?” permanece pairando no ar, fresco e refrescado, sustentado por indagações de centenas de fãs do surf brasileiro e internacional que não desgrudaram os olhos dos movimentos de Medina e Colapinto naquela bateria em Punta Roca.
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“Vim pra falar de um assunto que nunca me desceu pela goela. A WSL,” inicia James B. A partir daí, James nos coloca à mesa sua reflexão entremeada com seus insights e alguns pormenores de quem conhece o que rola no backstage do surf profissional.
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A transparência, a livre expressão, a presença de Slater nos negócios da WSL e a necessidade de lucro por parte de uma empresa (a WSL), são alguns dos tópicos apresentados por esse surfista anônimo que hoje, cinco anos depois, ressoam de forma muito atual.
Confira:
Para os leitores que não sabem, a WSL surgiu a partir da tomada de controle por um grupo de investidores da antiga ASP (Associação dos Surfistas Profissionais), a entidade que realizava o circuito mundial e que comandava o surf profissional por mais de 30 anos. A ASP estava em dificuldades financeiras, pois os eventos e o Tour eram bancados basicamente pela tríplice irmandade: Quiksilver, Billabong e Rip Curl, que patrocinavam 90% dos eventos a cada ano. Mas com a crise financeira que abalou as marcas, ali por volta de 2010 em diante, a grana estava sumindo e a ASP não se sustentava mais. Aí aparece a WSL e toma o negócio sem gastar nenhum tostão! Assumiram, tomaram, e a antiga ASP entregou a parada de mão beijada.
Ok, até aí tudo bem. Mas vamos em frente…
Primeiro: de quem é e quem manda na WSL? A empresa se chama ZoSea, e o principal acionista se chama Dirk Ziff, um bilionário americano. O cara está botando milhões no negócio desde o takeover.
Mas, caros leitores, sabem quem estava lá em 2012, na reunião que marcou a troca de comando do surf, e que era o porta voz da ZoSea? Um cara chamado Terry Hardy. Já ouviram falar nele? A maioria de vocês, não. Mas eu digo pra vocês quem ele é. É o empresário de longa data do nosso querido 11x campeão mundial, Kelly Slater! Isso mesmo. O porta voz da ZoSea na tomada de poder do surf mundial foi o empresário do Slater. Será que ele caiu de paraquedas? Coincidência? Eu acho que não.
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Na minha humilde opinião, o Slater esteve e está por trás do negócio o tempo todo, usando o dinheiro do Ziff e sendo um sócio escondido ali, caladinho. Ainda no campo das “coincidências”, alguns anos depois a WSL adquiriu (por uma grana não revelada) os direitos da piscina de ondas do careca. Sei… e continuando com as coincidências, é cheio de amigo do Slater trabalhando na WSL. Por exemplo, o estridente Strider Wasilevski, o parcial Kieren Perrow etc. Agora, só falta o Raimana Bastolear no lugar do Renato Hickel.
Ok, mas a WSL assumiu o surf profissional prometendo revolucionar o Tour e levar o surf a um novo patamar global de audiência e grana.
A pergunta para a resposta: E o que aconteceu em 4 anos? Bem, acho que realmente as transmissões online melhoraram muito.
Mas e o restante?
CAIXA PRETA? TEORIA DA CONSPIRAÇÃO?
Uma coisa que eu não aceito: A WSL é uma caixa preta. Zero transparência, e como entidade que rege o esporte, isso não poderia acontecer. A WSL é uma empresa, visa o lucro. E como tal, o que impede os desvios de conduta? O que impede que os interesses corporativos direcionem decisões, resultados ou até o julgamento? Amigos, não se iludam, dentro do palanque e nas salas onde as decisões são tomadas, muita coisa acontece e nem eu nem vocês ficamos sabendo de coisa alguma.
E nem me venham com conversa mole de que o título mundial 2016 do John John Florence não foi facilitado em diversos momentos. Por que foi. O padrasto e técnico do Medina, Charles Saldanha, não aguentou mais, perdeu o controle com a coisa em Portugal, e adivinhem: 6 meses de suspensão.
E para os que não defendem teoria da conspiração e falam coisas como: “Ah! Mas se a WSL fosse parcial, Medina e Adriano não teriam sido campeões mundiais.” Na minha visão, Medina e Adriano foram campeões mundiais “apesar” da parcialidade na WSL. Mas isso é assunto para outro artigo.
Voltando ao tema: além disso, a WSL nunca permitiu a livre expressão dos atletas. Você não assiste basicamente nenhuma polêmica, rivalidade; até as entrevistas após as baterias ficaram robotizadas. Todos têm medo de falar, se expor e sofrer penalizações.
E me entendam: eu gosto do lado profissional do esporte. Mas não aceito a maneira que a WSL, aparentemente, controla e manipula comissão técnica, mídia e surfistas. A ideia dos caras é empacotar a parada de forma linda, que seja bem suave, palatável e vendável para patrocinadores de fora do surf. Mas “peraí, cumpadre”! Desde quando o surf e o surfista são suaves, palatáveis e lindinhos? Nós não éramos o esporte da rebeldia?
E ainda digo mais. Tentar padronizar e controlar o que os atletas falam ou escrevem é um tiro no pé da WSL. Polêmica, discussão e controvérsia vendem muito bem. Atraem audiência e poderiam sim, atrair patrocinadores.
Ano passado, em Trestles, após baterias como a infame Tanner Gudauskas x Gabriel Medina (assista acima) – na qual, na minha opinião, o título mundial do John John começou a ser definido -, alguns atletas tentaram levantar a voz contra o julgamento parcial. Mas aí entrou em cena o fantasma das multas, suspensões e perseguição, que rapidamente calaram todo mundo. Lei do medo! E, apenas para lembrar vocês… Sabem quem foi o único surfista do Tour que saiu em defesa do julgamento daquela bateria safada? Mr. Kelly Slater. Sim, o careca estava lá e rapidinho veio a campo pra defender os interesses do negócio dele.
Onde estão as melhorias no julgamento? Cadê o básico? Porque não começar com os juízes e o head judge, talvez não saberem que nota um surfista precisa pra virar uma bateria? Será que ficaria menos parcial?
E, muito importante: a WSL ainda não se viabilizou financeiramente. O Tour ainda não se paga. Na verdade dá um prejuízo milionário anualmente e só sobrevive graças à grana que a ZoSea e Dirk Ziff continuam a injetar. Mas até quando?
Lembrem-se, a WSL banca o World Tour masculino e feminino, o Longboard e o Big Wave Tour. E ainda mais o QS (que é problemático). Conclui-se então, que são dezenas de eventos por ano, e isso custa uma fortuna.
E AGORA?
Más notícias. No início de 2017, Paul Speaker, CEO da WSL, pediu demissão. Abandonou um barco que parece estar furado. Mas, só quem é das internas realmente sabe qual será o futuro próximo.
E, agora, em cima da hora, às vésperas de começar o circuito deste ano, a Samsung (afundada até os ossos em corrupção), principal patrocinador do circuito até 2016, anuncia que não renovará seu contrato com a WSL. Ou seja, neste momento o tour está sem um patrocinador principal.
E agora, Mr. Slater?
Tomara que em março os ciclones da Gold Coast tragam, além de boas ondas em Snapper Rocks, boas notícias para nós que amamos o surf competição – na abertura do Tour Caixa Preta 2017.
Vamos continuar de olho!
POST SCRIPTUM / ESCRITO DEPOIS
PS1: Eu não sou jornalista, então geralmente escrevo textos longos demais para formatos de internet. Tentei segurar a onda e ser o mais sucinto possível nessa coluna. Mas dava pra escrever mais umas 5 páginas… hahaha!
PS2: Obrigado, Revista Hardcore, tamojunto!
* Foto de abertura: Medina em El Salvador. Créditos: WSL / Thiago Diz