Um estudo publicado recentemente em Fiji mostra que os tubarões-cabeça-chata, espécie bastante comum no nordeste do Brasil, desenvolvem um comportamento de companheirismo com alguns tubarões de sua espécie, mostrando preferências por certos indivíduos e evitando outros.
Os pesquisadores estudaram dados coletados em mais de 3.000 mergulhos com tubarões na Shark Reef Marine Reserve (SRMR) de Fiji, um dos destinos de mergulho mais procurados do mundo. Os mergulhos duraram 13 anos e observaram o comportamento de 91 tubarões-cabeça-chata individuais, claramente distinguíveis por características externas, como cicatrizes e nadadeiras deformadas ou ausentes.
Leia mais:
+ Duas baleias jubarte morrem presas a redes de pesca em Florianópolis
+ Pescador sobrevive após ser engolido e ‘cuspido’ por baleia
+ Baleia cai em cima de barco e deixa jovem em coma na Austrália
Usando uma série de abordagens estatísticas, os pesquisadores procuraram por padrões de associações entre tubarões que pudessem ser explicados por outros fatores além do puro acaso. E, de fato, os cientistas encontraram evidências inequívocas de associações de longo prazo.
No entanto, se os tubarões aparecem juntos porque “gostam” uns dos outros, se por acaso vivem nas proximidades ou se compartilham traços de caráter, como ousadia e curiosidade, que os leva ao local provisionado, não está claro.
“A principal ressalva é que não temos um local de controle”, disse o Dr. Thibaut Bouveroux, um pesquisador de pós-doutorado do Dauphin Island Sea Lab nos Estados Unidos e autor principal do estudo.
“Por exemplo, se temos dois indivíduos que são observados juntos mais ou menos regularmente, e se eles também aparecem juntos em outro local com a mesma probabilidade, então isso tornaria nossos resultados muito mais robustos. E indicaria que existe de fato algum nível de sociabilidade nesta espécie”, esclarece Bouveroux.
Mas o cientista esclarece que o estudo forneceu um ponto de partida sólido para trabalhos futuros. Ele está planejando desenvolver esse conhecimento com análises adicionais.
“Estudos futuros terão que identificar traços de personalidade de tubarões individuais, determinar como traços particulares podem influenciar a formação do grupo, construir uma hierarquia de tubarão-cabeça-chata para determinar as posições de classificação e, em seguida, examinar a estabilidade de classificação ao longo do tempo”, avalia.
O tubarão-cabeça-chata não pode ser considerado uma espécie social como os mamíferos marinhos ou outras espécies terrestres, como elefantes ou chimpanzés. No entanto, parece que alguns indivíduos são capazes de desenvolver co-ocorrências preferidas ou afinidades com alguns indivíduos”, reforça Bouveroux.
E embora os tubarões-cabeça-chata formem companheiros, Brunnschweiler não aprova o termo “amizade” sendo usado em relação aos tubarões.
“A amizade é uma relação de afeto mútuo entre as pessoas. Animais não”, disse ele. “Seria antropomórfico falar de amizades aqui”, conclui.