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“É como ficar preso sob uma onda grande,” diz surfista que pegou covid

“Eu não imaginava que isso fosse acontecer comigo, mas aconteceu, e transformou a minha vida,” conta Alexandre Reis, 45 anos, surfista desde os 10 anos de idade.

Atualmente em Camburi, litoral norte paulista, São Sebastião, Reis gerencia uma pousada local e é responsável pelo boletim @012.surfreport que diariamente informa aos surfistas a condição do mar via Instagram.

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Hardcore conversou com Ale Reis, que nos contou do seu último perrengue – que não foi surfando as bombas do quintal (como ele preferia que fosse; dá uma olhada na foto abaixo, leitor, dele no quintal de casa), combatendo o coronavírus.

“É como estar debaixo do caldo de uma onda grande o tempo inteiro, aquela que você coloca só o bico da boca pra fora e toma caldo atrás de caldo. Não estou falando para ninguém deixar de fazer nada; usar a máscara sempre que for sair. O meu desespero é ver a falta de consciência das pessoas com relação à essa doença.”

Ale começou a surfar aos 10 anos, mudou-se da capital paulista para Santos quando criança e de lá nunca mais saiu do litoral. Está com 45 anos e surfa sempre que dá onda no quintal de casa, em Camburi, litoral norte paulista.

Confira o relato:

“Dia 4 de outubro passei o aniversário com a minha namorada e a família dela. Fizemos um churrasco juntos. Na segunda-feira, eu precisava trabalhar e voltei para Camburi, São Sebastião, para pegar o turno das 19h, de moto na chuva.

Tomei banho, me arrumei, fui para o trabalho, e lembro de me sentir cansado nesse dia. Na madrugada nesse mesmo dia, senti muita febre; no dia seguinte, a febre continuou; senti muitas dores, perdi o paladar e o olfato; se passou mais um dia e a febre continuava.

Minha namorada estava cansada e com dor também. No dia 9, eu e ela fomos para o hospital, fizemos o teste e entramos na azitromicina por 5 dias; sem melhoras, depois tomamos Ivermectina, dois comprimidos por dois dias, e nada de melhorar.

Fiz outro exame de sangue e deu negativo. Mesmo assim, tomamos hidróxido de cloroquina por cinco dias.

Passado esse período, e faltando um comprimido para terminar, o covid atacou meu pulmão, e eu não conseguia respirar, senti muita dor de cabeça e febre.

Voltei ao hospital, expliquei à médica o que acontecia, me mandaram para uma sala, fiz alguns exames, e ela disse para aguardar os resultados.


Quando saíram, ela me internou, segundo ela, seria por no máximo 3 dias, por conta da questão de ser rápido atendimento no posto.

Tomei medicamento intravenoso e usei uma bomba de dilatação de asma (que dilata os brônquios).

Fiz um novo exame sanguíneo, que veio positivo para Covid. Fui conectado com auxílio de oxigênio no Posto de Boiçucanga, e depois de quatro dias internado, sem poder ficar esse período, fui transferido para São Sebastião lá pela primeira vez dormi sem auxílio de oxigênio.

O grande problema da situação foi uma infecção no sangue, que tratei por 8 dias com amoxicilina 500.

O pior de tudo é constatar que a galera no litoral soltou o freio de mão e já vive o verão; as praias estão lotadas, ninguém usa máscara, tem galera que sai da água e fica em rodinha, batendo papo; pessoas levando cachorro (coisa que não pode) para a praia. Só que essa doença não escolhe cor, nem credo, ela encosta, e uma gotícula altera a vida da gente.

Eu não imaginava que isso fosse acontecer comigo, mas, aconteceu e transformou a minha vida. Para você ter uma ideia, é como você estar debaixo do caldo de uma onda grande o tempo inteiro, aquela que você coloca só o bico da boca pra fora e toma caldo atrás de caldo. Não estou falando para ninguém deixar de fazer nada, mas é pra fazer o caminho do surf para a praia, sabe; e usar a máscara sempre que for sair. O meu desespero foi ver a falta de consciência das pessoas com relação à essa doença,” nos contou Alexandre.

Já faz uns dias que o Alexandre se recuperou do covid e inclusive está de volta com o surf e os boletins diários das ondas, mas, infelizmente, ele perdeu a sogra para o coronavírus.

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