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Italo faz mágica em The Box; Caio e Peterson também vão às oitavas

Italo rouba a cena com primeira onda da vida em The Box, Ibelli derrota Medina e Crisanto vence já no Main Break no 3º dia em Margaret River

Por Fernando Guimarães

O terceiro dia de competição no Margaret River Pro foi para a água na manhã deste sábado, em West Australia, em algumas das condições mais aguardadas do ano. A previsão há alguns dias era de um swell que colocaria a pesada onda de The Box para funcionar e foi exatamente isso que aconteceu. Kieren Perrow, que além de diretor de prova da WSL continua sendo um fissurado por ondas sinistras, deu a chamada logo após sair do mar para uma sessão matinal onde ele arrepiava nos tubos junto com alguns dos melhores do mundo.

Nessa sessão matinal, John John já tinha pego um tubaço, assim como Conner Coffin. Leo Fioravanti, por outro lado, deslocou novamente o ombro que havia lesionado na Austrália e teve de deixar a competição, dando uma passagem livre para as oitavas de final para o sul-africano Jordy Smith, e fica aqui a pergunta: Jordy ficou triste por não poder surfar The Box com apenas mais uma pessoa dividindo o line up ou aliviado por não precisar ser testado naquelas condições?

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Dos 11 brasileiros que começaram o dia, apenas 3 seguem na disputa: Italo Ferreira, Caio Ibelli e Peterson Crisanto. As últimas baterias do dia foram corridas no Main Break, incluindo as três remanescentes das oitavas entre as mulheres, após as condições ficarem um perigosas demais para The Box.

Jack Robinson, local convidado para o evento como o nativo de West Oz mais bem ranqueado no QS, fez jus à hype que recebe do mundo anglófono do surfe e lidou com as ondas mais sinistras do ano até o momento com uma maestria incomparável entre qualquer um dos tops do CT. A diferença no posicionamento e na leitura de onda era impressionante, e o ônus da situação ficou com o brasileiro Filipe Toledo, que chegou em Margaret com o seeding mais alto e praticamente assistiu a um show do australiano sem sequer ameaçar vencer o duelo. Em sua defesa, teria sido assim com praticamente qualquer outro surfista. Menos um, talvez, que foi quem conseguiu colocar uma onda ainda acima, entre os destaques do dia, da atuação de Robinson: Italo Ferreira.

Italo surfou na primeira bateria do dia, contra o australiano Soli Bailey. Se a primeira de um dia como esse já começaria cheia de incógnitas, a esta podia-se somar o fato de ninguém saber como o brasileiro desempenharia em condições assim. Não só não se tinha visto Italo competir em ondas assim: ele mesmo jamais havia surfado em The Box. Não tinha caído lá neste sábado, antes da chamada, nem nos dias anteriores ao evento, quando o pico também funcionou em boas condições, nem em outros anos, enfim, nunca.

A primeira onda da vida de Italo em The Box é uma que será lembrada por muitos e muitos anos no futuro.

Dropa atrasado e chega à base da onda inteiro desequilibrado. Para não ser guilhotinado, tem que jogar o ombro esquerdo para trás, movimento antinatural para a técnica mais atual para entubar de backside. quase caindo de costas, escapa por um triz do lipe assassino, é engolido por um tubo violento, disforme, reequilibra-se enquanto sobrevive ao passeio na foamball e saiu cuspido na baforada.

Foi um crime a onda não ganhar nota 10, mas, em defesa dos juízes, a expectativa de que isso aconteça na primeira onda completada de um dia de competição é quase inexistente. Nem Italo esperava por isso.

Ainda assim, o 8,17 ficou muito aquém do que aquilo merecia. O melhor 8,17 de todos os tempos, muitos dirão. Mas não importa. Italo venceu, não precisou da nota que faltou, e a onda entrou para os livros de história do surfe de qualquer forma.

Yago Dora entrou na bateria seguinte, contra Michel Bourez. O catarinense demorou a encontrar uma linha que passasse por dentro dos canudos de The Box. Conseguiu com uma semi-reprodução da linha de Italo, mas em uma onda que não foi tão boa e que, ainda assim, foi sua única com pontuação razoável. Michel estava mais seguro e completou diversos tubos medianos e passou tranquilo.

John John entrou na água carregado de expectativa. Achou uns bons tubos mas nada demais. Jack Freestone, seu rival nessa bateria, teve pelo menos duas boas chances de vencer, mas nas duas ondas morreu atrás da bola de espuma.

Sebastian Zietz tirou um tubo atrás do outro, com uma linha diferente dos outros regulares, saindo mais por baixo. Segundo o cronista da WSL em inglês Ronny Blakey, era a primeira vez de Jeremy Flores em The Box, o que talvez explique o desempenho ruim do francês em uma onda que parece perfeita para ele. Seabass chega às oitavas pela primeira vez no ano, e lembre-se: ele já foi campeão em Maragaret.

Veio então o duelo 100% brasileiro. Gabriel Medina vacou na primeira onda, preso atrás da foam ball. Caio Ibelli veio na onda de trás e, ao contrário de Gabriel, completou com classe um bom tubo. Medina caiu em sua segunda onda e viu Caio aumentar a diferença com outra boa nota. O surfista do Guarujá entrou em uma sitonia muito boa com o pico e começou a completar um bom tubo atrás do outro. Enquanto isso, Gabriel esperava. Ele fez a melhor onda da bateria a menos de dez minutos do fim, e parecia ter certeza que qualquer onda que pegasse seria suficiente para virar. Esperou, esperou mais, pegou uma onda pequena e tentou convencer os juízes com uma comemoração que nem ele mesmo deve ter acreditado muito. Os juízes não acreditaram. Caio venceu com muito mérito.

Nas quartas da Gold Coast, contra Jordy Smith, Medina quase não pegou ondas; em Bells, contra John John, passou 12 minutos com a prioridade e também não pegou nenhuma onda — apenas nos segundos finais, sem qualquer chance; em Margaret, completou duas ondas em 30 minutos de bateria. Algo estranho acontece. Não surfou mal, teria vencido 7 das outras 11 baterias corridas em The Box. Mas é muito pouco para o que se espera dele.

Na sequência, Kelly Slater foi mal avaliado contra Willian Cardoso. Os juízes fizeram parecer equilibrada uma bateria que Slater venceu com muita folga.

Jessé Mendes teve problema parecido com o de Gabriel, não conseguiu um back up à altura para ultrapassar Conner Coffin. A diferença entre ele e o atual campeão mundial, entretanto, é que Jessé tentou muito mais.

Jack Robinson então deu um show contra o qual Filipe Toledo pareceu incapaz de reagir, apesar do seu conhecido talento em tubos para a direita. Pegou os tubos mais profundos nas maiores ondas do dia, fez a melhor pontuação disparado — quase o triplo do total somado por Toledo, 18,57 a 6,73 — e fez valer o investimento da difícil e corrida viagem em cima da hora do Chile para West Australia.

Michael Rodrigues foi obliterado pelos tubos que entraram em sua bateria e entregou uma soma de apenas 2,14 pontos — melhor para Seth Moniz, que passou com um bom tubo. Mas a essa hora, as condições começavam a se deteriorar, com a maré secando e tubos menores e mais difíceis em oferta.

Owen Wright teve a última grande atuação do dia em The Box, com uma escovada sobre Ezekiel Lau.

Quando Jadson André saiu machucado da água após uma bateria de poucas ondas, dos dois lados, contra Julian Wilson, a direção de prova paralisou o evento e moveu a estrutura de volta para o Main Break, onde fariam as últimas três baterias da rodada e também as remanescentes do campeonato feminino.

Peterson Crisanto surfou bem para vencer Joan Duru. Mas a verdade é que se este resultado fosse contra um brasileiro, a reclamação sobre as notas ia ser grande.

Deivid Silva não conseguiu passar da casa dos 3 pontos contra Ryan Callinan e foi eliminado antes de Kanoa Igarashi fechar a rodada com uma vitória sobre Ricardo Christie.

A decisão de não colocar nenhuma bateria do feminino em The Box durante um dia clássico no pico desagradou a heptacampeã mundial Stephanie Gilmore.

A atual líder do circuito feminino expressou seu descontentamento na entrevista após vencer sua bateria nas volumosas ondas do palco principal do evento. Ela, Lakey Peterson e Brisa Hennessy se garantiram nas quartas, todas recompensadas pela aposta nas esquerdas do Main Break.

A expectativa é que o campeonato volte ainda com algumas baterias em The Box, mas as condições serão menores que as desta manhã. Próxima chamada às 20h30 no horário de Brasília.

Margaret River Pro – resultados – terceira rodada:

1. Italo Ferreira 15,00 x 3,50 Soli Bailey
2. Michel Bourez 12,17 x 4,27 Yago Dora
3. John Florence 11,83 x 9,16 Jack Freestone
4. Sebastian Zietz 13,87 x 4,93 Jeremy Flores
5. Caio Ibelli 13,67 x 13,23 Gabriel Medina
6. Kelly Slater 10,06 x 7,34 Willian Cardoso
7. Jordy Smith x Leo Fioravanti (lesionado, Smith avança ao round seguinte)
8. Conner Coffin 12,33 x 9,20 Jesse Mendes
9. Jack Robinson 18,57 x 6,73 Filipe Toledo
10. Seth Moniz 12,77 x 2,14 Michael Rodrigues
11. Owen Wright 15,40 x 5,50 Ezekiel Lau
12. Kolohe Andino 13,20 x 12,00 Griffin Colapinto
13. Julian Wilson 7,47 x 4,30 Jadson André
14. Peterson Crisanto 14,23 x 14,10 Joan Duru
15. Ryan Callinan 10,83 x 7,63 Deivid Silva
16. Kanoa Igarashi 14,83 x 11,10 Ricardo Christie

Oitavas de final:

1. Italo Ferreia x Michel Bourez
2. John John Florence x Sebastian Zietz
3. Caio Ibelli x Kelly Slater
4. Jordy Smith x Conner Coffin
5. Jack Robinson x Seth Moniz
6. Owen Wright x Kolohe Andino
7. Julian Wilson x Peterson Crisanto
8. Ryan Callinan x Kanoa Igarashi

Oitavas de final feminina (baterias remanescentes):

5. Brisa Hennessy x 12,00 x 3,66 Malia Manuel
6. Stephanie Gilmore 10,57 x 6,00 Bronte Macaulay
7. Lakey Peterson x Nikki Van Dijk

Quartas de final

1. Courtney Conlogue x Tatiana Weston Webb
2. Caroline Marks x Sally Fitzgibbons
3. Carissa Moore x Brisa Hennessy
4. Stephanie Gilmore x Lakey Peterson

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