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Igor Roichman Gouveia: The Wild, Wild West

Por Igor Roichman Gouveia

Apesar de terem ido para a água apenas os dois primeiros rounds do Margaret River Pro, não vamos nos esquecer tão cedo esta etapa.

Na verdade, das baterias nós vamos nos esquecer sim. North Point mostrou mais uma vez ser uma onda muito inconsistente e difícil de se posicionar. Em nove baterias a somatória mal passou dos 10 pontos. E não adiantava esperar a boa, Yaguinho esperou tanto que só foi encontrar no round 2, lá no Main Break, para avançar sua primeira bateria do ano.

Jack Robinson deu uma aula de como surfar o North Point aos top 34 (Cestari/WSL)

Jack Robinson, por outro lado, foi o grande destaque em North Point. Com a lesão do Caio Ibelli, a direção de prova realizou uma bateria para escolher o substituto antes do início do evento e só transmitiu os seus 5 minutos finais.

Uma pena, pois o JR já tinha dois 8 pontos e um 9, fazendo a maior somatória de todo evento.

No round 2 o campeonato voltou para o pico principal com excelentes condições. Desta vez todos os surfistas tiveram oportunidades de pontuar e tivemos excelentes baterias. O duelo entre Ítalo e Miguel Pupo foi instigante, parecia que o Miguel ia levar, mas no finalzinho o Ítalo, com muito sangue frio, mostrou mais uma vez que esse ano quer brigar pelo título e conseguiu a virada. Jessé e Michael Rodrigues também ganharam suas respectivas baterias e teríamos 8 dos 11 brasileiros no round 3. É, teríamos…

Dois ataques de tubarões forçaram a direção de prova cancelar a etapa. Em uma decisão de cima para baixo, com ainda 4 dias na janela do evento, sem as autoridades locais fecharem a praia do campeonato, a CEO da WSL, Sophie Goldschmidt, encaminhou uma carta à imprensa proferindo a decisão do cancelamento do evento. Decisão polêmica.

De acordo com o comunicado “a presença de baleias encalhadas na área atraiu tubarões e contribuiu para a agressividade de seu comportamento, o que, segundo especialistas, aumentou a possibilidade de novos ataques. Essas descobertas resultaram em locais próximos sendo fechados para surf e natação” (até o momento em que escrevo não houve relatos de mais ataques).

Os atletas ficaram divididos, enquanto alguns corriam para marcar a passagem de volta, outros surfavam Main Break, The Box e uma direita perfeita a 20 km do campeonato. Em 2017 houve 18 ataques de tubarões registrados na Austrália, um número infimamente pequeno comparado à estimativa de que 1905 pessoas morrerão por câncer de pele em 2018 na mesma região. A probabilidade de um ataque de tubarão é muito pequena, ainda menor após um evento atípico. Se a WSL está preocupada com a segurança e a vida dos atletas então terá de rever metade das etapas do WCT.

A interpretação artística de Igor Gouveia sobre a semana em Margaret River

A OMS, Organização Mundial da Saúde, alertou que 372 mil pessoas morrem afogadas todos os anos no mundo. Em algumas etapas do circuito este risco é relativamente grande. Todos os anos em Pipeline vemos atletas baterem a cabeça no coral e em alguns casos desmaiarem. Owen Wright e Dusty Payne recentemente passaram por grandes apuros, e nem por isso a etapa foi cancelada (em 2019 não teremos por causa da burocracia e incompetência, algo muito mais perigoso que tubarões).

Após o incidente do Mick Fanning em Jeffreys Bay, a WSL investiu forte em um sistema de proteção contra tubarões na área do campeonato. Um barco com sonar, três boias-repelentes, jet-skis e drones monitoram toda a região.

Esse sistema já se mostrou falho em 2017, tanto em Margaret como em J-Bay tubarões furaram o bloqueio e as etapas foram interrompidas por alguns minutos. Ao cancelar a etapa de prontidão, a WSL comprova que sua segurança é ineficaz, demonstrando total incapacidade e insegurança nas suas próprias ações.

Ninguém quer ver uma morte ou um grande acidente em nosso esporte, mas ninguém gostaria de ver nosso esporte acabar. Se formos eliminar todos os riscos que envolvem um evento com tantas variáveis e incertezas acabaremos em uma piscina de ondas com capacete. Não podermos eliminar a liberdade em prol da segurança. Principalmente não podemos eliminar a emoção, o risco faz parte do jogo.

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