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Igor Roichman Gouveia: A etapa de Uluwatu nem deveria existir

Uluwatu foi uma etapa que não deveria existir. Nunca tinha visto uma etapa ser transferida para acabar em outro país. A Austrália fica a poucas horas de Bali, seria bem tranquilo o campeonato voltar para Margaret, até levando em conta que o principal patrocinador da etapa é o governo local. Ainda sobre uma etapa ser realocada para terminar em outro lugar fica o questionamento: por que a final entre Mick Fanning e Julian Wilson de J-Bay não foi finalizada em outra locação? Se o Mick tivesse saído vitorioso daquela final nós não teríamos o Mineiro como campeão mundial, foi um resultado que definiu o circuito daquele ano.

As trapalhadas por Uluwatu ainda continuaram. O campeonato deveria ocorrer 48 horas após o término da etapa de Keramas, contudo não foi o que aconteceu. Aparentemente foi complicado transportar todo o “palanque” e as tranqueiras para o cliff do pico. Com o aparato mais enxuto este campeonato teve uma grande virtude, o foco era o surf! Nada de encheção de linguiça e o Strider interrompendo as ondas em 5 e 5 minutos. O foco do evento foi o show de surf de dentro d’água. E que show de surf.

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Esta foi a etapa, até o momento, mais competitiva que tivemos. A maioria das baterias tiveram troca de posição e emoção até o último minuto. Com apenas 2 dias de duração e já iniciando no round 3 o campeonato foi muito mais dinâmico, perdeu tava fora.

Neste round tiveram duas baterias muito parecidas que chamaram muita atenção. Ítalo contra Michael Rodrigues e Filipinho contra Yago, foram muito semelhantes nas estratégias e critérios. Nas duas baterias venceu quem optou por atacar a parte crítica na onda, e por coincidência ou não, os dois que avançaram eram regulares. Este foi o critério que norteou o evento, e curiosamente, mais uma vez só tínhamos um goofy footer nos rounds finais.

 

O segundo e último dia de competição foi uma maratona do Netflix, fazia muito tempo em que eu não varava uma noite para assistir a um campeonato. Foi um vício. Não tinha como ir dormir.

Foi incrível, a partir das quartas cada bateria parecia uma final. Julian Wilson e Jordy Smith fizeram uma bateria incrível, e qualquer um podia ter saído vitorioso. Willian Cardoso fez a bateria de sua carreira, competiu como poucos e não deixou Filipinho surfar. Por duas vezes bloqueou seu adversário utilizando de maneira primorosa a prioridade – já tem australiano chiando e querendo mudar a regra.

Julian estava se superando a cada bateria e mais uma vez virou nos últimos minutos. Voltava a ser o líder isolado do ranking e tinha tudo para ser o grande campeão da etapa. Os gringos já estavam esperando uma bateria 100% australiana com os dois queridinhos da WSL do momento.

Até o momento o Panda vinha comendo pelas beiradas, fazendo um base-lipe muito forte, totalmente dentro do critério e ganhando bateria após bateria. Poucos apostaram que ele faria o que fez. Eu particularmente apostei no Fantasy, meses atrás, para Margaret, mas em Uluwatu foi uma grande surpresa, uma surpresa emocionante!

A grande final foi um estouro de endorfina. Willian parecia estar competindo em casa, a estratégia foi perfeita. Se posicionava sempre abaixo dos adversários, escolhia a onda que encaixava até o final e distribuía pancadas uma atrás da outra. Desta vez o Julian não conseguiu sua virada no final.

Willian foi o grande nome em Bali. Se não tivesse sido roubado em Keramas, o Panda poderia ter ganhado as duas etapas. Surfou demais, competiu demais. Ele e seu técnico, o ex-WCT Marco Polo, estão de parabéns. Fizeram tudo como tem que se fazer para ser um campeão mundial. Se o plano do camisa 47 era se reclassificar para 2019 e quem sabe Rookie of the Year, agora o sonho é o Mundial. E já está em 5º.

Essa vitória não motiva apenas o Panda, motiva todos os brasileiros que estão em situação complicada no ranking e aqueles que sonham em entrar para o WT pela primeira vez. Willian mostrou o caminho das pedras: dedicação, trabalho duro e acreditar que é possível. No final o resultado vem. Parabéns!

Igor Roichman Gouveia é colunista da HARDCORE.

Fotos por WSL/Sloane/Cestari

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