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HC CONVIDA: ROBSON SANTOS

Robson Santos representou o Brasil na histórica estreia do surfe no Pan em meio a um ano dedicado a viagens. Antes de lançar seu novo filme, conversamos com ele

Por Fernando Guimarães

Robson Santos construiu uma carreira sólida no surf competitivo brasileiro nos anos 2000. Em 2018, começou o ano uma vitória sobre John John Florence em pleno Banzai Pipeline, num mar gigante e bizarro durante o Volcom Pipe Pro, e terminou com o título de campeão do circuito nacional da CBSurf — que o credenciou a representar o Brasil em um momento histórico: a disputa inaugural do surfe nos Jogos Pan-Americanos, em Lima, no Peru.

Quase como um prêmio pelos serviços prestados ao longo de uma carreira, a participação no Pan veio pontuar um ano em que Rob resolveu, depois de tanto tempo, dedicar-se mais às viagens do que aos campeonatos. Ao lado de Yagê Araújo, abraçou um projeto que reflete a essência do surfe, idealizado pelo seu patrocinador, a South to South. E qual a essência? Viajar. Explorar, descobrir. Surfar.

O segundo volume da empreitada, Em busca do Sonho Salgado, sai em breve. Enquanto isso, Rob lança em São Paulo, nesta quinta (12/9), um novo curta, produzido pelo Stoked Soul Films durante os dias clássicos de outono que rolaram aqui mesmo em Camburi, quintal de seu casa no Litoral Norte paulista. Às vésperas da exibição do filme, trocamos uma ideia com um expoentes de uma geração sobre viagens, o competições, crescimento e popularização do surf, as dinâmicas do crowd e outras coisas mais.

Delegação do surf brasileiro para Lima 2019
Robson junto com a delegação brasileira no Pan (divulgação)

HC: Você voltou agora há pouco dos Jogos Pan-Americanos, uma participação histórica — foi a primeira vez que rolou o surfe. Como foi fazer parte disso?
Robson Santos: Foi uma coisa de outro mundo. A galera que compete, surfista, nem imagina o que que é aquilo. Outra estrutura, outra coisa. A estrutura que eles dispõem pra gente é totalmente diferente do que a gente tá acostumado com o surfe. O surfe em si é normal, a organização que é diferente. Por exemplo, na área de atleta, você tem que usar um crachá com seu nome… Isso é muito louco, na real. No campeonato de surfe você usa uma pulseirinha e já era, ninguém sabe quem você é. Fora a galera que você conhece dos outros esportes, pessoal que pede pra fazer foto. É uma outra sensação, uma sensação difícil de explicar. Você não se preocupa com nada, não tem dor de cabeça com nada, só se preocupa em competir. A gente foi na abertura dos Jogos, e eu só me dei conta do tamanho daquilo depois que tinha passado tudo. Entrei, atravessei o campo, todo mundo batendo palma, a galera passando… Eu até comentei com o Wenderson, que tava lá competindo com o long: “brother, olha onde a gente tá! Olha onde a gente tá!”. Foi surreal.

E antes teve a trip pro México. Como foi lá?
Essa viagem ia sair junto com uma coleção, e a primeira coisa que eu pensei foi que tinha que ser para o México, que é calor, tem tudo a ver, vai encaixar tudo. Eu tinha ido pro México uma vez só, tinha ficado uma semana. E em uma semana peguei cada onda, que eu desacreditei. Precisava voltar, tinha certeza que ia pegar onda muito melhor, e foi o que aconteceu. Voltei com o Yagê pra essa trip da South e acabou que deu muito certo.

Em uma viagem desse ano pro Chile, vocês acabaram não dando muita sorte… Dessa vez foi diferente?
No primeiro dia já ia ter umas, e falavam que no dia seguinte ia estar maior… A primeira sessão da gente lá já foi a queda mais irada que teve. Um momento do mar que a gente não esperava, tava os dois com a prancha errada. A gente achou que ia ter 6 a 8 pés e entrava série de 10 pés direto. Pareciam duas crianças, era tipo primeira vez no Hawaii com aquele medo de tomar série na cabeça em Sunset. Mas mesmo assim a gente pegou altas, fez a cabeça. Foi a queda mais irada. E teve um dia em Barra de la Cruz, quando o mar subiu. Altas ondas e só eu, Yagê e mais três ou quatro caras na água. Foi anima, fora do comum. Cada onda e era cinco, seis manobras, sem se preocupar se iam abrir ou ia fechar. E sempre um puxando o outro, tentando ser o mais radical possível. E com o Yagê junto foi irado. Ele é bem mais novo que eu, focado em fazer um surf radical. Eu tenho uma linha bem diferente, de tentar fazer uns arcos maiores, alongar bastante a manobra… E ele vinha chutando a rabeta, dando aéreo. Foi alucinante.

Robson Santos no México (2019)
“A gente achou que ia ter 6 a 8 pés e entrava série de 10 pés direto. Pareciam duas crianças, era tipo primeira vez no Hawaii com aquele medo de tomar série na cabeça em Sunset. Mas mesmo assim a gente pegou altas, fez a cabeça. Foi a queda mais irada” – Robson Santos

Desde o começo do ano, você escolheu abrir mão das competições por um tempo para embarcar nesse projeto da South to South [Em Busca do Sonho Salgado]. Como foi a primeira viagem?
Foi muito louco. Porque de cara o Maurício chegou e falou que a gente ia viajar pra um lugar que eu nunca fui. Já fui pro Chile, mas pro outro lado ali de Punta Lobos, Arica. Puertecillo foi um lugar que meu lembrou muito onde eu moro, a região de Camburi, Praia Preta, em São Sebastião, mas na época que não era tão conhecido, meio deserto, você chegava, só a galera surfando, altas ondas.

E como foi a trip?
A gente não deu sorte de pegar um mar grande, mas sempre tinha alguma coisa. E a galera de lá é a maior vibe. Um lugar muito tranquilo. Tem lugares que você chega e a galera fica naquela marra de “quem são esse caras que tão chegando, filmando, fazendo foto, ai tirar a prancha?”

A gente tava numa S10 carregada. Três, quatro capão, mala com roupa pra fazer a coleção… Olhavam um pouco, mas ninguém chegou e falou: “vocês não podem fazer isso aqui, estão divulgando o lugar”. A galera vinha e perguntava: “irado, de onde é essa marca?”. Puertecillo é uma onda mais tranquila, mais longa. Então tinha uns caras que sabiam surfar pra caramba e tinham uns caras que estavam começando. Umas 50 pessoas na água, mas sem stress nenhum. A galera rabiava e voltava dando risada. Até comparei um pouco  com o crowd de Trestles, onde eu, pelo menos, nunca vi gente discutindo dentro da água. Você vê a galera rabiando, só que o cara pega e sai, e o maluco continua surfando. Lá é assim.

Já que você falou no Litoral Norte de SP, lembro de cair em Camburi em um mar clássico, no começo do outono, e a galera estava assim também, uma vibe bem boa. Mas era meio da semana, mar com um tamanho até. A gente sabe que tem dia que fica inviável. Você acha que o surfe cresceu demais por aqui? Como local de um lugar assim, como você vê isso?
Com essa nova geração do surf brasileiro, o Gabriel, Filipinho, o Ítalo, tá todo mundo vendo tudo o surf, queira a gente ou não. É uma coisa que tá crescendo. Mas a galera tá querendo saber como funciona. O crowd mudou muito. Quando eu era criança, tinha medo de surfar em Camburi porque sabia que vários caras só queriam saber de brigar. Acho que mudou isso até por causa da internet. Antes você não via um cara com uma câmera filmando. Já da uma brecada nisso. Mas eu vejo que o crowd mudou.


[acima, Robson solto na vala de Camburi]

Os caras que são folgados mesmo, na minha visão, são os que não saem de lugar. O cara que só surfa naquela praia. Irmão, se o cara surfa só naquela praia, pode ter certeza que ele vai ser folgado. Vai vir, ficar dando voltinha e tal. Mas aquele cara que viaja, conhece outros lugares, ele sabe que tem que respeitar o cara que está chegando, deixar ele surfar. É igual no Havaí. No Havaí hoje em dia todo mundo pega onda. Você senta lá e espera, só isso. Você chega em Pipeline hoje e quantos tubos você não vê a galera fazendo? Antigamente não existia isso. O cara entrava e pô, pode ser o melhor cara do mundo, ou o melhor brasileiro, o cara ia entrar na água, sentar e não ia pegar onda. Hoje em dia mudou muito isso. Acho que a galera tá se respeitando muito no outside.

Você tinha comentado que você tava dando aula e tal… Que projeto que é e como que funciona isso? Desde quando você tá fazendo?
Começou há uns três anos, antes de eu fechar patrocínio com a South, com mais dois amigos o [Wenderson] Biludo e o Wellington Reis. A gente montou uma escolinha de surf pra poder voltar a competir. Foi onde a gente conseguiu ter uma verba. Cada um comprou uma prancha de soft e a gente ficava lá na praia em Camburi.

Mas agora já não é exatamente uma escolinha mais, certo? Qual é o público alvo?
É voltado pra quem já sabe surfar e quer evoluir no surf. Estou montando uma casa. Nessa casa vai ter um quarto onde a pessoa pode dormir se ela não tiver casa no litoral. Vai ter treino funcional duas vezes por mês, então se o cara não puder nesse final de semana ou naquele, a gente consegue rearranjar os horários. Vou passar todas as imagens do surfe em uma TV, explicar posicionamento e tal. No fim do curso de três meses tem um pendrive com todas as imagens que você vai fazer. O cara vai poder levar pra casa, analisar, ver o que tá fazendo de errado ou não. Tem uma coisa que a galera do surf que mora em São Paulo esquece um pouco, por exemplo, que é de flexionar os joelhos, e às vezes eu vejo que é por preguiça. Você precisa flexionar os joelhos. É uma coisa que vai te dar estabilidade, e a gravidade vai te puxar menos do que quando você dá a manobra e fica com as pernas meio esticadas. Mais abaixado, você vai ter mais equilíbrio em cima da prancha.

De um tempo pra cá, muito modelo de prancha entrou na moda, umas pranchas que são bonitinhas mas que a gente sabe que são bem específicas… Você transmite um pouco desse conhecimento sobre os tipos de prancha pros caras?
Tem uma galera que vem procurar informação. Muita gente que usa epóxi e acha que usando epóxi vai surfar em qualquer mar. A partir do momento que a pessoa começa a sentir a prancha, eu dou um toque. Tem cara que tem 80 quilos e quer surfar com a prancha do Filipe Toledo, que deve ter 74 no máximo. Eu falo: mano, não tem como. Você tem 80 quilos, o cara têm 70, você nunca vai conseguir surfar com a prancha dele. Tem que surfar com uma prancha para o peso de 80 quilos, a prancha mais grossinha.

E pelo que você vê das gerações mais novas, qual a relação deles com prancha? Da galera que já surfa bem mesmo.
Eu vejo a molecadinha mais nova… Eles tão crescendo e tão surfando com umas pranchas que, querendo ou não, estão muito estreitinhas, e o moleque já tá maior. Então você vê ele surfando com um surfezinho de criança. Você já virou profissional, não tem como ficar surfando com uma prancha dessa, precisa de uma um pouquinho mais larga, alguma coisa a mais de borda. Se ficar nessa, não vai evoluir, sempre vai faltar alguma coisa. Vai surfar na bateria e o juiz vai falar assim: “o cara surfa igual criança”. Não vai ter como. Porque vem um cara que surfa com uma prancha mais larga, mais grossa, e aparece muito mais a manobra. E aí ficam nessa de achar que estão puxando sardinha pro cara. Não, você que tá surfando com a prancha errada, totalmente errada.

Lançamento: Backyard, de Robson Santos

Quando? Quinta, 12/9, a partir das 19h
Onde? Boardworld, Rua Augusto Tolle 543, Santana (São Paulo-SP)
Música por DJ Nandez
Brindes por HC e Stance
Welcome drink garantido
Entrada: na faixa!

Lançamento de Backyard, com Robson Santos, dia 12/9 em São Paulo

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