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Bells desperta, Filipe arrebenta e Occy faz escola outra vez

Bells Beach tem bom dia de ondas antes de swell “épico”; Filipe faz melhor apresentação e Occy inspira vitórias para goofy-footers

Por Fernando Guimarães

Bells Beach começou, para valer, na madrugada desta quinta (25). Não é nem força de expressão: foi o primeiro dia da edição de 2019 da etapa mais tradicional do surfe realizado de fato no seu palco principal, e não no pico alternativo de Winkipop.

Em partes, é verdade. Quem surfou em Bells mesmo foram Kelly Slater, Julian Wilson, Peterson Crisanto, Michael Rodrigues, Tom Curren, Mark Occhiluppo e todas as 16 mulheres que disputaram a terceira rodada.

 

Foram elas que abriram o dia, com baterias simultâneas dentro da água aproveitando a intensidade das séries antes da troca de marés. Carissa Moore e Lakey Peterson demarcaram a diferença entre atuações decentes e atuações realmente boas — veja mais sobre isso aqui.

Talvez fosse inviável manter o sistema de dual heats com as séries cada vez mais espaçadas. Mas a troca para uma única bateria por vez dentro da água, com o começo da disputa masculina, transformou um campeonato dinâmico em um programa extremamente arrastado para o espectador comum.

Especialmente se um dos surfistas envolvidos na bateria praticamente não pega ondas, como foi o caso de Julian Wilson, na primeira bateria da terceira rodada entre os homens.

VEJA TAMBÉM: SWELL DE PESO SE APROXIMA E BELLS BEACH PODE TER FINAL ÉPICO

Em um forte contraste com a etapa da Gold Coast, onde foi tratado com indiferença pelo público na praia de Duranbah, Kelly Slater foi vivamente saudado pelo público conforme descia as escadas da área de competição para a praia.

No mínimo um importante empurrão para o 11x campeão mundial retomar sua tradicional e, por muitos anos, inabalável confiança. Pela primeira vez, Slater apresentou um surfe sólido com seu novo modelo de prancha, conectando com boa velocidade manobras agressivas nas paredes de Bells. Julian boiou, escolheu mal as ondas e foi eliminado. Após levar ao limite a disputa pelo título mundial de 2018, o australiano já tem dois descartes neste ano, dando indícios de que pode ser muito mais um franco atirador no restante da temporada do que real candidato ao troféu.

Peterson Crisanto e Michael Rodrigues ficaram sozinhos no line-up de Bells para a segunda bateria da rodada, e fizeram um duelo bem melhor, tecnicamente, do que Julian e Kelly.

Michael surfa com velocidade e tem bons golpes de frontside. Mas Peterson sabe melhor como lidar com uma direita longa e com vasta área para manobrar. A criação no point-break de Matinhos começa a render frutos ao Urso — nesse caso, uma vaga entre os 16 melhores de Bells.

Pausa no campeonato. As baterias seguintes irão para Winkipop, e enquanto a estrutura toda é transferida para lá, o público ganha um presente: a bateria especial entre Tom Curren e Mark Occhilupo.

Se você não tem ideia do que uma bateria entre Occy e Curren em Bells significa, imagine John John e Medina, daqui 30 anos, disputando uma bateria especial em Pipeline sem mais ninguém dentro da água.

No meio da bateria, Curren troca sua prancha por um skimboard com um pouco de espuma colada toscamente por cima pra dar flutuação. Não está tão interessado na vitória.

Occy acerta uma paulada imortal de backside, enterrando a prancha inteira na parede da onda como se estivéssemos ainda em 86. Ou em 99. Mas é 2019, e ainda valeria uns bons pontos. Uma prévia do que estava por vir.

O campeonato recomeça em Winkipop e Conner Coffin leva sobre Soli Bailey vantagem semelhante à de Peterson contra Michael.

Quando tudo indicava que Michel Bourez repetiria a sequência de vitórias do power surf, o fator Occy entra em ação. O goofy Ryan Callinan conseguiu agredir as ondas com mais verticalidade, mais pressão e mais fluidez que o taitiano.

Occy fazia e fez hoje, Italo fez no ano passado: aparentemente, tanto na cavada quando na manobra no topo da onda, o surfista que está de costas consegue ficar mais compacto, mais encolhido mesmo. Imprime mais velocidade, e sem comprometer o estilo. Em ondas mais cheias e lentas, é uma arma letal.

Adriano de Souza conseguiria equilibrar essa velocidade com a cavada, e talvez mais nenhum outro regular-footer do circuito atual.

Mas há outras armas, como a velocidade sobrenatural de Filipe Toledo.

Filipinho ainda foi pressionado por Caio Ibelli, que consegue encaixar muito bem a prancha nas paredes largas tanto de Bells quanto de Winkipop. Mas Filipe segue em seu próprio ritmo, assim como na primeira fase. Velocidade e fluidez fora da curva para fazer a melhor soma do dia entre os homens.

É o segundo dia que Filipe compete em Bells e o segundo dia em que é o melhor dentro da água.

Seth Moniz aplicou uma aula em Mikey Wright no duelo seguinte e promete um duelo intenso com o brasileiro nas oitavas.

Encerrando o dia, o convidado Jacob Willcox e o estreante Deivid Silva, que não deviam estar nas listas mais tradicionais de favoritos para Bells, mantiveram os 100% de vitórias para quem surfar com o pé direito na frente. Eles eliminaram Kolohe Andino e Wade Carmichael, respectivamente.

A vitória de Deivid foi sensacional.

Apesar de correr o QS há quase uma década, o surfista da Praia Branca cresceu longe do radar da mídia estrangeira. Gringos ainda caem no conto de estereotipar um surfista brasileiro que eles não conhecem e certamente não estavam preparados para a escovada de Deivid para cima do Chewbacca, ou Jesus de Avoca, como preferirem. Os comentaristas tinham todos Carmichael como um claro favorito e não tiveram como esconder o desconcerto com o resultado.

O dia de competição parou aí, mas ainda com gosto de palhinha perto do que está por vir.

Gabriel Medina e o franco-atirador Reef Heazlewood abrem o dia que promete ser o maior Bells em muitos e muitos anos, com séries de muitos e muitos pés (até 20, diz a previsão). Fique ligado.

Rip Curl Pro Bells Beach – resultados

1. Kelly Slater 11,84 x 7,20 Julian Wilson
2. Peterson Crisanto 11,97 x 11,67 Michael Rodrigues
3. Conner Coffin 13,43 x 11,83 Soli Bailey
4. Ryan Callinan 12,50 x 10,76 Michel Bourez
5. Filipe Toledo 14,50 x 13,07 Caio Ibelli
6. Seth Moniz 14,00 x 8,50 Mikey Wright
7. Jacob Willcox 13,24 x 12,20 Kolohe Andino
8. Deivid Silva 13,17 x 11,87 Wade Carmichael

Próximas baterias:

9. Gabriel Medina x Reef Heazlewood
10. Willian Cardoso x Yago Dora
11. Owen Wright x Ricardo Christie
12. John John Florence x Jadson André
13. Italo Ferreira x Jack Freestone
14. Ezekiel Lau x Jeremy Flores
15. Kanoa Igarashi x Adrian Buchan
16. Jordy Smith x Leo Fioravanti

Oitavas de final já definidas:

1. Kelly Slater x Peterson Crisanto
2. Conner Coffin x Ryan Callinan
3. Filipe Toledo x Seth Moniz
4. Jacob Willcox x Deivid Silva

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