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Matéria abaixo publicada na HARDCORE #314, edição histórica de janeiro/fevereiro
de 2016.
Texto Kevin Damasio
* Filme será lançado no site da HARDCORE no dia 18/01 *
Um filme protagonizado por grandes amigos de Ricardo dos Santos, feito por um parceiro de longa data do “Anjo da Guarda”. When Your Dream Speaks transpira o espírito de RDS — e não é à toa. “Sou eternamente grato a ele”, conta Bruno Zanin, filmmaker de 23 anos. “O cara abriu muitas portas para mim.” A produção foi premiada nos festivais Mimpi (Brasil) e SAL (Portugal) e estreia na internet em janeiro, no site da HARDCORE.
Zanin nasceu em Floripa e frequenta a Guarda do Embaú desde pequeno. Lá, conheceu Ricardinho, quem, dois anos atrás, botou pilha para Zanin se tornar filmmaker. Na sequência, o tube rider o colocou em duas surf trips pelo Canal Off, para Argentina e Uruguai.
Zanin continuou firme nas produções da emissora, enquanto gravava imagens para um filme, especialmente de Ricardo e Marco Giorgi. Até que a fatalidade com o catarinense aconteceu em 19 de janeiro de 2014. “Não achei justo continuar o projeto sem ele”, explica Zanin. Mas um sonho o fez perceber que, pela memória de Ricardinho, o certo seria reunir em uma barca Marco, Alex Chacon, Petterson Thomaz, Yago Dora, Franklin Serpa, Jean da Silva, Luel Felipe e Jessé Mendes para gravar na Indonésia — lugar pelo qual RDS mais se entusiasmava ao falar. Com a palavra, Bruno Zanin.

OS SONHOS
Em março, sonhei duas vezes com o Ricardinho. Em ambas, nós dois sabíamos que ele estava morto. Na primeira, eu estava no carro e do nada ele apareceu no banco de trás. Conversamos e de repente ele sumiu. Na segunda, a gente tomava um café, quando ele falou:
— E aí, como é que tá teu filme? A quantas anda?
— Pô, velho, tá foda, preciso fazer mais uma viagem com a raça, mas não tenho grana.
— Me fala quem é que tá no teu filme.
— Yago, Marco, Franklin, Jessé…
— Como assim não vai me colocar? Eu que te botei nessa e tu não vai me incluir nesse filme?
Eu acordei mal, arrepiado, 4 horas da manhã e não conseguia mais dormir. ‘Caralho, o cara tá falando comigo! Que loucura isso!’ Nessa época, eu estava sem trampo, sem dinheiro e não tinha planos de ir para a Indonésia. Em uma semana, o Canal Off me ligou. Os caras passaram para maio uma trip que seria só em junho, julho. Então, fiz um dinheiro bom. Depois uma empresa de turismo de Balneário precisava de alguém para filmar o Petterson Thomaz na Indonésia — um vídeo institucional de dois minutos. Em troca, me dariam uma passagem de dois meses. E então parei lá na Indo em junho e julho, e todo mundo abraçou a ideia do filme.
A MENSAGEM DOS SONHOS
Narrado pelo Alê Chacon, o texto do filme foi feito durante a gravação, baseado no que o Ricardo sempre falou pra gente. Ele era daquele jeito business, doido, personalidade ímpar, acelerado. Mas, quando dava conselhos de irmão, sempre falava sério. Fiz aquele texto com o Chacon para ter essa parte mais espiritual e deixar um pouco da mensagem que ele passava em vida: é possível encontrar e chegar ao lugar sonhado, não importa aonde seja.

A BARCA
Botei no filme toda essa galera que conheci por causa dele — gente que só soma. Não tenho como deixar de falar do Marco Giorgi. Fiquei impressionado com ele. Toda queda ele rendia muito. O cara estava impossível — aéreo, power, tubo! É um cara que é muito surf mesmo, que pilha todo mundo a sair bem cedo, conhece muita onda. Tem aquele feeling de procurar, descobrir, surfar sozinho. Aprendi muito com ele. Outro que fiquei de cara é o Franklin Serpa. O que ele fez em Kandui… Tubos bizarros! Os gringos perguntavam quem era, porque nunca tinham ouvido falar dele, e o cara já chegou confiante, botando pra baixo.
SWELL DO MUZZA
O tempo em Kandui, nas Mentawai, simbolizou nossa história. Era o “swell do século” na Indo, no fim de junho, e rolava a dúvida de para onde ir. O Marco e o Chacon tinham viagem fechada para o Timor Leste. O Jean se cuidava de um tímpano furado. Eu tinha mil dólares e sabia que, se fizesse a trip, não teria grana para continuar na Indo. Um HD externo do Ricardo está comigo, então comecei a ver as imagens dele em Kandui, botei umas músicas e caí num momento meu. Pensei: ‘Se o Ricardo tivesse aqui hoje, ele xingaria todo mundo por estarem pensando em não ir pra Kandui!’ Aí, liguei pra galera. O Franklin e o Petterson colaram na pousada; o Luel Felipe já estava a caminho; à tarde o Jean foi ao médico na Indonésia, que falou que seu tímpano estava perfeito, então correu para cá. As coisas foram se encaixando, todo mundo pensando que tinha que ir por ele.

Quando vi aquelas ondas, fiquei arrepiado. A câmera tremia na minha mão. Nunca tinha visto aquilo pessoalmente. Nas ondas que quebravam sozinhas, eu conseguia ver perfeitamente o bicho [Ricardinho] surfando. Três dias de surf bizarro, em memória a Ricardo, pensando na vibe que seria estar com ele. Foi um swell que no primeiro dia tinha 30 pessoas surfando. No segundo, 15. No terceiro, cinco. Todo mundo era massacrado, mas da nossa galera ninguém se machucou. Deu tudo certo. Voltei sem dinheiro, mas consegui fazer algum com as imagens de lá e comer até o final da viagem.
SEÇÃO RDS
Não tinha como deixar o Ricardinho de fora, por tudo que ele fez por mim. O cara transformou meu sonho em realidade. As suas imagens em Kandui foram na trip em que ele se tacou sozinho por dois dias. Foram cedidas pelo Alex, da Guarda e dono da pousada de lá — as usei num vídeo em homenagem ao Ricardo, depois que ele faleceu. Guardei uma imagem de lifestyle dele, abrindo os braços, para usar no futuro — era muito especial. No filme tudo se encaixou. Já fui pra filmar sabendo as músicas que usaria, com tudo montado na cabeça. “O cara vai fechar o filme com chave de ouro, porque ele merece.”