Um ambicioso projeto de construção de um muro marítimo em Uluwatu, na Indonésia, tem gerado grande preocupação entre surfistas e ambientalistas. A obra, que tem como objetivo proteger o histórico Templo Pura Luhur Uluwatu, pode causar impactos irreversíveis ao ecossistema local e às famosas ondas da região.
A revista australiana Stab revelou detalhes do projeto, que inclui um muro de concreto ao redor da base dos penhascos de Uluwatu. A iniciativa, orçada em cerca de US$ 5 milhões, foi aprovada pelo governo de Badung e as obras devem ser concluídas até o final de 2024.
O principal argumento para a construção do muro é a proteção do Templo Pura Luhur Uluwatu, cuja estrutura foi comprometida por rachaduras no penhasco após um terremoto em 1992. No entanto, críticos argumentam que a escala e a natureza do projeto são excessivas e podem causar danos irreparáveis ao meio ambiente.
Um vídeo gerado por inteligência artificial revelou os planos para a construção do muro, além de uma estrada de concreto ao longo dos penhascos de Uluwatu. O vídeo, que rapidamente ganhou muitas visualizações, causou uma onda de indignação entre os locais e a comunidade global de surf. “Ninguém sabia que isso estava acontecendo. Enviei o vídeo para meus amigos, e todos ficaram chocados”, disse uma fonte local à revista australiana Stab, pedindo anonimato.
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Nos comentários da publicação, o onze vezes campeão mundial Kelly Slater, também manifestou seu descontentamento com a construção. “Que desastre. Vai arruinar tudo. Façam o governo trabalhar em coisas que realmente ajudem seu povo. Isso certamente causaria mais danos do que resolveria”, comentou Slater.
Segundo outra fonte, Uluwatu tem estado praticamente sem sistemas de água doce por anos, com apenas leitos de rios secos e mortos na área. Consequentemente, toda a água potável precisa ser transportada por caminhões em estradas que já estão superlotadas.
Outra preocupação é que o muro proposto pode afetar negativamente o recife local, que é um importante berçário para diversas espécies marinhas, incluindo peixe-boi e tubarões. “Estamos todos em choque e em luto. Parece que há muito pouco que se possa fazer a essa altura”, lamentou uma fonte à mídia australiana Stab.
Diante do contexto, um dos receios entre os moradores locais é de que o projeto esteja sendo apresentado sob o pretexto de preservação cultural para mascarar interesses de desenvolvimento que beneficiam apenas alguns.
“É uma questão muito sensível porque estão usando o argumento religioso e cultural de forma muito intensa”, disse uma fonte que mora na área, que também pediu para permanecer anônima. “Neste caso, se você se opuser à proposta, estará se opondo aos objetivos culturais de Bali. Uluwatu faz parte de uma vila chamada Desa Pecatu, que é a vila mais rica de Bali. Muitos políticos e funcionários vivem nesta vila, e todos eles têm ligações com o governo mais amplo de Bali. Isso lhes dá poder para executar coisas como essa. Há muitos locais dentro da vila que não concordam com o desenvolvimento, mas se eles falarem, dá a impressão de que estão atacando sua cultura e religião. Eles seriam marginalizados e excluídos pelos líderes de sua comunidade”.
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Apesar da necessidade de proteger o Templo Pura Luhur Uluwatu, a construção do muro marítimo levanta sérias questões sobre os impactos ambientais e sociais do projeto. A participação ativa da comunidade e a realização de estudos ambientais aprofundados são essenciais para garantir que alternativas sustentáveis sejam exploradas e que o ecossistema local não seja comprometido. É crucial que o processo de desenvolvimento inclua um debate transparente e a consideração de soluções que respeitem tanto a cultura local quanto o meio ambiente.