O segundo dia do Taça Brasil 10.000 de Torres, última e decisiva etapa do circuito de acesso à elite nacional, o Dream Tour, foi marcado pela estreia dos cabeças de chave no masculino e resultados importantes para o ranking. O evento, patrocinado pela Freesurf, é realizado pela Confederação Brasileira de Surf (CBSurf) em parceria com a Federação Gaúcha de Surf (FGS), a Prefeitura de Torres e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
O vento sul e a chegada de um novo swell tornaram o mar mexido e picado, mas as ondas ganharam força ao longo do dia, favorecendo os atletas acostumados a surfar nessas condições difíceis. O vento sul também fez a alegria de surfistas que aproveitam as condições para mandar aéreos de frontside para a esquerda. No entanto, a chuva intensa, que foi aumentando ao longo do dia com , levou à interrupção da competição antes do previsto, com a realização de 22 das 24 baterias da 2ª fase masculina.
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A terça-feira também foi dia de eliminações de surfistas da parte de cima do ranking, como Pedro Dib, Israel Junior e Daniel Templar que estão no Top-16. Além de nomes de peso internacional, como Peterson Crisanto, ex-integrante da elite mundial, e Lucas Vicente, campeão mundial Pro Junior, que deram adeus à competição, mostrando o alto nível técnico e a imprevisibilidade desta etapa. Ao mesmo tempo, vitórias importantes movimentaram a disputa pelas vagas no Dream Tour 2025 e pelo título do circuito.
A etapa, que encerra o circuito Taça Brasil, define os campeões do ano e os classificados para o Dream Tour, a elite do surfe nacional. Cada bateria tem um peso enorme para os competidores, já que o ranking final é composto pelos quatro melhores resultados de cada atleta nas dez etapas do ano.
DESTAQUES DO DIA: DOUGLAS SILVA DOMINA O MAR MEXIDO
O grande destaque do dia foi o pernambucano Douglas Silva com o maior somatório do dia, 15.93, mais que o dobro do segundo colocado na sua bateria. Ele também registrou a maior nota do campeonato até agora, um expressivo 8.43, mostrando que está em excelente fase.
“Hoje consegui fazer uma boa bateria, apesar das condições difíceis no mar. Eu gosto de competir nesse tipo de condição porque sei que, se vier a onda certa, dá pra eu fazer meu surfe e ter mais controle da bateria. Lá em Maracaípe, onde eu surfo, é vento o ano inteiro. A gente pega muito vento sul. Então estamos super habituados a surfar em mar mexido, com corrente e vento. Acredito que os nordestinos se sobressaem nesse tipo de mar porque é o que estamos acostumados. Entrei tranquilo, bem amarradão mesmo, cumprimentei todo mundo e fui focado em fazer meu trabalho. Graças a Deus, deu certo. Achei duas ondas boas, fiz um 7 e um 8.5. Agora é manter o foco, um degrau de cada vez,” explicou Douglas Silva.
Ele também destacou a importância do vento para mandar seus aéreos de frontside, que não eram favorecidos na competição da semana anterior em Torres, o Taça Brasil 5.000.
“Rapaz, vou te falar que desde ontem, quando pisei na praia e vi a bandeira apontando o vento sul, já pensei: ‘Graças a Deus, meu irmão, o vento mudou!’ É o que mais gosto para mandar aéreo de frontside. Então hoje eu já entrei pensando: vou fazer duas ondas e depois partir pros aéreos. Quando peguei aquela esquerda, vi o lip perfeito e pensei: ‘É agora!’ Já tinha minhas ondas, então arrisquei e deu certo. Espero que o vento continue assim a semana toda, porque vai ser show!”
Atualmente na 3ª colocação do Dream Tour, Douglas está usando a etapa em Torres como preparação para o evento final do circuito, que acontece no Rio de Janeiro. Seu objetivo é o título de campeão brasileiro.
MATEUS SENA TAMBÉM VOA
Quem também ficou feliz com o vento sul foi Mateus Sena, que avançou com o único somatório que chegou próximo ao Douglas, um 14.50, incluindo um high score de 8.00 pontos. O potiguar, também acostumado a esse tipo de condição, aproveitou o vento para explorar seu repertório de aéreos e mostrou confiança ao longo de sua bateria.
“Hoje soltou aquele ventinho sul que a gente gosta e, apesar das condições difíceis, consegui fazer uma boa bateria. O início foi meio devagar pra todo mundo, porque tava complicado achar as ondas lá dentro. Comecei com uma nota 5, depois fiz um 6 que me deu mais tranquilidade, e no final veio uma onda melhor. Fiz um 8 ali e fiquei felizão,” comentou Mateus.
Mateus, que está fora da zona de classificação do Dream Tour, busca garantir sua vaga na elite nacional pelo ranking do Taça Brasil. Atualmente em 15º lugar, ele está trocando 1.800 pontos do seu quarto melhor resultado e pode melhorar ainda mais sua pontuação caso avance mais uma fase na competição.
“Na real, tô tentando trazer o surfe do dia a dia pra dentro das baterias. Sempre falo isso com meu pai. Nosso treino e rotina fora d’água também entram na bateria. É o conjunto de tudo, sabe? Essa bateria eu comecei um pouco nervoso, mas fui controlando isso e consegui soltar o surfe. É um aprendizado constante. Nessa última onda, acho que cabia até a melhor nota do dia, mas tô muito feliz com o que fiz. Foi um dos melhores momentos do campeonato pra mim.”
Após viver um dos melhores momentos da carreira em 2022, com vitórias importantes, incluindo o título brasileiro profissional e o Panamericano, Mateus enfrentou uma fase difícil em 2023. Agora, ele está focado em retomar o ritmo e continuar evoluindo.
“2022 foi o melhor ano da minha vida como profissional, mas 2023 já começou com uma pancada. Fiquei fora do Challenger por uma ou duas baterias, o que mexeu bastante comigo. Mas tudo é um processo. Quem vive o propósito precisa suportar o processo, e eu tô suportando. Ainda não tô na minha melhor versão, mas tô construindo ela dia após dia, batalha por batalha. São essas pequenas lutas do dia a dia que fazem a gente vir aqui e vencer a guerra no campeonato. Agora tô amarradão de estar de volta, porque sei que, quando entro na água, a galera fica na expectativa. E poder voltar a mostrar meu surfe é bom demais, gratificante demais,” concluiu Mateus.
LÍDERES DO CIRCUITO SEGUEM FIRMES NA DISPUTA
Entre os candidatos ao título do circuito Taça Brasil, o líder Luan Ferreyra e o vice-líder Ryan Kainalo avançaram, mas com histórias diferentes. Luan Ferreyra, de Pernambuco, venceu sua bateria com tranquilidade, somando 11.16 pontos, e destacou a felicidade com as condições do dia:
“Quando vi a previsão de vento sul no domingo, já fiquei animado, porque gosto muito de dar aéreo pra esquerda. Apesar das poucas oportunidades, consegui aproveitar bem as ondas que vieram. Agora é foco total!”
Já Ryan Kainalo teve mais dificuldades, avançando em segundo lugar com um somatório modesto de 7.80. Mesmo assim, o paulista segue na briga pelo título e pela sonhada classificação ao Dream Tour.
HIGHLIGHTS DO DIA
PRÓXIMA CHAMADA
Na quarta-feira a primeira chamada acontece às 8h30, com possível início às 9h. O cronograma prevê a conclusão das duas baterias restantes da 2ª fase masculina, seguido pelas seis baterias da 2ª fase feminina e pela 3ª fase masculina, com 12 baterias programadas.
A previsão é de mar grande e potente, mas com vento maral, o que pode trazer condições ainda mais difíceis amanhã.
TRANSMISSÃO – O Taça Brasil 10.000 em Torres, Rio Grande do Sul, é transmitido ao vivo pelo canal CBSurfPLAY e no site cbsurf.org.br.