No último final de semana, 10 surfistas foram presos pela Polícia Militar na Zona Sul do Rio de Janeiro por descumprirem um decreto estadual que proíbe a frequência de pessoas em praias, lagoas e rios do Estado.
Ironicamente, nesse mesmo final de semana, centenas de pessoas também circulavam pelos calçadões dos dois bairros. Muitas delas sem máscaras, enquanto os surfistas eram encaminhados para os carros da PM.
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Um deles foi o aposentado Celso Riera, 59 anos, que foi gerente do Banco do Brasil durante 33 anos de sua vida.
Surfista amador, Riera foi preso na manhã de sábado (16) após ser flagrado surfando na Praia do Leblon, em frente à Rua Aristides Espínola, sozinho.
Ele argumentou aos policiais que pegou apenas duas ondas e que não ouviu os apitos por usar protetores auriculares.
“De nada adiantou contar minha história aos policiais militares. Há cerca de um ano eu caí do pico de uma onda e bate na base com uma das orelhas. Teve o tímpano perfurado. Desde então, uso protetores auriculares. Eu não ouvi os apitos. Peguei apenas duas ondas e saí rapidamente quando vi os acenos dos policiais. Conversei com eles mas não teve jeito. Tive que deixar minha prancha no posto 12 para ir a 14ª DP (Leblon), onde assinei um termo circunstanciado por infração de medida preventiva,” comentou.
Segundo ele, ao chegar à 14ª DP, encontrou um jovem surfista de 18 anos que fora preso minutos antes no mesmo lugar.
“Era um jovem que mora na Califórnia onde estuda e que está no Rio de Janeiro por causa da pandemia. Estava inconformado com a prisão. Logo depois chegou um outro surfista também preso. Meu sentimento hoje é de que houve uma injustiça, uma incoerência, já que as regras não estão muito claras. Havia muita gente circulando no calçadão das praias e nada acontecia com eles,” desabafou o surfista.
POSTURA INCOERENTE
Enquanto esportistas eram presos na Zona Sul, nas praias da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes a prática do esporte no fim de semana foi intensa.
O presidente da Associação de Surfe da Barra da Tijuca, Milton Waksman, comentou que é muito difícil para a Polícia Militar fiscalizar duas praias tão grandes.
“É humanamente impossível que policiais militares consigam fiscalizar quilômetros e quilômetros de praias. Por isso, no fim de semana, muitos surfistas entraram na água sem serem incomodados,” analisou.
O surfista Juarez Oliveira, de 59 anos, surfa eventualmente na Barra da Tijuca em frente ao Posto 5 da Barra da Tijuca. Neste domingo, segundo ele, foi abordado por uma policial militar e deixou o mar prontamente.
“As pessoas estão conscientizadas, ninguém fica mais aglomerado. Tem espaço suficiente na Barra para todo mundo. Queria que fizesse um laudo para mostrar que o mar contamina as pessoas. Eu e meu filho, por exemplo, surfamos com máscaras de lycra, que são impermeáveis.”
SURFISTAS CONSTRANGIDOS
Presidente da Federação de Surfe do Estado do Rio de Janeiro, Guilherme Aguiar, comentou que os surfistas estão sendo constrangidos. E que é preciso uma regra clara para esta atividade.
“Há duas semanas, 10 pessoas foram presas em São Conrado e outras duas no Arpoador. Gostaria que houvesse uma análise em relação à prática de surf. Vários esportes como ciclismo e corridas estão liberados. Sabemos que precisamos respeitar a lei. Mas é preciso haver bom senso,” comentou.
Segundo o comando do 23ºBPM (Leblon), nas praias em que a unidade atua, no sábado (16), sete pessoas foram conduzidas para a delegacia e, no domingo, uma pessoa foi conduzida. Já o comando do 19ºBPM (Copacabana) informou que duas pessoas foram encaminhadas para a delegacia, uma no sábado (16/5) e a outra no domingo (17/5). Os dois casos aconteceram na Avenida Atlântica.