A violência contra a mulher é um grave problema social que se manifesta de diversas formas, incluindo agressão física, psicológica, sexual, patrimonial e moral e para tratar deste tema a Federação de Surf do Estado de São Paulo realizou o I Encontro Online de Surf Feminino da SPSurf, por meio da Diretoria de Surf Feminino.
O encontro foi comandado pela advogada e surfista Maria Carolina Fornazari Golla, a Keiks, que reuniu na noite da última segunda-feira (17/04), um grupo de mulheres, desde personalidades do mundo do surf feminino e membros de associações, para tentar captar uma visão mais construtiva das questões da violência contra a mulher no cenário do surf paulista.
Estiveram presentes neste primeiro encontro, além de Keiks, a fotógrafa da SPSurf, Mayra Ziober, a representante da Surf House Girls, Patricia Marins, da Projeto Série Delas, Fabiana Rodrigues Tuffi, a advogada da OAB Guarujá, Luisa Abreu, a integrante da Associação Feminina de Surf de Bertioga, Ana Carolina Moura Dellaretti, a organizadora do Festival Sul-americano de Longboard e membro da Escola Longboardbellas, Isabela Panza e a proprietária da Sicrupt, Tatiana da Mata.
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Essas oito mulheres debateram por quase uma hora questões relacionadas à violência contra a mulher durante ou devido à prática do surf. “Foi um encontro muito rico, todas tiveram falas e essas mulheres agora são multiplicadoras das questões abordadas e das conclusões deste primeiro encontro”, destacou Keiks.
O grande gatilho desse I Encontro foi o caso ocorrido com a surfista Sara Taylor, agredida durante e após uma sessão de surf em Bali, na Indonésia, pelo brasileiro JP Azevedo. Caso que despertou diversos sentimentos em todas as surfistas do encontro, trazendo lembranças de situações de violência no surf iguais ou parecidas.
Logo de início chegamos a triste e real conclusão de que a violência no surf contra as mulheres é notória e ocorre por todo o litoral do Estado de São Paulo. Foi unânime que todas já haviam passado por algum tipo de violência no surf, e o pior, mais de uma vez. Seja essa violência física, verbal, psicológica e até casos de extorsão.
Patricia Marins, da Surf House Girls, chegou a desabafar em um momento do encontro. “A gente não tá ali pra fazer firula, pra paquerar ou pra tomar sol… A gente tá ali pra surfar!”, disse, mostrando que a mulher deve ser respeitada em todos os ambientes. “As mulheres procuram na prática do surf um lugar de acolhimento, às vezes é o que procuram pra se curar de outros traumas e como forma de terapia, e acabam encontrando uma cultura machista e violenta“, completou Tati da Mata, da Sicrupt.
Tendo em vista que, por diversas vezes, outras pessoas não se envolvem para protegerem, defenderem ou apartarem casos de violência no surf. As participantes até sugerem a possibilidade de orientar guarda-vidas nas praias a notificarem, relatarem e quem sabe até intervirem em casos como o de Sara.
Houve também relatos de casos de mulheres e mães que buscam escolinhas de surf com professoras mulheres por medo de violências e principalmente de assédio. Constatou-se também a escassez dessas profissionais no mercado.
Também se discutiu o porquê dessa escassez, e foi constatado, segundo as participantes do encontro, que o localismo e o machismo são grandes motivos. Inclusive levantaram situações em que mulheres professoras de surf são constantemente intimidadas, expulsas e sofrem até casos de extorsão para que se permita sua presença nas praias. E o que vem ao encontro desta constatação são as escolas de surf estarem sempre sob o comando de homens no Estado de São Paulo e até em outros locais do país, se não for total, em sua grande maioria.
A falta de empatia e simpatia entre as mulheres também foi uma grande questão levantada, surgindo ideias e até mesmo a necessidade de campanhas coletivas de respeito às mulheres e entre as mulheres no mar.
Todas as participantes desabafaram e também manifestaram a falta do sentimento e cultura “good vibes” e de diversão no surf, e da perda dessa essência no esporte.
“Chegamos a uma conclusão de que, ainda que se denuncie tais violências, não estamos seguras. E daí o silêncio das mulheres perante tais acontecimentos. Constatamos a grande dificuldade em denunciar, tendo em vista que muitas que tentaram na Delegacia da Mulher, tiveram negativa, porque a violência no surf não é reconhecida pela Delegacia, apenas a violência doméstica e, são encaminhadas para Delegacias não especializadas. Por isso, muitas se sentem intimidadas, constrangidas e não acolhidas. Fora o medo de represálias pelos agressores no dia a dia enquanto o poder público não se manifesta“, ressaltou Keiks.
É importante que as vítimas recebam apoio emocional e psicológico, além de proteção legal e medidas efetivas de segurança. A prevenção da violência também passa pela conscientização da sociedade sobre os direitos das mulheres e a necessidade de combater atitudes machistas e violentas.
É fundamental que a sociedade se mobilize para enfrentar a violência contra a mulher e que cada um de nós faça a sua parte para construir um mundo mais justo e igualitário para todas as pessoas. A união e o respeito das mulheres e dos homens surfistas é essencial para a mudança desse cenário de violência nas praias.