Considerada a “Bíblia do Surf”, a revista norte-americana Surfer anunciou que irá publicar sua última edição impressa no mês de outubro.
A Surfer, que existe desde 1962, é testemunha ocular da evolução do surf moderno, contudo, nos últimos anos dava sinais de perda de fôlego.
A chamada “crise do jornalismo impresso”, que levou diversas revistas a fecharem as portas ou migrarem totalmente para as plataformas digitais, também atingira a “Bíblia do Surf”, que, no entanto, ainda mantinha sua versão impressa em quatro edições anuais.
Em 2019, a National Enquirer, empresa proprietária da revista Surfer, entre outros títulos, foi adquirida pelo grupo American Media que, então, cancelou algumas revistas.
Porém, manteve a Surfer, mas em tiragem reduzida e com a demissão de parte da equipe.
Com a crise econômica gerada pela Covid-19, havia rumores de que a “Bíblia do Surf” poderia, de fato, tornar-se totalmente digital.
Semana passada, essa hipótese se concretizou com o anúncio de Todd Prodanovich, editor da Surfer, confirmando a última edição impressa para o mês de outubro.
Posicionamento político e polêmica em meio ao fim da “Bíblia do Surf”.
O anúncio do fim da Surfer, contudo, ocorreu na sequência de uma postagem bastante polêmica da marca através de seu perfil no Instagram.
Nos EUA, ao contrário do Brasil, é comum que jornalistas e veículos de mídia declarem abertamente seu posicionamento político.
Contudo, as revistas de surf não adotavam essa prática. Até então…
Em primeiro de outubro, a Surfer rompeu com essa tradição e fez um post de apoio à candidatura de Joe Biden, apresentando a seguinte justificativa:
“Manter a política fora do surf é um jargão comum nas redes sociais atualmente. Mas o fato é que decisões tomadas na esfera política têm enorme influência sobre nossas vidas, no surf e na saúde de nossas costas. Conforme o tempo para evitar piores resultados com relação à mudança climática diminui, importante, mais do que nunca, votar como se o futuro do surf dependesse disso.
Por isso, pela primeira vez na história de 60 anos da Surfer, estamos apoiando uma chapa presidencial. Clique no link da bio e leia porque os surfistas devem votar em Joe Biden…”
https://www.instagram.com/p/CF0HtjuBZKE/
Coincidência ou não, um dia após a postagem, toda equipe da Surfer foi demitida, bem como o anúncio de sua última edição impressa em outubro.
Ademais, o fato de David Pecker, ex CEO da AM e membro do conselho executivo, apoiar Donald Trump, fortaleceu a hipótese de represália.
Contudo, o próprio Todd Prodanovich veio a público esclarecer que o fim da revista nada tinha a ver com seu posicionamento político:
“Toda a equipe da Surfer foi dispensada ontem (não tem nada a ver com o apoio à Biden, apenas a economia afetada pela Covid)”, escreveu.
https://www.instagram.com/p/CF440_0nPwj/
Mas, polêmicas à parte, o fim da Surfer é uma notícia particularmente triste para toda comunidade do surf.
Fim de um legado
Fundada pelo fotógrafo John Severson, a revista ganhou o apelido de “Bíblia do Surf” por sua importância na história do surf moderno.
A Surfer foi a primeira mídia especializada nesse segmento da história e abriu caminhos para a criação de um mercado até então inexistente.
Sua última capa traz uma imagem simbólica da manifestação em apoio ao movimento “Black Lives Matter” feita por surfistas em Encinitas, Califórnia.
De acordo com Todd, a edição trará uma matéria escrita por ele sobre a comunidade LGBTQ+ do surf (outro tabu deste esporte).