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Surf Expo, na Flórida, busca agitar o mercado em meio a crise geral

Entrevistamos o brasileiro Fernando “Tachinha” Meirelles, agente esportivo e consultor de marketing, para saber o que ele viu de positivo na maior feira de surf do planeta.

Nos tempos áureos da indústria do surfwear, eram várias as feiras de negócio focadas num mercado que parecia não ter limite de crescimento. Mas tinha, a maré mudou e, dos tempos de bonança, chegou-se ao atual momento de incertezas, com as grandes marcas cada vez menos relevantes e as novas buscando entender quem é o público com quem deve conversar. Nesse cenário de dificuldades, a Surf Expo, feira de surf realizada duas vezes ao ano em Orlando, na Flórida, e que contou com mais de 700 expositores na edição que aconteceu essa semana, segue oferecendo a oportunidade para que a comunidade do surf se reúna em busca de caminhos para sair da crise que se abateu sobre o mercado.

Para entender um pouco melhor como foi e a importância da Surf Expo, pegamos carona na visita de um brasileiro residente na Califórnia que conhece muito do mercado de surf. Conversamos com Fernando “Tachinha” Meirelles, agente esportivo e consultor de marketing e negócios para marcas do segmento, que tem entre seus clientes o surfista Rookie of The Year do CT, Ian Gentil, o número um do QS Europeu, Tiago Carrique, o atual campeão Jr. da região Asia, morador de Bali, Kian Martin, e a revelação de Malibu, Alberto Barzan.

Surf Expo
Tachinha (à dir.) ao lado do brasileiro Marcio Zouvi no stand da Shap Eye. Foto: Arquivo pessoal

Tachinha é surfista fissurado desde os cinco anos de idade e foi capa de revista de skate com nove anos de idade. Com quase 30 anos de mercado de esportes de ação, teve seu início atuando em mídia, colaborando com o Disk Surf Reporter, Jornal Primeiramão e Revista Trip. Na sequência enveredou pelo campo das produções de vídeo, atendendo marcas como Rip Curl, Hawaiian Dreams, Sportv, Multishow, ESPN. Apresentador de programas de esportes radicais no período que antecedeu a era digital, em 2006 mudou-se para os Estados Unidos buscando novas oportunidades e se profissionalizar como paraquedista, atividade na qual foi patrocinado pelas maiores e melhores marcas do segmento.

Em seguida assumiu o marketing da Vans no Brasil, sendo premiado por duas vezes pela matriz californiana como melhor time de marketing. Da Vans, seguiu mais uma vez para os Estados Unidos, dessa vez para a Zumiez, para ocupar o posto de marketing manager na maior varejista de esportes de ação do mundo, com mais de 800 lojas globais, oito mil funcionários e faturamento anual de um bilhão de dólares, entre América do Norte, Europa e Austrália. Mas o clima hostil, chuvoso e frio, de Seattle, no estado de Washington, onde fica a sede da Zumiez, fez com que Tachinha deixasse a marca, almejando buscar o sol e o sonho de finalmente residir na Califórnia, onde está baseado hoje.

Hardcore – Você sempre visita as duas edições anuais da Surf Expo?

Tachinha – Sempre que possível visito a Surf Expo. A primeira edição que participei foi em 2014, completando agora 10 anos. Nesse meio tempo já participei e visitei diferentes feiras por aqui em diferentes capacidades. Até alguns anos atrás, a “Agenda” era a mais interessante, descolada e focada no segmento “Action Sports”. 

É uma visita profissional? Qual o seu interesse principal? 

Sim, é uma visita com interesse profissional. Realizo algumas funções quando visito feiras, desde conexões para meus atletas e clientes, contatos para expansão de negócios e estar por dentro das tendências de moda e mercado.

Surf Expo
Entre as marcas novas chamado a atenção na Surf Expo, estão a Former, de Dane Reynolds, e a Florence Marine, do John John, que tem Pat O’Connell como CEO. Reynolds e O’Connell, na foto com Tachinha. Foto: Arquivo pessoal

A indústria do surfwear passa por um momento de crise, o que gera potencial pra renovação. A crise é perceptível na feira? Quais as grandes ausências entre marcas de surf? Quais as que estão fazendo barulho e despertando atenção?

Existem diversas maneiras de como se medir o tamanho e volume do mercado, em particular o “core”, com marcas destinadas para a prática e performance, e o de “lifestyle”, com marcas de “passeio”, que por sua vez incluem a moda praia. Portanto é um assunto amplo e sensível, que me faltaria espaço aqui para apontar. Para quem tiver interesse e quiser saber mais, recomendo uma coluna que escrevi anos atrás sobre o mercado: ”O Surfwear está se afogando. Chame o salva-vidas!”.

Alguns gostam de dizer que o mercado e a moda são cíclicos, porém dentre as oscilações de curto prazo, a macro análise é que o volume hoje de negócios para o “core” é bem inferior ao do passado, consideravelmente. Porém existem marcas que atendem diferentes segmentos do mercado, daí surgem as discussões e o porquê das vendas e licenciamentos das marcas grandes, hoje presentes nos grandes varejistas. Quando falo “grandes” varejistas, digo imensos, dentre Costco, Target, Walmart, Amazon, e grupos de liquidação como TJX, enfim é um volume exorbitante. Dentro da feira a minha constatação é que, mesmo sendo ainda muito grande, houve uma mudança e diminuição do segmento “core” e hoje uma grande participação de marcas e negócios menores e populares, visando volume. Nesta edição da Surf Expo, que é focada para o verão que ainda está por vir aqui no hemisfério norte, é comum ter ausência de algumas marcas, que voltam para edição de setembro, focadas nos lançamentos para o ano seguinte. Mas para citar algumas que não estiveram presentes, as empresas do grupo Boardriders que foi recém vendido para ABG (Authentic Brands Group), entre elas, Quiksilver, Billabong, Roxy e RVCA, a qual também já tinha comprado a Volcom, e outros “players”, como Hurley (Bluestar), entre outras. Mas ainda estão presentes grandes marcas, como Rip Curl, Oakley, Lost, Rusty, G-Shock, e as grandes marcas de pranchas, Channel Islands, Sharp Eye, Mayhem, etc.

Para Tachinha, a Surf Expo vai além dos negócios. É também uma oportunidade para solidificar as amizades, algumas delas com ídolos como CJ Hobgood e Britt Merrick. Foto: Arquivo pessoal

Dentre as marcas que estão ganhando “market share” presentes na feira, com a pegada “soul surfing”, a Rythm que atende lojas com uma curadoria especial e é uma marca muito bacana, e a icônica Katin, de Huntington Beach, que tem nosso ídolo, o brasileiro Victor Bernardo, como um dos principais atletas. A Roark que abraçou uma pegada “exploradora”, caminho que as grandes marcas parecem ter deixado para trás. Outras com o perfil “indie”, independentes, como a Former, do Dane Reynolds, Craig Anderson e do skatista Austin Gillette, e a Rivia, do ex-top do CT, o australiano Julian Wilson. O stand mais legal que eu vi foi o da marca de protetores solar (e cosméticos) Sunbum, quem tem um clima bacana, jogos e um dos principais Djs de reggae e dub da cena local, Kolcha Shok Muzik.

Num momento em que muitos patrocínios de surfistas profissionais estão sendo cancelados, é possível notar a presença deles na feira buscando contatos e oportunidades? 

Sim, com a diminuição de volume no “core”, a queda no investimento no ativo principal das marcas, que são os surfistas, é notável, infelizmente.

Brsileira Medina Softboards marcando presença na Surf Expo. Foto: Arquivo pessoal

O que você viu de mais legal na feira? Comparando com as feiras de anos atrás, no auge da indústria do surfwear, quais as principais diferenças? Tamanho da feira e número de expositores? Atmosfera? Mais equipamento menos confecção?

Poucas inovações, mas bacana ver novas marcas e a pegada “soul” e “fun” do surf ainda viva.

O Brasil tem alguma participação na feira? Vale a visita para empresários e atletas brasileiros? 

Sim, a Sharp Eye, do shaper Marcio Zouvi, está presente, e a Havaianas, ambas com stands bem movimentados. Existem ainda algumas poucas marcas de calçados de fabricação no Brasil na feira, entre elas a sandálias Ipanema, do grupo Grendene.

Para atletas brasileiros, provavelmente os eventos nacionais ainda são o melhor caminho, já para os de relevância e atuação internacional, eles têm seus respectivos agentes que desempenham esse papel. Para os empresários, sem dúvidas, acho sempre válido a troca de ideias, observar tendências de mercado e seu rumo. Fora isso, após todos esses anos fiz diversos amigos, é sempre um prazer dar um abraço e conversar. Outrora ídolos como CJ Hobgood, a frente do time da Salty Crew, e o shaper Britt Merrick, da Channel Island, hoje “companheiros” de mercado. Afinal, o maior presente que o surf nos dá são as amizades.

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