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Samuel Igo: “As pessoas acham que por ser indígena não posso ter celular”

Na semana em que protestos indígenas contra a aprovação do projeto de lei sobre o marco temporal, Samuel Igo tem sido uma voz quase solitária no meio do surf brasileiro a se manifestar contra a medida.

Não por acaso, Samuel descende da etnia Potiguara e pode ser o primeiro representante dos povos originários a competir na elite mundial do surf.

No passado, as populações indígenas habitavam toda a costa brasileira e possuíam uma ligação profunda com o mar, mas após 500 anos desde o início da ocupação portuguesa, os Potiguara se tornaram uma exceção à regra, conseguindo se manter em um pequeno trecho do litoral da Paraíba.

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Foi lá que Samuel Igo começou a surfar por influência do pai. Ele conta que um dia seu pai saiu para pescar e, despretensiosamente, o pequeno potiguara pegou sua prancha para cair na água, dali em diante nunca mais parou. Incentivado pela sua família, Samuel descobriu este dom natural que se transformou em profissão e hoje escreve a história da sua vida.

Samuel Igo
Samuel Igo é conhecido pelo surf que une progressividade e power. Foto: Damangar / CBSurf

Contudo, o atleta paraibano mudou-se com a família para o Rio de Janeiro muito cedo e acabou perdendo alguns traços das suas origens indígenas. “Não tive contato com os costumes, mas sempre me interessei pelo tema. No Rio participei de um projeto social chamado Viva Surf, e o responsável do projeto, sempre que tinha a oportunidade, me orientava sobre quem eu era e falava da importância de cultivar este meu lado. Então sempre tive orgulho de quem sou, mas graças a essa pessoa pude me tornar mais consciente. Hoje vivo um momento de retomada, de reconexão com o meu povo. Busco vivenciar e aprender mais sobre a minha história e transformar toda essa história em algo mais presente em minha vida”, conta.

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Samuel pede sempre orientações ao seu pai e sua avó, que entendem sobre os costumes, religião e histórias do passado. “É através deles que tomo conhecimento de pontos importantes da minha história. Sempre uso essa conexão a meu favor, busco sempre propagar e manifestar a cultura do meu povo. Quando escuto algo positivo ou negativo, gosto de me posicionar. Vivo um esporte que ainda sofre preconceitos e também um povo que é menosprezado, então a batalha é grande. As pessoas acham que por ser indígena não posso ter celular, ter coisas materiais, ter sonhos. Busco fazer com que as pessoas entendam que nós indígenas podemos estar onde bem quisermos, vai do que cada um almeja”, conta.

Samuel Igo
“Vivo um esporte que ainda sofre preconceitos e também um povo que é menosprezado, então a batalha é grande”. Foto: Ana Catarina

Samuel agora segue focado no Dream Tour, o Circuito Brasileiro de Surf. Na primeira etapa finalizou sua participação em 18º, já na taça Brasil ele conquistou a 3ª colocação na abertura do circuito. Ele também ainda busca um espaço no challenge series, circuito de acesso da WSL para o championship tour, sonhando em competir entre os melhores surfistas do mundo. “Acredito que tenho condições mentais e físicas de estar entre os melhores. Então estou muito focado nos meus objetivos, sempre buscando evoluir”.

Quem já viu Samuel Igo em ação, sabe que talento não lhe falta para alcançar esse objetivo.

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