Após disponibilizar por conta própria dez Shark Bite Kits de primeiros socorros para ataque de tubarão, o surfista australiano Danny Schouten recebeu um apoio tão grande da comunidade que a iniciativa está tomando proporções surpreendentes . Ele fez um post no Instagram sobre o projeto e recebeu “1.200 curtidas e centenas de comentários, todos positivos”.
A notícia de que um surfista de Port Macquarie havia criado um kit para ser deixado na praia à disposição para qualquer um que se envolvesse numa emergência com tubarões viralizou na Austrália. Logo após a rádio Triple M passar a divulgar a iniciativa de Danny, a ABC News fez uma matéria com ele e o Rotary Club local entrou em contato, propondo levar a distribuição de seus kits para um patamar que ele nunca imaginou.
Danny Schouten, à esquerda na foto, tomou a iniciativa de disponibilizar os kits após o ataque de tubarão que resultou na perda da perna de seu grande amigo Kai McKenzie, à direita, em julho passado. Foi graças a uma coleira de cachorro improvisada como torniquete que Kai teve sua vida salva.
“Inicialmente, eu só queria ajudar minha comunidade local”, declarou Danny, “mas agora tenho todas essas pessoas de fora da minha área dizendo que querem um”. Comovido com o ataque de tubarão que custou a perna de seu bom amigo Kai McKenzie, em julho passado, ele se inspirou nos Angels Rings, ou Anéis de Anjos, boias fixadas a um poste, deixadas em locais remotos frequentados por pescadores, para caso um deles seja arrastado pelo mar.
Existem 130 deles na costa de Nova Gales do Sul, 50 na costa do Oeste da Austrália, assim como em algumas localidades de Victoria e na Tasmânia. O primeiro Angel Ring foi instalado em 1992 em Moes Rock, perto de Jervis Bay. Lá, um pai enlutado decidiu fornecer um dispositivo de segurança depois que seu filho morreu pescando no mesmo local. Um ano depois, o Anel do Anjo foi usado para salvar a vida de outro pescador arrastado para o mar. A perda de uma vida resultou na preservação de outra.
No caso de Kai McKenzie, que estava surfando na costa norte de Port Macquarie quando foi atacado por um tubarão, ele teve muita sorte que a única pessoa na praia era um policial aposentado passeando com seu cachorro. A coleira do cachorro foi transformada em um torniquete que salvou a vida de Kai, apesar de sua perna ter sido perdida.
O Shark Bite Kit é um pacote pequeno, à prova d’água e relativamente barato – estimativa atual em torno de U$60 dólares australianos – que inclui tudo o que alguém que testemunhe um ataque de tubarão possa precisar para tentar salvar a vida da vítima. O kit contém torniquete, curativos grandes, bandagem compressiva, luvas e apito para chamar a atenção durante o atendimento. O objetivo imediato é estancar o sangramento e acalmar a vítima.
O material de primeiro socorros mantido a salvo dentro dos kits é de fácil manejo e um folheto explica de forma simples como uma pessoa leiga deve proceder
Os salva-vidas contratados pelo município têm seus próprios kits de ataque de tubarão e sabem como usá-los, mas o problema que Danny teve que resolver é que os surfistas, assim como os pescadores de pedras, procuram locais afastados, longe das multidões. Quando algo acontece, há poucas pessoas para ajudar e muitas vezes elas não são qualificadas.
Por esse motivo, os kits Shark Bite também incluem um cartão de instruções básicas. Como explica Danny, “se alguém está estressado, não vai querer ler um manual completo sobre como controlar o sangramento. Eles precisam de instruções simples e eficazes.” O primeiro kit foi para North Shore Beach, o local do ataque de Kai. O que Danny não imaginava é que sua ação seria tão bem recebida.
Ao mesmo tempo em que está gratificado pela resposta da comunidade, Danny ficou sem saber como prosseguir após toda a repercussão, e viu que agora precisa de um plano mais elaborado. “Se o Rotary se envolver, serão centenas, talvez milhares, de kits”, diz Danny.
Não é uma tarefa impossível, mas em vez de adquirir materiais em lojas varejistas, ele terá que encontrar um atacadista e também terá que levar em consideração seu próprio tempo gasto no projeto. Depois, há a implementação e a manutenção contínua em uma ampla rede.
Danny tem conversado também com várias associações, clubes de pranchas de toda a Austrália, além de indivíduos que desejam seus próprios kits. “Algumas pessoas perguntam: ‘Como posso comprar um de você?’”, diz Danny, que involuntariamente expôs uma lacuna no mercado. “Tem sido uma resposta esmagadora.”
Danny ainda não sabe qual será o próximo passo, mas acha que o lançamento dos Shark Bite Kits envolverá patrocínio: um indivíduo, pessoa ou clube, para pagar pelo kit, instalá-lo e mantê-lo caso o kit precise ser substituído ou atualizado. Em trinta anos, os Angel Rings foram usados 90 vezes para resgatar pescadores feridos. O número de mortes evitadas é desconhecido, mas com estatísticas como esta a sua eficácia é inquestionável.
Tal como os pescadores de rochas, nenhum surfista vai praticar sua atividade preferida esperando precisar ser resgatado, mas, se isso acontecer, um Shark Bite Kit disponível na praia pode ser a diferença entre a vida e a morte.
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