Quem se interessa pela história do surf sabe que a canoa polinésia tem uma forte relação com a cultura havaiana.
Foi no Havaí que o surf, da maneira que o conhecemos, surgiu e os havaianos mantém uma relação muito forte entre a ação de pegar ondas e a canoagem, afinal, não fosse pelas canoas, eles jamais alcançariam as ilhas mais distantes do Pacífico, séculos antes dos europeus.
Hoje, a canoa polinésia, também conhecida como “canoa havaiana”, vem crescendo em popularidade no Brasil, com a realização de eventos, como o Aloha Spírit Festival, capaz de atrair centenas de pessoas.
Com isso, alguns surfistas brasileiros estão descobrindo um dos segredos do vigor físico dos havaianos: remar de canoa polinésia!
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Os benefícios mais claros são a conexão com o oceano e o espírito de equipe que esse esporte oferece, sendo uma excelente opção de cross training. Porém, a Hardcore foi atrás de um profissional de Educação Física, especialista em ambas as modalidades, para explicar aos nossos leitores porque todo surfista deve experimentar a canoa polinésia. Confira:
Por que todo surfista deve experimentar a canoa polinésia?
Por Paulo Vasco*
Como surfista, atleta de canoa havaiana e profissional de educação física, posso adiantar que remar de canoa promove mais benefícios no condicionamento físico para o surfista do que o contrário.
Em relação a cultura náutica, ambos os esportes, se beneficiam com a prática das modalidades em relação a leitura de onda e mar, como também na tomada de decisões eventuais e na conexão com o oceano.
No treinamento desportivo seguimos alguns princípios, o atleta profissional necessita aperfeiçoar, lapidar a técnica e potencializar sua performance. No caso de um atleta profissional, ambas as modalidades precisam ser treinadas com muito afinco e especificidades.
Apesar da biodinâmica dos esportes serem diferentes, eles podem se complementar no âmbito motor, neuromuscular e cardiovascular, ou seja, potencializa a habilidade motora, que é muito exigida no surf e contribui na melhora do condicionamento cardiovascular e respiratório, aumentando o que chamamos de VO2 máximo (capacidade de captar, utilizar o oxigênio como substrato energético) pois, quanto maior o VO2, melhor será a condição física deste atleta.
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No quesito neuromuscular, a canoa solicita grupamentos musculoesqueléticos bem próximos dos solicitados no surf, como os músculos posteriores das costas, flexores do tronco, braços e abdome. Devido a posição que o indivíduo fica na canoa, o trabalho de pernas não será tão solicitado, já no surf as pernas são fundamentais para realização de manobras radicais e explosivas.
Vale ressaltar que, estar no mar para um surfista é muito gratificante e a canoa havaiana é uma excelente ferramenta de treino naquela temporada que não tem onda, assim, o surfista continua conectado com mar e exercitando grupos musculares que também são solicitados no surf. No meu caso foi exatamente assim, o meu interesse por esportes a remo aconteceu na baixa temporada de surf aqui no Ceará.
Segundo Meneghello (2020), em seu livro intitulado Raiz, a canoa foi onde tudo começou, com pequenas navegações e o próprio ato de deslizar sobre as ondas. A canoa é mais que uma embarcação, ela retrata histórias místicas, religiosas e culturais dos povos litorâneos e dos esportes náuticos.
*Profº Paulo Vasco é Mestre em Ciências Médicas, Doutorando em Ciências Morfofuncionais, Personal Trainer e Especialista em Biomedicina do Esporte. CREF 4350-G