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Patagonia transfere 100% de seus fundos ao combate às mudanças climáticas

Patagonia, fabricante de roupas outdoor, fundada em 1973 por Yvon Chouinard e administrada pela família Chouinard desde sua criação, anunciou na última quarta-feira (14) que a empresa se reestruturou, com o controle do negócio transferido para duas novas entidades privadas: um fundo especial e a ONG Holdfast Collective, ambas dedicadas a combater as mudanças climáticas.

A decisão de abrir mão da fortuna da família combina totalmente com a personalidade de Chouinard, que sempre detestou seguir as regras do mundo dos negócios, e dedicou a vida a causas ambientais.

Espero que a minha decisão leve à criação de uma nova forma de capitalismo, que não termine com um pequeno grupo de bilionários e milhões de pessoas na pobreza”, disse em entrevista o jornal New York Times. “Vamos doar a quantidade máxima de dinheiro para as pessoas que estão trabalhando ativamente para salvar o planeta.”

Com efeito imediato, 100% dos ganhos da Patagonia não reinvestidos no negócio serão distribuídos ao Holdfast Collective, que usará o dinheiro para combater as mudanças climáticas. A empresa há anos doa 1% de suas vendas para causas ambientais, mas essa mudança deve aumentar drasticamente esse número. O desembolso de caridade da nova empresa será de aproximadamente US$ 100 milhões por ano.

Ryan Gellert, atual CEO da empresa, permanecerá no cargo como executivo-chefe, e a família Chouinard manterá forte envolvimento, participando do conselho da empresa, orientando a confiança que detém o capital votante e supervisionando os esforços filantrópicos do Holdfast Collective. A sede da empresa permanecerá em Ventura, Califórnia.

Criando um novo modelo corporativo

Patagonia
QG da Patagonia em Ventura, Califórnia, onde a empresa está sediada desde sua fundação. Foto: Kyle Sparks / Outside USA.

Chouinard, 83 anos, começou a planejar a reestruturação corporativa há dois anos. Procurando uma maneira de aumentar o impacto positivo da empresa no meio ambiente e cada vez mais inquieto com seu status de bilionário, ele começou a explorar opções para se desfazer do negócio que fundou como uma pequena família que vendia equipamentos de escalada e se tornou um marca global avaliada em cerca de US$ 3 bilhões. Seu pensamento seguiu o caminho que ele tem trilhado há anos: contrariando as tendências corporativas convencionais e redefinindo o que os empreendedores são capazes de fazer quando usam seus negócios como ferramentas sociais.

Em agosto, a família transferiu de forma irreversível 2% da Patagonia para uma nova entidade chamada de Patagonia Purpose Trust. O fundo, que será supervisionado por membros da família e seus conselheiros, terá a missão de garantir que a Patagonia cumpra com sua promessa de se manter um negócio socialmente responsável. A família terá que pagar US$ 17,5 milhões em impostos pela doação.

A família doou os restantes 98% da empresa para uma organização não-governamental chamada Holdfast Collective, que receberá todos os lucros e usará os recursos para combater as mudanças climáticas.

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Uma opção era vender a Patagônia e doar todo o dinheiro”, escreveu ele em um comunicado. “Mas não podíamos ter certeza de que um novo proprietário manteria nossos valores ou manteria nossa equipe de pessoas em todo o mundo empregadas. Outro caminho foi tornar a empresa pública. Que desastre teria sido. Mesmo empresas públicas com boas intenções estão sob muita pressão para gerar ganhos de curto prazo em detrimento da vitalidade e responsabilidade de longo prazo. Verdade seja dita, não havia boas opções disponíveis. Então, criamos a nossa.

Gellert e uma pequena equipe de executivos da Patagônia foram encarregados de criar o novo modelo de negócios. Sob a capa de um codinome do projeto – Chacabuco, uma referência a um local de pesca no Chile – eles começaram a pensar em soluções em meados de 2020. Além de vender a empresa ou torná-la pública, as propostas incluíam transformá-la em uma cooperativa sem fins lucrativos ou de propriedade de funcionários, como a REI. Eventualmente, eles desembarcaram no plano atual.

“Dois anos atrás, a família Chouinard desafiou alguns de nós a desenvolver uma nova estrutura com dois objetivos centrais”, escreveu Gellert no comunicado. “Eles queriam que nós tanto protegêssemos o propósito do negócio e liberássemos imediata e perpetuamente mais fundos para combater a crise ambiental. Acreditamos que esta nova estrutura atende a ambos.”

Chefe de comunicações e políticas públicas da Patagonia, Corley Kenna, disse esperar que o Holdfast Collective distribua seus fundos de maneiras amplas e variadas: em doações a organizações que abordam as causas da crise climática, investimentos em proteção de terras e água e apoio a uma política ambiental mais forte.

Para uma dica do tipo de defesa agressiva que a Patagonia provavelmente seguirá, Kenna pediu às pessoas que lembrem que esta é a mesma marca que convocou sua comunidade no movimento “Vote the Assholes Out” durante o governo Trump e se juntou a grupos de de protestos em Utah contra a mesma administração pelo encolhimento do Monumento Nacional Bears Ears.

A Patagonia já doou US$ 50 milhões para a Holdfast Coolective, e espera aportar mais US$ 100 milhões neste ano. Para Dan Mosley, parceiro do banco BDT & Co., a história é única. “Em meus 30 anos lidando com propriedades, nunca vi nada parecido com o que eles fizeram. É um compromisso absoluto. Eles não podem reaver a empresa.”

Mas, para Yvon Chourinard, a decisão foi algo bem simples e satisfatória. “Eu não sabia o que fazer com a companhia porque eu nunca quis ter um negócio”, disse ao NYT. “Não queria ser um homem de negócios. Agora posso morrer feliz, porque sei que a companhia vai continuar fazendo a coisa certa nos próximos 50 anos, sem que eu precise estar perto.”

Quem é Yvon Chouinard

Patagonia
von Chouinard é dono da Patagonia desde que fundou a empresa em 1973. Foto: Campbell Brewer / Outside USA

O norte-americano Yvon Chouinard é um dos empresários bem-sucedidos mais incomuns do mundo. Como escalador e aventureiro, ele colaborou com a evolução dos equipamentos de escalada, principalmente nas décadas de 1960 e 1970.

Aventureiro de alma e despretensioso, foi de montanhista largadão a um dos mais importantes investidores do ramo outdoor. É claro que nada é por acaso, no entanto, Yvon nunca abandou o estilo simples de levar a vida.

O fundador da marca Patagonia já escreveu o livro Lições de Um Empresário Rebelde, publicado no Brasil em 2015 pela editora Rocky Mountain, e estrelou o filme 180º South.

Algumas pessoas até o comparam a um filósofo porque, principalmente nessas duas obras, Yvon soltou pérolas inesquecíveis, que apesar de singelas, levam qualquer um a repensar a vida e refletir sobre a realidade do planeta.

A seguir, separamos algumas de suas citações mais impactantes.

– “Voltar para um modo de vida mais simples, com base na autossuficiência ao invés do excesso, não é um passo para trás.”

– “Aventura real é definida melhor como uma viagem da qual você pode não voltar vivo – e certamente não a mesma pessoa.”

– “… a maioria dos danos que causamos ao planeta é resultado de nossa própria ignorância.”

– “Quanto mais você sabe, menos você precisa.”

– “Eu conheci um monte de jovens que me perguntaram quais livros ler ou filmes assistir. Eu acho que é um bom jeito de começar, mas não nada substitui o ‘estar lá’.”

– “O mal não é necessariamente um ato evidente; ele pode ser simplesmente a ausência do bem. Se você tem habilidade, recursos e a oportunidade de fazer o bem e não faz, isso pode ser considerado mau.”

– “Você aperfeiçoa um esporte quando faz tudo o que ele proporciona utilizando menos coisas. A escalada mais impressionante do Everest foi daquele cara sueco que pedalou de Estocolmo a Kathmandu, solou o Everest e depois voltou de bicicleta para a Suécia. Isso é legal, ao contrário desse negócio multinacional que virou a escalada, com computadores e cafés com internet na base do Everest.” (Em referência ao sueco Göran Kropp)

– “O objetivo de grandes escaladas em montanhas perigosas deveria ser algum tipo de crescimento espiritual e pessoal, mas isso não vai existir se você não se comprometer com todo o processo.”

– “Se você quiser mesmo entender o empreendedor, estude o delinquente juvenil. O delinquente está dizendo com suas ações, ‘Isso é péssimo, vou fazer do meu jeito’.”

– “Estamos interessados em consumidores que precisam de nossas roupas, e não os que apenas as desejam.”

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